Tuesday, June 07, 2016

A virtude da serenidade



Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano George Bush, embora não tenha o charme do antecessor, Ronald Reagan, e tenha iniciado de forma claudicante a sua gestão, vem fazendo um bom governo até aqui, surpreendendo adversários e até correligionários, que não esperavam grande coisa da sua atuação.

Com serenidade e com prudência, ele vem enfrentando, de cabeça fria, as crises surgidas nos quase oito meses de sua administração, e que não foram poucas. Político experiente que é, e muito bem assessorado por um gabinete escolhido a dedo, o mandatário tem evitado fazer declarações bombásticas, ou apressadas, ou impensadas, dessas movidas por impulsos. E, no plano das ações, estas já começam a aparecer em profusão, tanto no âmbito interno, quanto no externo.

No primeiro caso, pode ser mencionado, por exemplo, seu programa de combate à poluição. Ou o referente à luta contra o narcotráfico. Ou, então, a preocupação com a decadência na educação nos Estados Unidos. Externamente, fez quatro viagens internacionais e, embora sem o mesmo brilho que seu colega soviético, Mikhail Gorbachev, foi, inegavelmente, bem sucedido em seus contatos diplomáticos. Isso ocorreu, em especial, nas suas recentes passagens pela Polônia e pela Hungria.

Bush não tem o carisma de Reagan, disso não há dúvida. Não desperta controvérsias e nem polêmicas. Para os menos informados, aparenta, até, que não está fazendo nada. Mas trabalha, e muito. E de forma silenciosa, longe das câmeras de televisão ou das concorridas entrevistas coletivas de imprensa, tão ao gosto de seu antecessor.

Confessamos, da nossa parte, que estamos agradavelmente surpresos com a sua administração. E essa avaliação positiva não é somente nossa, mas de comentaristas muito mais experientes, inclusive de um reputado jornalista, ligado ao jornal do governo soviético, o “Izvéstia”, que se desmanchou em elogios à atual equipe da Casa Branca, em um artigo, que foi publicado ontem.

Bush lançou água fria na fervura de questões bastante delicadas, como a dos “contras” da Nicarágua; como a do Afeganistão e como a de tantas outras crises. E a forma com que vem encarando o caso dos reféns no Líbano, especialmente após o anunciado enforcamento do tenente-coronel William Higgins, é, simplesmente, exemplar.

Esse sopro de racionalidade na direção das duas superpotências renova nossas esperanças de solução dos monumentais problemas do nosso tempo, como o perigo nuclear, a devastação ambiental, o narcotráfico, a pandemia de Aids, a dívida externa do Terceiro Mundo e o crescente empobrecimento de cerca de dois terços da humanidade, entre tantas outras questões.

Para encarar fatos desse tipo, é indispensável que aqueles que possuem o real poder de decisão sejam, sobretudo, equilibrados. E Bush e Gorbachev, felizmente, parecem ter esse desejável senso de equilíbrio.        

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 3 de agosto de 1989)


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