As recorrentes crises de criatividade
Pedro
J. Bondaczuk
O maior terror de todo
o artista é um fenômeno conhecido como “crise de criatividade”. Todos passam,
em algum momento, por esse período de ofuscação mental, em que sentem
dificuldades de fazer o que, normalmente, fazem bem. Nisso não há exceção. No
nosso caso, óbvio, o personagem que nos interessa abordar é o escritor.
E ele tem as tais
“crises de criatividade”? Sim! E elas são inesperadas. Principalmente se a
vítima delas escrever muito e valorizar, além da qualidade da sua produção (que
deve sempre, óbvio, ser valorizada), também a quantidade dela. Nem todos
valorizam (uma, ou outra ou ambas). Nesses casos, as crises não têm muita (ou
nenhuma) importância. Não afetam essas pessoas emocionalmente.
Há quem passe por esse
tipo de situação sem que sequer se dê conta. Por que? Porque passa um
determinado período da vida sem escrever e, por isso, nem percebe que nessa
fase em que não escreveu não tinha nada
de novo a trazer aos seus leitores. Outros, porém, sentem, e sentem muito essas
crises e, não raro, têm sérios, seriíssimos problemas por causa delas,
inclusive (quando não “sobretudo”) financeiros.
As reações a essas
fases também são muito diversas. Os racionais e metódicos identificam-nas com
facilidade e esperam, pacientemente, que elas passem. E, de fato, passam,
embora possam se repetir (e quase sempre se repetem mesmo) uma, duas, cinco,
dez, “n” vezes.
Os mais sensíveis, no
entanto, os que se melindram com qualquer coisa, chegam a entrar, literalmente,
em parafuso. Desesperam-se, perdem a confiança no próprio talento e muitos,
inclusive, deixam de escrever (profissionalmente, claro) para sempre. São
inúmeros os escritores de um livro só. A maioria, não soube administrar, ou
contornar uma dessas crises de criatividade.
Se você, no período em
que durar essa fase, não tiver compromisso contratual com ninguém, não haverá
maiores problemas. É só dar um tempo e esperar que essa fase passe. Raramente
não passa. É só ter paciência, reitero, e confiar em si mesmo.
O ruim é quando você
tem determinado prazo para entregar um livro à sua editora, ou um conto para
uma revista, ou uma crônica para algum jornal, ou uma peça de teatro para algum
grupo que se disponha a encená-la ou mesmo um texto para o nosso Literário e
não conseguir produzir nada. Em casos extremos, você chegará, mesmo, a ter
sérios prejuízos financeiros além profundos arranhões em sua imagem.
As causas e a duração
dessas crises variam muito. Elas podem acontecer ou em decorrência de algum
desarranjo orgânico (estresse por exemplo), ou por problemas psicológicos (o
motivo mais comum), como o rompimento de um relacionamento amoroso, ou a perda
de algum parente querido ou por desorganização no seu ambiente de trabalho (ou
em suas idéias) etc.etc.etc. Quando você entrar numa fase dessas, porém,
recomendo, reafirmo e reitero: não se desespere.
Pare, respire fundo,
descanse, reflita, leia, observe e pratique seu texto, mesmo que seja somente
para depois deletá-lo do seu computador. Ninguém esquece de como se anda de
bicicleta, não é mesmo? E nem se esquece como escrever um poema, um conto, uma
crônica, ou mesmo um romance, caso já tenha feito isso alguma vez.
Quando menos você
esperar... lá estará de novo a sua criatividade de volta, aquela que você
julgava ter sido irremediavelmente perdida e, pode até retornar mais intensa, a
todo o vapor. Mas esteja consciente que este retorno pode ter prazo de
validade. Pode ser até a ocorrência de nova crise (ou não), que você nunca
saberá “se” ou “quando” irá acontecer
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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