Tuesday, June 28, 2016

Gorbachev mantém-se no centro


Pedro J. Bondaczuk


O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, vem sendo reiteradamente acusado de retroação na política reformista da "perestroika". Analistas apressados têm se referido à sua pretensa guinada à direita, num prenúncio de fechamento do regime. Outros, como o populista Bóris Yeltsin, asseguram que a demora na reforma econômica para passar de um sistema centralizado e planificado de gestão da economia para o mercado livre é a principal causa das dificuldades atuais do país.

Mas ele não teve coragem de implantar seu plano de "500 dias" na Rússia. Quem faz tais afirmações desconhece o pensamento do líder do Cremlin por completo. Em momento algum, durante a atual crise, propositalmente induzida por ele, Gorbachev saiu dos rumos traçados no livro "Perestroika, Novas Idéias para Meu País e o Mundo".

Em instante algum o presidente prometeu pressa nas reformas. Até porque, ele assinalou e reiterou em inúmeras oportunidades que as idéias q            eu lançou não se tratavam de um programa pronto a ser implementado. Aliás, elas foram elaboradas exatamente para pôr fim às decisões de cima para baixo.

Num dos intertítulos de sua obra, sintomaticamente denominado "Não temos fórmulas prontas", Gorbachev escreveu: "A política é a arte do possível. Além dos limites do possível começa o aventureirismo. É por essa razão que avaliamos nossas possibilidades com cuidado e sensatez e planejamos minuciosamente as tarefas. Ensinados por amarga experiência, não pomos o carro à frente dos bois no caminho que traçamos, mas levamos em conta as realidades evidentes do nosso país. A maior dificuldade no esforço de reestruturação reside no modo de pensar que se cristalizou nos últimos anos. Todo mundo, do secretário-geral ao operário, precisa reformular essas opiniões. E issi é compreensível, pois muitos de nós fomos modelados como indivíduos dentro das condições da velha ordem. Temos que superar nosso próprio conservadorismo".

Para essa superação, porém, Gorbachev abominava, como ainda abomina, os extremismos de quaisquer espécies. Tanto o dos que desejam mudar tudo, sem qualquer análise, jogando na lata de lixo da história o bom e o ruim, indiferentemente, apenas pelo fato de ter envelhecido; quanto o dos que lutam para manter tudo no que sempre foi, cristalizando vícios, injustiças e corrupções.

A posição centrista do presidente soviético não é nova. Foi manifestada desde o discurso inaugural que pronunciou, em 12 de março de 1985, quando assumiu o poder. Portanto, antes da ascensão nacional de Yeltsin e principalmente da elaboração e divulgação da "perestroika".

No pronunciamento que fez, em Krasnoiarsk, em 16 de setembro de 1988, Gorbachev acentuou: "Qualquer extremismo é errado do ponto de vista científico e irresponsável no plano político". E a despeito dessa constatação ser sumamente óbvia, ela é fácil de ser feita, mas poucas vezes utilizada para a adoção de posições moderadas, serenas, corretas e sobretudo responsáveis.

(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 24 de março de 1991).


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