Polêmicas sobre a
existência de Homero
Pedro
J. Bondaczuk
A polêmica sobre se
houve um poeta cego, pobre, mas talentosíssimo, chamado Homero, ou se essa
figura enigmática (e carismática) é apenas um conceito, uma personificação, um
símbolo da criatividade e da cultura grega, em época remotíssima da humanidade,
embora persista aqui e ali, já foi muito mais intensa. Nos dois séculos
anteriores, o XX e o XIX, esse debate empolgou milhares e milhares de
estudiosos e especialistas em Literatura de várias partes do mundo, sem que se
chegasse a alguma conclusão minimamente verossímil. Por que? Por absoluta
ausência de provas minimamente confiáveis. O que houve (e há) são somente
teses, sugestões e suposições variadas, algumas bem construídas e outras
nitidamente absurdas, por serem demasiadamente fantasiosas.
Foram escritos, somente
nos últimos duzentos anos, sem nenhum exagero, centenas de milhares de livros,
quer por parte dos que defendiam a existência real, de carne e osso, desse
suposto autor de duas magníficas epopéias, que são a “Ilíada” e a “Odisséia”, e
dos que sempre negaram que esse personagem fosse real, que fosse mais do que
mero símbolo de um povo e de uma época. Tive acesso a alguns deles e nenhum me
convenceu, nem de um lado e nem do outro. E por que afirmo. Então, estar
convencido que houve, realmente, um poeta chamado Homero, possivelmente cego, e
autor de duas obras literárias geniais, que sobreviveram a milênios da História
e que chegaram até nós? Baseado em que provas, ou mesmo em que evidências
baseio minha convicção? Por estranho que pareça, em nenhuma, pois estas,
reitero, não existem. Todas as que são apontadas como tal não resistem à mais
elementar análise. Estou convicto da existência de Homero com base única e tão
somente num fator a que sempre
dei crédito (e que raramente me enganou): a intuição.
A “Ilíada” e a
“Odisséia” são coerentes demais para terem sido urdidas por várias “cabeças”.
Minha convicção aumentou um tantão a mais quando me informei que o arqueólogo
amador alemão, Henrich Schliemann, descobriu (e comprovou, sem sombra de
dúvidas) que a Troia, cenário da epopéia de Homero, de fato existiu. E que foi
mesmo destruída por um incêndio, como descrito no referido poema. Destaque-se
que até a segunda metade do século XVIII, essa cidade não passava de lenda.
Havia até consenso a esse respeito. Se a história contada em versos pelo poeta,
seja ele quem for, foi real ou não foi não se tem certeza (e nem se pode ter).
Contudo, por que o tal narrador (ou mesmo se fossem vários, ou mais de um, no
que não creio) inventaria tal enredo, tendo em conta, pelo que se sabe, que já
em épocas muito mais próximas á nossa, na Grécia Antiga, ninguém se dava o
trabalho de elaborar ficção?
Apesar de
"Homero" ser um nome grego, nada de concreto se sabe sobre ele na
Grécia. Desconhecem-se o local em que teria nascido e a época em que isso teria
ocorrido. A data de nascimento, por exemplo, oscila em cem anos. Pode ter sido
em 750 ou em 850 antes de Cristo. Ou em qualquer ano intermediário entre estes
dois, com uma centena de possibilidades
(719 ou 780, ou 815, por exemplo). O escritor satírico, Luciano de
Samosata, em sua fabulosa “Verdadeira História”, faz do poeta um babilônio que
assumiu o nome de Homero apenas quando tomado "refém" (que em grego
era grafado com a palavra “homeros”). Quando o imperador Adriano perguntou ao
oráculo de Delfos quem esse personagem era, Pítia proclamou que ele era um
ítaco, filho de Jocasta e Telêmaco, ambos, por sinal, citados na Odisseia.
Quanto ao local de
nascimento, minha intuição me faz crer que a corrente majoritária, que aponta
sua terra natal como sendo a cidade de Esmirna, na atual Turquia, é que está
certa. E, quanto à data, creio que seja algo em torno de 820 antes de Cristo. E
você, paciente e bem informado leitor, o que acha de tudo isso? Homero
realmente existiu ou não passa de um símbolo? Foi um babilônio, feito refém ou
nasceu em alguma cidade grega? Claro, qualquer que seja sua opinião, será
baseada exclusivamente na intuição (como é a minha), já que inexistem provas
para as duas principais teses.
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