Gênero
nobre
Pedro J. Bondaczuk
O ensaio é um dos gêneros mais
importantes, instrutivos e úteis da literatura. Todavia, não se pode dizer que
seja dos mais populares. Por que? Por tratar de assuntos que exigem vasta
cultura do leitor para que este possa acompanhá-los, entender e usufruir
minimamente dos seus ensinamentos.
Seus consumidores por excelência,
pois, são filósofos, historiadores, sociólogos, cientistas, professores
universitários e críticos literários, entre outros. Claro que qualquer pessoa pode
(e deve) ler textos desse gênero. São fundamentais para a cultura de quem quer
que seja. Poucos, no entanto, têm esse privilégio.
O ensaio é relativamente recente.
Data do século XVI e um dos seus criadores foi o francês Michel Eyquem de
Montaigne. É uma delícia ler suas explanações, que se constituem sempre num
sofisticado “banquete de idéias” para satisfazer a fome do nosso espírito. Na
Inglaterra, um dos precursores do gênero foi Francis Bacon, embora a terra da
rainha tenha produzido (e continue produzindo) ensaístas notáveis.
Provavelmente, porém, o escritor
do gênero mais conhecido mundo afora seja o norte-americano Henry David
Thoreau. Seu livro “Desobedecendo”, clássico da literatura mundial, por
exemplo, exerceu decisiva influência no pensamento e na ação de Mohandas
Karamanchand “Mahatma” Gandhi, que o tomou por fundamento para estabelecer sua
bem-sucedida estratégia de desobediência civil, ou seja, de resistência
pacífica ao domínio colonial inglês, que resultou na independência da Índia.
E o quê, afinal, caracteriza o
gênero? De acordo com a enciclopédia eletrônica Wikipédia, “ensaio é um texto
literário breve, situado entre o poético e o didático, em que o autor expõe
idéias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de determinado
tema. É menos formal e, portanto, mais flexível que o tratado”.
E prossegue: “Consiste, também,
na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um assunto
(humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental,
literário etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas
empíricas ou dedutivas de caráter científico”.
Para que o leitor tenha uma
idéia, a maioria dos meus textos, classificada, invariavelmente, de “crônicas”,
é, na verdade, enquadrável, a rigor, no gênero ensaio. Trata-se da forma de
expressão que mais aprecio (tanto para ler, quanto, e principalmente, para
escrever) e com a qual me sinto mais à vontade. É, portanto, apesar do seu
relativamente baixo índice de leitura, o gênero mais nobre da Literatura.
Provavelmente a melhor definição
de ensaio já feita até hoje seja a do filósofo e exímio ensaísta espanhol, José
Ortega Y Gasset, que o caracterizou como “ciência sem prova explícita”. É isso
aí, sem tirar e nem pôr. Pela importância do assunto, certamente voltaremos a
tratar dele oportunamente.
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