Signo
do medo
Pedro J. Bondaczuk
A população campineira vive sob o signo do medo,
dado o aumento explosivo da violência urbana que se verificou na cidade no
correr de 1997 (até domingo passado, por exemplo, o número de homicídios já
havia chegado a 317, média de um por dia).
O fenômeno, frise-se, não se restringe a Campinas e
costuma ser cíclico. Aliás, o tema costuma vir à baila com maior freqüência em
vésperas de eleições, o que faz supor que sua exacerbação é do interesse de
determinadas correntes políticas, não muito comprometidas com os direitos
humanos.
Isto não quer dizer, no entanto, que a violência
seja apenas uma fantasia de algumas pessoas ou grupos, dispostos a explorar o
medo da população para atingir seus objetivos (quase nunca claros ou nobres).
As estatísticas estão aí para comprovar que de fato houve um dramático aumento
da criminalidade na cidade.
Para reverter esse quadro de insegurança, que ameaça
a integridade física e o patrimônio dos cidadãos – senão a curto, pelo menos em
médio prazo – é necessária uma mobilização geral, no sentido de se detectar as
causas desse fenômeno (que são várias e complexas), e de se estabelecer
estratégias de prevenção.
As várias campanhas de desarmamento são um dos
caminhos indicados. Mas só elas não bastam. Faz-se indispensável uma ação mais
firme das autoridades, apurando e localizando os principais focos de
criminalidade e combatendo sem tréguas as quadrilhas de traficantes e de
assaltantes da cidade, responsáveis pela maioria dos delitos cometidos.
Mas que não se caia no erro de buscar soluções à
margem da lei. Que não se combata a violência com outra maior. Seria um erro
gravíssimo optar por esse caminho, que sempre que foi trilhado, trouxe trágicas
e dolorosas conseqüências à comunidade, como ilustram os episódios da Favela
Naval de Diadema ou da Cidade de Deus no Rio, entre outros.
A criação de um sistema de
"disque-denúncia", como existe na capital fluminense, é uma das
muitas idéias apresentadas e que poderiam ser implementadas, de forma a não expor
a risco os que quisessem colaborar com a polícia.
Outra providência seria a adoção de um policiamento
ostensivo freqüente, constante, se possível diário, com policiais fardados nas
ruas e nos logradouros públicos de maior movimento, para inibir a prática de
crimes e dar ao cidadão a segurança que ele merece e pela qual paga.
Ao mesmo tempo, compete aos meios de comunicação a
tarefa de esclarecimento, além daquela que vêm exercendo tão bem: a da denúncia
e da cobrança. Simultaneamente, requer-se um programa eficaz de assistência
social, que ampare os desempregados e recupere os viciados em drogas (entre as
quais o álcool) e encaminhe para as escolas os meninos e meninas de rua,
livrando essas crianças da marginalidade e do crime.
Trata-se, como se vê, de uma tarefa de toda a
comunidade, que não pode permanecer passiva, ilhada ou aterrorizada, esperando
que a solução surja do nada, como em um passe de mágica.
(Texto escrito em 24 de novembro de 1997 e publicado
como editorial na Folha do Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment