Exercício
constante
Pedro J. Bondaczuk
“A prática conduz à perfeição”.
Essa afirmação, que soa um tanto dogmática e que até já se transformou em
surrado clichê, é, no entanto, a mais lídima das verdades, sobretudo para o
escritor (embora valha para toda e qualquer atividade). Quem lida com textos
tem o dever, para consigo e principalmente para com seus leitores, de aprimorar
sempre o que escreve, mediante exercícios constantes, diários e exaustivos.
Qualquer atleta, para conseguir
vitórias em sua modalidade, e estabelecer recordes e mais recordes, superando
limites (próprios e dos seus competidores), submete-se a treinos e mais treinos
ao longo de toda a carreira. Caso se descuide desse aspecto, sua performance,
certamente, será muito aquém da que poderia obter e ficará, certamente, à
margem das vitórias.
O maior atleta do século XX,
Pelé, tido e havido consensualmente (com justiça) como o mais completo e hábil
jogador de futebol de todos os tempos, a despeito do seu enorme e incontestável
talento, sempre se constituiu em exemplo para os companheiros de profissão.
Treinava, treinava e treinava, e muito, na maior parte das vezes mais do que os
outros jogadores, e obtinha, como resultado, desempenhos crescentemente
melhores. Quando seus colegas deixavam o campo de treinamento, ele permanecia
por mais vinte, trinta ou mais minutos,
treinando domínio de bola, passes e chutes á média e longa distância etc.
“Literatura é diferente”, dirão
alguns. E é mesmo. O cérebro requer muito mais exercícios do que o corpo para
funcionar bem. Quem adquire o hábito de exercitá-lo, com meditação, leitura e
textos, leva enorme vantagem sobre quem não faz isso.
Vejam o caso de Machado de Assis.
Jamais freqüentou escola. Iniciou-se no mundo das letras como tipógrafo e foi assim que aprendeu a ler
e a escrever.
Trabalhou anos no Diário Oficial
da União. Mais tarde, foi funcionário público exemplar na Estrada-de-ferro
Central do Brasil. Escreveu muito, todos os tipos de texto, desde os oficiais
aos literários. Colaborou por anos e mais anos com jornais e revistas. Só as
suas crônicas, publicadas na imprensa do Rio de Janeiro, preenchem, hoje,
vários e alentados volumes, revelando intensíssima produção. Exercitou, pois,
seu talento Treinou exaustivamente. E chegou onde chegou.
Portanto, amigo escritor, treine
o mais que puder. Escreva diariamente. Se tiver a ventura de ser convidado para
colunista de um grande jornal ou revista, aceite. Caso contrário, colabore com
jornais de bairro, de paróquias, de sindicatos. Não tenha preconceitos. Ou, se
não tiver oportunidade na imprensa, faça um blog. Ou escreva cartas aos amigos.
O advento do computador e do email facilitou essa tarefa. Correspondências
entre escritores já resultaram em excelentes
livros. Mas escreva. Escreva sempre.
Amiúde se diz por aí que
Literatura se faz com idéias, pensamentos e sentimentos. Paul Valéry, embora
concordando em parte com essa afirmação, lembra, todavia, que se faz,
sobretudo, com palavras. Se você não souber manejar essa matéria-prima dos seus
sonhos com perícia, precisão, competência e naturalidade, de nada lhe valerão
quer o talento, quer a imaginação, quer a criatividade. Pense nisso.
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