Guerra
afeta muito a Jordânia
Pedro J. Bondaczuk
A crise deflagrada no Golfo Pérsico pela invasão
iraquiana ao Kuwait, que redundou numa guerra de 42 dias de duração, provocou
dois grandes êxodos na região: um antes e outro depois da chamada Operação Tempestade
do Deserto. Ambos foram dramáticos, dispendiosos e traumatizantes.
A primeira grande fuga ocorreu logo após o emirado
produtor de petróleo ter sido invadido. Envolveu milhares de trabalhadores que
se retiraram dos territórios iraquiano e kuwaitiano, antecipando as
conseqüências de um confronto armado que se desenhava no ar.
A partir de 2 de agosto de 1990, centenas de
milhares de operários palestinos, egípcios, indianos, filipinos e de diversos
outros países asiáticos, africanos, europeus e americanos empreenderam penosas
e arriscadas jornadas pelos extensos e imprevisíveis desertos da região, em
direção à Jordânia.
O reino beduíno chegou a acolher, no auge da
retirada, até um milhão de pessoas, contando com discretíssima ajuda
humanitária internacional. Abrigou por semanas todo esse contingente contando,
virtualmente, com recursos próprios. Não se omitiu, portanto, de sua tarefa,
mesmo sem estar diretamente envolvido na crise do Golfo.
O rei Hussein tentou, até o derradeiro instante,
convencer os países ocidentais a não lançarem mão da força para expulsar as
tropas iraquianas do emirado invadido. Ninguém lhe deu ouvidos. Posteriormente,
depois de 17 de janeiro passado, quando começaram os bombardeios metódicos e
sistemáticos contra Bagdá e as principais cidades do país vizinho, o monarca
não escondeu de ninguém sua revolta pela destruição que se produzia.
Teceu duras e severas críticas contra a coalizão,
pelos ataques indiscriminados a civis, o que lhe valeu, posto que de maneira
velada, muito sutil, um boicote do Ocidente, em especial por parte dos Estados
Unidos.
Poucos conseguiram entender a delicadíssima posição
jordaniana na oportunidade. Ao decretar o embargo econômico ao Iraque, o
Conselho de Segurança das Nações Unidas privou a Jordânia, repentinamente, do
seu principal parceiro econômico, aquele que fornecia a maior parte do petróleo
que o país consumia e era cliente de seus produtos.
Nenhum líder político lembrou dos préstimos do reino
durante o êxodo que antecedeu a guerra. Ninguém lhe forneceu opções comerciais.
Muito pelo contrário. A Arábia Saudita, por exemplo, cortou-lhe o envio de óleo
cru.
Os milhões de operários que se viram forçados a
abandonar o Kuwait e o Iraque, igualmente, sofreram prejuízos irreparáveis.
Alguns tiveram de abandonar propriedades, residências e estabelecimentos
comerciais e até mesmo a se separar de familiares, para regressar às suas
pátrias de origem.
Muitos perderam, em questão de horas, o que haviam
conseguido com muito trabalho durante anos. Quem irá indenizar a essas pessoas?
Quem pagará os prejuízos, às vezes irreparáveis, que elas tiveram? Quem
reconhecerá o papel altamente positivo desempenhado pela Jordânia nos meses que
antecederam a guerra?
(Artigo publicado na página 19, Internacional, do
Correio Popular, em 9 de maio de 1991)
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