Gorbachev mantém-se no centro
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, vem sendo reiteradamente acusado de
retroação na política reformista da "perestroika". Analistas
apressados têm se referido à sua pretensa guinada à direita, num prenúncio de
fechamento do regime. Outros, como o populista Bóris Yeltsin, asseguram que a
demora na reforma econômica para passar de um sistema centralizado e
planificado de gestão da economia para o mercado livre é a principal causa das
dificuldades atuais do país.
Mas
ele não teve coragem de implantar seu plano de "500 dias" na Rússia.
Quem faz tais afirmações desconhece o pensamento do líder do Cremlin por
completo. Em momento algum, durante a atual crise, propositalmente induzida por
ele, Gorbachev saiu dos rumos traçados no livro "Perestroika, Novas Idéias
para Meu País e o Mundo".
Em
instante algum o presidente prometeu pressa nas reformas. Até porque, ele
assinalou e reiterou em inúmeras oportunidades que as idéias q eu lançou não se tratavam de um
programa pronto a ser implementado. Aliás, elas foram elaboradas exatamente
para pôr fim às decisões de cima para baixo.
Num
dos intertítulos de sua obra, sintomaticamente denominado "Não temos
fórmulas prontas", Gorbachev escreveu: "A política é a arte do
possível. Além dos limites do possível começa o aventureirismo. É por essa
razão que avaliamos nossas possibilidades com cuidado e sensatez e planejamos
minuciosamente as tarefas. Ensinados por amarga experiência, não pomos o carro
à frente dos bois no caminho que traçamos, mas levamos em conta as realidades
evidentes do nosso país. A maior dificuldade no esforço de reestruturação
reside no modo de pensar que se cristalizou nos últimos anos. Todo mundo, do
secretário-geral ao operário, precisa reformular essas opiniões. E issi é
compreensível, pois muitos de nós fomos modelados como indivíduos dentro das
condições da velha ordem. Temos que superar nosso próprio
conservadorismo".
Para
essa superação, porém, Gorbachev abominava, como ainda abomina, os extremismos
de quaisquer espécies. Tanto o dos que desejam mudar tudo, sem qualquer
análise, jogando na lata de lixo da história o bom e o ruim, indiferentemente,
apenas pelo fato de ter envelhecido; quanto o dos que lutam para manter tudo no
que sempre foi, cristalizando vícios, injustiças e corrupções.
A
posição centrista do presidente soviético não é nova. Foi manifestada desde o
discurso inaugural que pronunciou, em 12 de março de 1985, quando assumiu o
poder. Portanto, antes da ascensão nacional de Yeltsin e principalmente da
elaboração e divulgação da "perestroika".
No
pronunciamento que fez, em Krasnoiarsk, em 16 de setembro de 1988, Gorbachev
acentuou: "Qualquer extremismo é errado do ponto de vista científico e
irresponsável no plano político". E a despeito dessa constatação ser
sumamente óbvia, ela é fácil de ser feita, mas poucas vezes utilizada para a
adoção de posições moderadas, serenas, corretas e sobretudo responsáveis.
(Artigo
publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 24 de março de
1991).
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