Wednesday, June 29, 2016

Signo do medo



Pedro J. Bondaczuk


A população campineira vive sob o signo do medo, dado o aumento explosivo da violência urbana que se verificou na cidade no correr de 1997 (até domingo passado, por exemplo, o número de homicídios já havia chegado a 317, média de um por dia).

O fenômeno, frise-se, não se restringe a Campinas e costuma ser cíclico. Aliás, o tema costuma vir à baila com maior freqüência em vésperas de eleições, o que faz supor que sua exacerbação é do interesse de determinadas correntes políticas, não muito comprometidas com os direitos humanos.

Isto não quer dizer, no entanto, que a violência seja apenas uma fantasia de algumas pessoas ou grupos, dispostos a explorar o medo da população para atingir seus objetivos (quase nunca claros ou nobres). As estatísticas estão aí para comprovar que de fato houve um dramático aumento da criminalidade na cidade.

Para reverter esse quadro de insegurança, que ameaça a integridade física e o patrimônio dos cidadãos – senão a curto, pelo menos em médio prazo – é necessária uma mobilização geral, no sentido de se detectar as causas desse fenômeno (que são várias e complexas), e de se estabelecer estratégias de prevenção.

As várias campanhas de desarmamento são um dos caminhos indicados. Mas só elas não bastam. Faz-se indispensável uma ação mais firme das autoridades, apurando e localizando os principais focos de criminalidade e combatendo sem tréguas as quadrilhas de traficantes e de assaltantes da cidade, responsáveis pela maioria dos delitos cometidos.

Mas que não se caia no erro de buscar soluções à margem da lei. Que não se combata a violência com outra maior. Seria um erro gravíssimo optar por esse caminho, que sempre que foi trilhado, trouxe trágicas e dolorosas conseqüências à comunidade, como ilustram os episódios da Favela Naval de Diadema ou da Cidade de Deus no Rio, entre outros.

A criação de um sistema de "disque-denúncia", como existe na capital fluminense, é uma das muitas idéias apresentadas e que poderiam ser implementadas, de forma a não expor a risco os que quisessem colaborar com a polícia.

Outra providência seria a adoção de um policiamento ostensivo freqüente, constante, se possível diário, com policiais fardados nas ruas e nos logradouros públicos de maior movimento, para inibir a prática de crimes e dar ao cidadão a segurança que ele merece e pela qual paga.

Ao mesmo tempo, compete aos meios de comunicação a tarefa de esclarecimento, além daquela que vêm exercendo tão bem: a da denúncia e da cobrança. Simultaneamente, requer-se um programa eficaz de assistência social, que ampare os desempregados e recupere os viciados em drogas (entre as quais o álcool) e encaminhe para as escolas os meninos e meninas de rua, livrando essas crianças da marginalidade e do crime.

Trata-se, como se vê, de uma tarefa de toda a comunidade, que não pode permanecer passiva, ilhada ou aterrorizada, esperando que a solução surja do nada, como em um passe de mágica.

(Texto escrito em 24 de novembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).

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