Thursday, June 30, 2016

Gênero subestimado

Pedro J. Bondaczuk

Olá, amigos escritores, saudações. Os autores teatrais (apesar do teatro haver sido o precursor da literatura de ficção) são, via de regra, subestimados, quando se fazem as relações dos grandes clássicos da Literatura mundial.

Quem perde tempo com esses controvertidos e inúteis rankings, quase sempre se esquece dos grandes mestres do texto teatral. E isso também funciona (estranhamente) na hora de se atribuírem os grandes prêmios literários, como o Nobel,  o Goncourt e o Book Prize, por exemplo.

Para ressaltar a grandeza, o talento e a importância desses escritores, porém, sequer é necessário remontar à Grécia Antiga e citar as figuras maiúsculas de Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Aristófanes e tantos outros. E nem ao teatro romano, com Plauto, Terêncio e Sêneca. Nem nos remetermos aos clássicos franceses do gênero, como Corneille, Racine e, sobretudo Jean Baptiste Poquelin, o inefável Moliere, pseudônimo com o qual se consagrou. Nem mesmo é preciso citar os monstros sagrados ingleses, como William Shakespeare, Christopher Marlowe, Thomas Nashe ou Ben Jonson.

Temos, hoje, uma infinidade de ótimos autores, abastecendo tanto o teatro (quer na Broadway quer em outro lugar qualquer do mundo), quanto o cinema (Hollywood, sobretudo) de excelentes textos, trazendo à baila, aos amantes da boa dramaturgia, o homem e a vida em toda a sua grandeza e miséria. No entanto...

Nas relações semanais de livros mais vendidos, não há um único do gênero (salvo raríssimas e honrosas exceções). Se não me equivoquei nas contas, apenas cinco autores teatrais foram premiados com o Nobel desde a criação desse prêmio: o irlandês George Bernard Shaw (em 1925), o italiano Luigi Pirandello (em 1934), o norte-americano Eugene O’Neil (em 1936), o também irlandês Samuel Beckett (em 1969) e o inglês Harold Pinter (2005). É, como se vê, pouco, muito pouco para a importância do gênero. Entendo que se trate de ridícula subestimação.

Está mais do que na hora dos responsáveis pela atribuição desses prêmios olharem com mais carinho e atenção para esses escritores, que mantêm a tradição de qualidade da boa literatura que vem desde milênios, da visão e da criatividade dos notáveis gregos.

Da minha parte, já me aventurei a escrever uma peça teatral e sei, por experiência própria, do quanto de talento, de cultura e de observação essa tarefa exige. É um desafio que poucos estão habilitados a enfrentar com êxito.

Claro que não produzi nenhum “Romeu e Julieta”, longe disso. Escrevi, na verdade, um dramazinho, que em certos momentos descamba para a comédia, ou mais precisamente para o patético, se não para o picaresco. Tinha três atos apenas e foi representado por um grupo de teatro amador, de um tradicional colégio da Grande São Paulo, em que estudei. Achei a tarefa tão complexa, que nunca mais me aventurei a repeti-la.

O texto final, confesso, saiu completamente descaracterizado, bem diferente do primeiro esboço. Manteve-se intacta, apenas, sua espinha dorsal, o enredo. Quase todos os diálogos tiveram que ser adaptados, a partir do primeiro ensaio, porque os originais não tinham naturalidade e soavam a discursos, assim como os figurinos e os cenários.


O que eu havia proposto, originalmente, mostrou-se inviável de ser trasladado para o palco. Meu respeito pelos autores de textos teatrais, que já era grande, multiplicou-se por um bilhão, depois dessa tentativa fascinante, mas única. Concluí que essa “não é a minha praia”. Contudo entendo que o bom escritor deve experimentar se expressar em todos os gêneros, antes de definir, de vez, o que ache que deva utilizar para produzir sua tão sonhada e planejada “obra-prima”

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.

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