Tuesday, June 07, 2016

Polêmicas sobre a existência de Homero


Pedro J. Bondaczuk

A polêmica sobre se houve um poeta cego, pobre, mas talentosíssimo, chamado Homero, ou se essa figura enigmática (e carismática) é apenas um conceito, uma personificação, um símbolo da criatividade e da cultura grega, em época remotíssima da humanidade, embora persista aqui e ali, já foi muito mais intensa. Nos dois séculos anteriores, o XX e o XIX, esse debate empolgou milhares e milhares de estudiosos e especialistas em Literatura de várias partes do mundo, sem que se chegasse a alguma conclusão minimamente verossímil. Por que? Por absoluta ausência de provas minimamente confiáveis. O que houve (e há) são somente teses, sugestões e suposições variadas, algumas bem construídas e outras nitidamente absurdas, por serem demasiadamente fantasiosas.

Foram escritos, somente nos últimos duzentos anos, sem nenhum exagero, centenas de milhares de livros, quer por parte dos que defendiam a existência real, de carne e osso, desse suposto autor de duas magníficas epopéias, que são a “Ilíada” e a “Odisséia”, e dos que sempre negaram que esse personagem fosse real, que fosse mais do que mero símbolo de um povo e de uma época. Tive acesso a alguns deles e nenhum me convenceu, nem de um lado e nem do outro. E por que afirmo. Então, estar convencido que houve, realmente, um poeta chamado Homero, possivelmente cego, e autor de duas obras literárias geniais, que sobreviveram a milênios da História e que chegaram até nós? Baseado em que provas, ou mesmo em que evidências baseio minha convicção? Por estranho que pareça, em nenhuma, pois estas, reitero, não existem. Todas as que são apontadas como tal não resistem à mais elementar análise. Estou convicto da existência de Homero com base única e tão somente num fator           a que sempre dei crédito (e que raramente me enganou): a intuição.

A “Ilíada” e a “Odisséia” são coerentes demais para terem sido urdidas por várias “cabeças”. Minha convicção aumentou um tantão a mais quando me informei que o arqueólogo amador alemão, Henrich Schliemann, descobriu (e comprovou, sem sombra de dúvidas) que a Troia, cenário da epopéia de Homero, de fato existiu. E que foi mesmo destruída por um incêndio, como descrito no referido poema. Destaque-se que até a segunda metade do século XVIII, essa cidade não passava de lenda. Havia até consenso a esse respeito. Se a história contada em versos pelo poeta, seja ele quem for, foi real ou não foi não se tem certeza (e nem se pode ter). Contudo, por que o tal narrador (ou mesmo se fossem vários, ou mais de um, no que não creio) inventaria tal enredo, tendo em conta, pelo que se sabe, que já em épocas muito mais próximas á nossa, na Grécia Antiga, ninguém se dava o trabalho de elaborar ficção?

Apesar de "Homero" ser um nome grego, nada de concreto se sabe sobre ele na Grécia. Desconhecem-se o local em que teria nascido e a época em que isso teria ocorrido. A data de nascimento, por exemplo, oscila em cem anos. Pode ter sido em 750 ou em 850 antes de Cristo. Ou em qualquer ano intermediário entre estes dois, com uma centena de possibilidades  (719 ou 780, ou 815, por exemplo). O escritor satírico, Luciano de Samosata, em sua fabulosa “Verdadeira História”, faz do poeta um babilônio que assumiu o nome de Homero apenas quando tomado "refém" (que em grego era grafado com a palavra “homeros”). Quando o imperador Adriano perguntou ao oráculo de Delfos quem esse personagem era, Pítia proclamou que ele era um ítaco, filho de Jocasta e Telêmaco, ambos, por sinal, citados na Odisseia.

Quanto ao local de nascimento, minha intuição me faz crer que a corrente majoritária, que aponta sua terra natal como sendo a cidade de Esmirna, na atual Turquia, é que está certa. E, quanto à data, creio que seja algo em torno de 820 antes de Cristo. E você, paciente e bem informado leitor, o que acha de tudo isso? Homero realmente existiu ou não passa de um símbolo? Foi um babilônio, feito refém ou nasceu em alguma cidade grega? Claro, qualquer que seja sua opinião, será baseada exclusivamente na intuição (como é a minha), já que inexistem provas para as duas principais teses.


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