Saturday, June 04, 2016

Guerra afeta muito a Jordânia



Pedro J. Bondaczuk


A crise deflagrada no Golfo Pérsico pela invasão iraquiana ao Kuwait, que redundou numa guerra de 42 dias de duração, provocou dois grandes êxodos na região: um antes e outro depois da chamada Operação Tempestade do Deserto. Ambos foram dramáticos, dispendiosos e traumatizantes.

A primeira grande fuga ocorreu logo após o emirado produtor de petróleo ter sido invadido. Envolveu milhares de trabalhadores que se retiraram dos territórios iraquiano e kuwaitiano, antecipando as conseqüências de um confronto armado que se desenhava no ar.

A partir de 2 de agosto de 1990, centenas de milhares de operários palestinos, egípcios, indianos, filipinos e de diversos outros países asiáticos, africanos, europeus e americanos empreenderam penosas e arriscadas jornadas pelos extensos e imprevisíveis desertos da região, em direção à Jordânia.

O reino beduíno chegou a acolher, no auge da retirada, até um milhão de pessoas, contando com discretíssima ajuda humanitária internacional. Abrigou por semanas todo esse contingente contando, virtualmente, com recursos próprios. Não se omitiu, portanto, de sua tarefa, mesmo sem estar diretamente envolvido na crise do Golfo.

O rei Hussein tentou, até o derradeiro instante, convencer os países ocidentais a não lançarem mão da força para expulsar as tropas iraquianas do emirado invadido. Ninguém lhe deu ouvidos. Posteriormente, depois de 17 de janeiro passado, quando começaram os bombardeios metódicos e sistemáticos contra Bagdá e as principais cidades do país vizinho, o monarca não escondeu de ninguém sua revolta pela destruição que se produzia.

Teceu duras e severas críticas contra a coalizão, pelos ataques indiscriminados a civis, o que lhe valeu, posto que de maneira velada, muito sutil, um boicote do Ocidente, em especial por parte dos Estados Unidos.

Poucos conseguiram entender a delicadíssima posição jordaniana na oportunidade. Ao decretar o embargo econômico ao Iraque, o Conselho de Segurança das Nações Unidas privou a Jordânia, repentinamente, do seu principal parceiro econômico, aquele que fornecia a maior parte do petróleo que o país consumia e era cliente de seus produtos.

Nenhum líder político lembrou dos préstimos do reino durante o êxodo que antecedeu a guerra. Ninguém lhe forneceu opções comerciais. Muito pelo contrário. A Arábia Saudita, por exemplo, cortou-lhe o envio de óleo cru.

Os milhões de operários que se viram forçados a abandonar o Kuwait e o Iraque, igualmente, sofreram prejuízos irreparáveis. Alguns tiveram de abandonar propriedades, residências e estabelecimentos comerciais e até mesmo a se separar de familiares, para regressar às suas pátrias de origem.

Muitos perderam, em questão de horas, o que haviam conseguido com muito trabalho durante anos. Quem irá indenizar a essas pessoas? Quem pagará os prejuízos, às vezes irreparáveis, que elas tiveram? Quem reconhecerá o papel altamente positivo desempenhado pela Jordânia nos meses que antecederam a guerra?     


(Artigo publicado na página 19, Internacional, do Correio Popular, em 9 de maio de 1991)

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