Wednesday, June 22, 2016

Kennedy tomado como modelo



Pedro J. Bondaczuk


O virtual candidato democrata às eleições presidenciais norte-americanas de 8 de novembro próximo, Michael Dukakis, não esconde de ninguém que tem tomado a figura do ex-presidente John Fitzgerald Kennedy como protótipo da sua vida pública. Aliás, procede do mesmo Estado dele, Massachusetts, além de ser também bastante jovem e de ter muitos dos ideais (inacabados) do político que lhe serve de modelo.

A sua escolha do homem que vai ser o seu companheiro de chapa, o senador Lloyd Bentsen, ficou, portanto, dentro de uma linha de total coerência. O parlamentar indicado, afinal, é um texano, como havia sido o general Lyndon Johnson, em 1960. Aliás, há várias outras coincidências entre esses dois pleitos presidenciais.

Por exemplo, o presidente, há 28 anos, era um outro republicano, dotado de um grande carisma e que estava impedido de disputar a terceira reeleição por causa de um dispositivo constitucional que proíbe isso: o general Dwight David Eisenhower.

O atual, do mesmo partido, calcado no mesmo motivo de Ike, que durante a Segunda Guerra Mundial foi o comandante máximo das forças aliadas na Europa, é admirado pela população norte-americana pela sua brilhante carreira política e pelas suas firmes convicções. Ambos (o mandatário do passado e o do presente) caracterizam-se pela avançada idade.

Eisenhower, nas eleições de 1960, queria eleger o seu vice-presidente, Richard Nixon, que se celebrizaria anos depois por causa do escândalo “Watergate”. Reagan, igualmente, o quer, na figura do texano Geoge Bush. E as coincidências entre John Kennedy e Michael Dukakis podem ser desfiadas longamente.

Mas a escolha de Bentsen, certamente, não se baseou em nenhuma superstição. É parte de uma inteligente estratégia democrata para a conquista de votos dos conservadores do Sul dos Estados Unidos. O candidato republicano, doravante, terá que ficar na defensiva em seus próprios redutos, o Texas, o que, certamente, poderá se constituir em mais um obstáculo para que concretize o seu sonho de chegar à Casa Branca. Isto sem citar os vários escândalos da administração Reagan que certamente recairão sobre ele. Como o caso “Irã-contras”, que estará mais em evidência do que nunca no auge da campanha, já que o seu principal pivô, o ex-tenente-coronel Oliver North, começará a ser julgado por um tribunal federal nessa ocasião, a partir de 20 de setembro próximo.

Mas não será somente isso. Virão à tona as denúncias de corrupção no Pentágono, o tráfico de influência no Departamento de Justiça e outras questões menores, mas nem por isso menos desgastantes para a imagem de uma gestão a que o atual vice serviu e está servindo. Por isso, Dukakis acredita poder repetir o seu ídolo, John Kennedy, e obter uma consagradora vitória em 8 de novembro. Pode até acontecer.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 13 de julho de 1988).

      

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