A
virtude da serenidade
Pedro J. Bondaczuk
O presidente norte-americano George Bush, embora não
tenha o charme do antecessor, Ronald Reagan, e tenha iniciado de forma
claudicante a sua gestão, vem fazendo um bom governo até aqui, surpreendendo
adversários e até correligionários, que não esperavam grande coisa da sua
atuação.
Com serenidade e com prudência, ele vem enfrentando,
de cabeça fria, as crises surgidas nos quase oito meses de sua administração, e
que não foram poucas. Político experiente que é, e muito bem assessorado por um
gabinete escolhido a dedo, o mandatário tem evitado fazer declarações
bombásticas, ou apressadas, ou impensadas, dessas movidas por impulsos. E, no
plano das ações, estas já começam a aparecer em profusão, tanto no âmbito interno,
quanto no externo.
No primeiro caso, pode ser mencionado, por exemplo,
seu programa de combate à poluição. Ou o referente à luta contra o
narcotráfico. Ou, então, a preocupação com a decadência na educação nos Estados
Unidos. Externamente, fez quatro viagens internacionais e, embora sem o mesmo
brilho que seu colega soviético, Mikhail Gorbachev, foi, inegavelmente, bem
sucedido em seus contatos diplomáticos. Isso ocorreu, em especial, nas suas
recentes passagens pela Polônia e pela Hungria.
Bush não tem o carisma de Reagan, disso não há
dúvida. Não desperta controvérsias e nem polêmicas. Para os menos informados,
aparenta, até, que não está fazendo nada. Mas trabalha, e muito. E de forma
silenciosa, longe das câmeras de televisão ou das concorridas entrevistas
coletivas de imprensa, tão ao gosto de seu antecessor.
Confessamos, da nossa parte, que estamos
agradavelmente surpresos com a sua administração. E essa avaliação positiva não
é somente nossa, mas de comentaristas muito mais experientes, inclusive de um
reputado jornalista, ligado ao jornal do governo soviético, o “Izvéstia”, que
se desmanchou em elogios à atual equipe da Casa Branca, em um artigo, que foi
publicado ontem.
Bush lançou água fria na fervura de questões
bastante delicadas, como a dos “contras” da Nicarágua; como a do Afeganistão e
como a de tantas outras crises. E a forma com que vem encarando o caso dos
reféns no Líbano, especialmente após o anunciado enforcamento do
tenente-coronel William Higgins, é, simplesmente, exemplar.
Esse sopro de racionalidade na direção das duas
superpotências renova nossas esperanças de solução dos monumentais problemas do
nosso tempo, como o perigo nuclear, a devastação ambiental, o narcotráfico, a
pandemia de Aids, a dívida externa do Terceiro Mundo e o crescente
empobrecimento de cerca de dois terços da humanidade, entre tantas outras
questões.
Para encarar fatos desse tipo, é indispensável que
aqueles que possuem o real poder de decisão sejam, sobretudo, equilibrados. E
Bush e Gorbachev, felizmente, parecem ter esse desejável senso de
equilíbrio.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de agosto de 1989)
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