Candidato certo em momento errado

Pedro J. Bondaczuk

Nem sempre a pessoa mais adequada para ocupar cargos de alta responsabilidade, em determinados momentos-chaves, acaba sendo a escolhida. Aliás, para sermos mais exatos, quase nunca isso ocorre.

É o caso do reverendo norte-americano Jesse Jackson, postulante à indicação do Partido Democrata, para concorrer com o atual presidente dos EUA, Ronald Reagan, à Casa Branca. De todos os concorrentes dos opositores do atual chefe de Estado da maior superpotência do mundo, ele é o que demonstra maior lucidez política, e o mais sólido conhecimento das questões que envolvem a América Latina.

Ferrenho opositor do envolvimento do seu país, no plano militar, no atoleiro da América Central, não se cansa de dizer que o principal problema da região é muito mais de cunho social, de atraso e fome, do que de ideologia. Ou seja, é uma tecla que nós, humildemente, há muitos anos vimos batendo.

A grande questão do Terceiro Mundo é a falta de pão, não a ameaça marxista (embora esta não seja para ser de todo desconsiderada). O reverendo Jackson, logo no início da presente campanha sucessória, lavrou um grande tento, quando foi a Damasco negociar com os sírios a libertação de soldados norte-americanos, aprisionados no Líbano.

O líder religioso é muito bem visto tanto no Oriente Médio (e ali, por israelenses e árabes) quanto no Leste europeu e, principalmente, no chamado Terceiro Mundo. O máximo, contudo, que pode conseguir na convenção democrata de San Francisco é uma composição política (provavelmente com o também pré-candidato Walter Mondale, que está de olho no voto dos latinos e dos negros) para sair como candidato à vice-presidência. E mesmo que, por uma dessas surpresas incríveis, fosse o indicado por seu partido para enfrentar Reagan, não teria qualquer chance de vencer.

É por isso que repetimos o óbvio: Jesse Jackson é o homem certo, mas em uma situação e em um momento errados.

   

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 30 de maio de 1984)

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