A Copa e as eleições
Pedro J. Bondaczuk
A
campanha presidencial, neste período de Copa do Mundo, teve o ritmo bastante
reduzido, diante de dois temas de interesse geral: a performance da nossa
Seleção e a entrada em vigor da nova moeda, o Real, nessa ordem. Tanto isso é
verdade, que o candidato que lidera todas as pesquisas de opinião, Luís Inácio
Lula da Silva, resolveu aproveitar esse hiato para visitar um dos maiores,
senão o maior mito vivo dos nossos tempos, o presidente sul-africano Nelson
Mandela. Certamente pretende capitalizar esse encontro em futuros comícios,
além de começar a adquirir uma necessária experiência internacional.
Uma
pergunta tem sido feita e repetida, em vários círculos, acerca de um eventual
(e provável) sucesso do futebol brasileiro em campos norte-americanos: se o
Brasil ganhar a Copa do Mundo, algum candidato vai lucrar com esse sucesso? E,
se a resposta for positiva, qual?
Temos
ouvido opiniões em sentido contrário, ou seja, se a Seleção não conseguir o
tetra. Diversas pessoas garantem que, nesse caso, o beneficiado será Lula, que
no entender delas, capitaliza a onda de desencanto e descontentamento
nacionais. Não acreditamos nessa hipótese.
No
nosso entendimento, o brasileiro sabe e sempre soube distinguir as duas coisas.
E não se deixará levar por um argumento tão ingênuo e infantil. Se o candidato
petista vencer as eleições de outubro próximo, será por suas propostas de
governo e não em decorrência do sucesso ou do fracasso do nosso futebol.
Se
Carlos Alberto Parreira estivesse disputando algum cargo político, aí sim
alguma dessas circunstâncias teria influência em seu desempenho eleitoral.
Quanto aos demais, vale o mesmo raciocínio. Afinal, Fernando Henrique Cardoso,
Orestes Quércia, Leonel Brizola, Espiridião Amin, Flávio Rocha, Enéias, etc.
não convocaram e nem participaram da convocação da Seleção, não influenciam de
nenhuma forma a maneira de a equipe jogar e é provável que sequer tenham
qualquer espécie de vínculo com algum clube.
Quem
estiver, portanto, pensando em capitalizar a Copa do Mundo, para conseguir
votos --- se é que haja algum candidato com essa mentalidade retrógrada --- que
trate de mudar sua postura. O brasileiro, como qualquer outro povo, tem errado
e muitas vezes na hora de escolher seu presidente. Muitos ainda deixam-se levar
pela retórica populista, por falta de consciência política. Mas seu despreparo
está longe, muito distante de raiar a insanidade.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de junho de 1994).
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