Sunday, June 19, 2016

As recorrentes crises de criatividade


Pedro J. Bondaczuk

O maior terror de todo o artista é um fenômeno conhecido como “crise de criatividade”. Todos passam, em algum momento, por esse período de ofuscação mental, em que sentem dificuldades de fazer o que, normalmente, fazem bem. Nisso não há exceção. No nosso caso, óbvio, o personagem que nos interessa abordar é o escritor.

E ele tem as tais “crises de criatividade”? Sim! E elas são inesperadas. Principalmente se a vítima delas escrever muito e valorizar, além da qualidade da sua produção (que deve sempre, óbvio, ser valorizada), também a quantidade dela. Nem todos valorizam (uma, ou outra ou ambas). Nesses casos, as crises não têm muita (ou nenhuma) importância. Não afetam essas pessoas emocionalmente.

Há quem passe por esse tipo de situação sem que sequer se dê conta. Por que? Porque passa um determinado período da vida sem escrever e, por isso, nem percebe que nessa fase em que não escreveu  não tinha nada de novo a trazer aos seus leitores. Outros, porém, sentem, e sentem muito essas crises e, não raro, têm sérios, seriíssimos problemas por causa delas, inclusive (quando não “sobretudo”) financeiros.

As reações a essas fases também são muito diversas. Os racionais e metódicos identificam-nas com facilidade e esperam, pacientemente, que elas passem. E, de fato, passam, embora possam se repetir (e quase sempre se repetem mesmo) uma, duas, cinco, dez, “n” vezes.

Os mais sensíveis, no entanto, os que se melindram com qualquer coisa, chegam a entrar, literalmente, em parafuso. Desesperam-se, perdem a confiança no próprio talento e muitos, inclusive, deixam de escrever (profissionalmente, claro) para sempre. São inúmeros os escritores de um livro só. A maioria, não soube administrar, ou contornar uma dessas crises de criatividade.

Se você, no período em que durar essa fase, não tiver compromisso contratual com ninguém, não haverá maiores problemas. É só dar um tempo e esperar que essa fase passe. Raramente não passa. É só ter paciência, reitero, e confiar em si mesmo.

O ruim é quando você tem determinado prazo para entregar um livro à sua editora, ou um conto para uma revista, ou uma crônica para algum jornal, ou uma peça de teatro para algum grupo que se disponha a encená-la ou mesmo um texto para o nosso Literário e não conseguir produzir nada. Em casos extremos, você chegará, mesmo, a ter sérios prejuízos financeiros além profundos arranhões em sua imagem.

As causas e a duração dessas crises variam muito. Elas podem acontecer ou em decorrência de algum desarranjo orgânico (estresse por exemplo), ou por problemas psicológicos (o motivo mais comum), como o rompimento de um relacionamento amoroso, ou a perda de algum parente querido ou por desorganização no seu ambiente de trabalho (ou em suas idéias) etc.etc.etc. Quando você entrar numa fase dessas, porém, recomendo, reafirmo e reitero: não se desespere.

Pare, respire fundo, descanse, reflita, leia, observe e pratique seu texto, mesmo que seja somente para depois deletá-lo do seu computador. Ninguém esquece de como se anda de bicicleta, não é mesmo? E nem se esquece como escrever um poema, um conto, uma crônica, ou mesmo um romance, caso já tenha feito isso alguma vez.


Quando menos você esperar... lá estará de novo a sua criatividade de volta, aquela que você julgava ter sido irremediavelmente perdida e, pode até retornar mais intensa, a todo o vapor. Mas esteja consciente que este retorno pode ter prazo de validade. Pode ser até a ocorrência de nova crise (ou não), que você nunca saberá “se” ou “quando” irá acontecer

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