Miséria aumenta
Pedro J. Bondaczuk
A
miséria compromete o presente do chamado "País do futuro".
Estatísticas locais e internacionais existem em profusão para demonstrar que a
concentração de renda brasileira descamba para o absurdo, de tão escandalosa que
é e, entre 172 povos pesquisados, só é melhor do que a do pequenino Botswana,
na África.
O
preocupante, no caso do Brasil, não é o desconhecimento do diagnóstico, mas a
falta de vontade de curar a doença. O mal está há tempos identificado, as
causas são absolutamente conhecidas, no entanto as soluções, também óbvias, ou
são proteladas, ou são substituídas por paliativos ou acabam simplesmente
ignoradas.
Depois
da divulgação, na semana passada, de estudos do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento, anteontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
publicou uma pesquisa em que demonstra que 21% dos habitantes deste País, que
detém a décima economia mundial, são indigentes! Ou seja, 32 milhões de
brasileiros, o equivalente à população da Argentina, não têm emprego, renda,
moradia, comida na panela e a mínima perspectiva de vida.
Em
termos absolutos, o grande foco da miséria concentra-se, ironicamente, na
região mais industrializada e desenvolvida do Brasil, a Sudeste, onde 2,6
milhões de famílias vegetam na indigência. Em números relativos, o Nordeste
lidera esse triste "ranking" de incompetência de uma elite cínica,
desumana, impatriótica e suicida, já que detém essa condição privilegiada aqui.
Em qualquer outro lugar seria eternamente a cauda, e jamais a cabeça da
sociedade.
Nas
campanhas presidenciais deste ano, certamente, o assunto será dominante nos
palanques dos oito candidatos. Teme-se que mais uma vez os chamados
"descamisados", os excluídos, as vítimas do apartheid social, serão
usadas como meras massas de manobra.
Não
se trata de pessimismo prever que, dentro de quatro anos, ao cabo do mandato do
presidente que vai emergir das urnas de 3 de outubro próximo, tenhamos que
ocupar outra vez este espaço para comentar nova pesquisa do IBGE sobre a
miséria brasileira. Só que então, se nenhuma providência for tomada para acabar
com essa vexatória situação, os indigentes não serão mais 21% da população, mas
30%, 35% ou quiçá 50%.
Se
nada for feito no presente para modificar este quadro vergonhoso com que nos
deparamos, o País terá um futuro turbulento, incerto, com a lei das selvas,
baseada na violência, substituindo programas, princípios e convivência
civilizada.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de junho de 1994)
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