Gênero
subestimado
Pedro J. Bondaczuk
Olá, amigos escritores,
saudações. Os autores teatrais (apesar do teatro haver sido o precursor da
literatura de ficção) são, via de regra, subestimados, quando se fazem as
relações dos grandes clássicos da Literatura mundial.
Quem perde tempo com esses
controvertidos e inúteis rankings, quase sempre se esquece dos grandes mestres do
texto teatral. E isso também funciona (estranhamente) na hora de se atribuírem
os grandes prêmios literários, como o Nobel,
o Goncourt e o Book Prize, por exemplo.
Para ressaltar a grandeza, o
talento e a importância desses escritores, porém, sequer é necessário remontar
à Grécia Antiga e citar as figuras maiúsculas de Ésquilo, Sófocles, Eurípides,
Aristófanes e tantos outros. E nem ao teatro romano, com Plauto, Terêncio e
Sêneca. Nem nos remetermos aos clássicos franceses do gênero, como Corneille, Racine
e, sobretudo Jean Baptiste Poquelin, o inefável Moliere, pseudônimo com o qual
se consagrou. Nem mesmo é preciso citar os monstros sagrados ingleses, como
William Shakespeare, Christopher Marlowe, Thomas Nashe ou Ben Jonson.
Temos, hoje, uma infinidade de
ótimos autores, abastecendo tanto o teatro (quer na Broadway quer em outro
lugar qualquer do mundo), quanto o cinema (Hollywood, sobretudo) de excelentes
textos, trazendo à baila, aos amantes da boa dramaturgia, o homem e a vida em
toda a sua grandeza e miséria. No entanto...
Nas relações semanais de livros
mais vendidos, não há um único do gênero (salvo raríssimas e honrosas
exceções). Se não me equivoquei nas contas, apenas cinco autores teatrais foram
premiados com o Nobel desde a criação desse prêmio: o irlandês George Bernard
Shaw (em 1925), o italiano Luigi Pirandello (em 1934), o norte-americano Eugene
O’Neil (em 1936), o também irlandês Samuel Beckett (em 1969) e o inglês Harold
Pinter (2005). É, como se vê, pouco, muito pouco para a importância do gênero.
Entendo que se trate de ridícula subestimação.
Está mais do que na hora dos
responsáveis pela atribuição desses prêmios olharem com mais carinho e atenção
para esses escritores, que mantêm a tradição de qualidade da boa literatura que
vem desde milênios, da visão e da criatividade dos notáveis gregos.
Da minha parte, já me aventurei a
escrever uma peça teatral e sei, por experiência própria, do quanto de talento,
de cultura e de observação essa tarefa exige. É um desafio que poucos estão
habilitados a enfrentar com êxito.
Claro que não produzi nenhum
“Romeu e Julieta”, longe disso. Escrevi, na verdade, um dramazinho, que em
certos momentos descamba para a comédia, ou mais precisamente para o patético,
se não para o picaresco. Tinha três atos apenas e foi representado por um grupo
de teatro amador, de um tradicional colégio da Grande São Paulo, em que
estudei. Achei a tarefa tão complexa, que nunca mais me aventurei a repeti-la.
O texto final, confesso, saiu
completamente descaracterizado, bem diferente do primeiro esboço. Manteve-se
intacta, apenas, sua espinha dorsal, o enredo. Quase todos os diálogos tiveram
que ser adaptados, a partir do primeiro ensaio, porque os originais não tinham
naturalidade e soavam a discursos, assim como os figurinos e os cenários.
O que eu havia proposto,
originalmente, mostrou-se inviável de ser trasladado para o palco. Meu respeito
pelos autores de textos teatrais, que já era grande, multiplicou-se por um
bilhão, depois dessa tentativa fascinante, mas única. Concluí que essa “não é a
minha praia”. Contudo entendo que o bom escritor deve experimentar se expressar
em todos os gêneros, antes de definir, de vez, o que ache que deva utilizar
para produzir sua tão sonhada e planejada “obra-prima”
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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