Tuesday, June 28, 2016

Formas de narrar

Pedro J. Bondaczuk

Há três formas básicas de se narrar uma história, não importa o gênero escolhido – se conto, romance ou novela –, cada uma delas com várias nuances, claro, de acordo com o estilo de cada escritor. Numa delas, o narrador coloca-se na posição de personagem principal. A narrativa, neste caso, é toda feita na primeira pessoa.

É utilizada, em geral, nos enredos caracterizados pela ação. Cada personagem revela sua personalidade e suas motivações nos diálogos e, sobretudo, agindo. A utilização dessa maneira de contar a história confere-lhe mais dinamismo. Como leitor, é a minha preferida. Já como escritor... Sinto-me limitado e tenho dificuldades de apresentar os protagonistas da forma exata como os imaginei.

Na segunda forma de narrar, o escritor também assume o papel de personagem, contudo secundário. Não é, pois, o principal protagonista. É uma espécie de testemunha da história, embora envolvido nela. Participa dela, mas o foco não está sobre si. Embora a utilize, não o faço com a mesma freqüência das outras duas.

E qual é a terceira? Confesso que é a minha preferida. É a que tem o narrador como uma espécie de ser sobrenatural, onipresente e onisciente, tanto que penetra até na mente dos protagonistas e relata, em pormenores, ao leitor, até seus pensamentos e sentimentos mais secretos e impenetráveis.

“Comanda”, portanto, os participantes do enredo, como se estes fossem bonecos de marionetes, que só agem quando manipulados através de cordões. Creio que é a forma de narrar que dá mais conforto ao narrador. Permite-lhe escrever histórias mais densas, com maior conteúdo, em que cada ação é justificada pela respectiva motivação.

Tem o inconveniente, porém, de tornar os textos mais massudos, muito explicativos, do que muita gente não gosta. O leitor menos atento, por exemplo, aquele que se preocupa basicamente com a ação, em geral foge de livros que tenham esta forma de narrar.

Embora, reitero, eu prefira esta terceira opção, tenho me utilizado de todas as três, de acordo com as circunstâncias (e, claro, caprichos). Afinal, o enredo é meu, sai da minha imaginação e me reservo, portanto, o direito de narrá-lo como melhor me aprouver. E pago, evidentemente, o preço da minha escolha, caso não seja habilidoso o suficiente para me utilizar de outros artifícios, não importa quais, que prendam o leitor ao andamento da narrativa. Como faço isso? Esse é o “pulo do gato” que a onça não pode saber!

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