Sunday, December 09, 2012

Rivalidade à tona

Pedro J. Bondaczuk

O jogo entre Argentina e Inglaterra, pelas oitavas de finais da Copa da França, é, potencialmente, de maior risco do que o disputado na fase eliminatória entre Irã e EUA e que tanta celeuma provocou. Neste caso, nem é tanto em decorrência da Guerra das Malvinas, travada entre os dois países há 16 anos. O perigo é o de confronto entre os temidos "hooligans" ingleses e a não menos aguerrida torcida argentina.

Norte-americanos e iranianos deram exemplar demonstração de civilidade e esportividade, a despeito das desavenças políticas. Corrigiram uma mancada histórica de salvadorenhos e hondurenhos, que travaram a "Guerra do Futebol" em fins de 1969, após uma partida entre os dois selecionados nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, no México. A confraternização entre os jogadores das seleções dos EUA e Irã foi, até aqui, a imagem mais positiva deste Mundial.

Ocorre que no terreno da competição esportiva esses dois países não passavam de "figurantes". O futebol sequer é o esporte mais popular de ambos. Suas torcidas não têm a triste tradição dos "hooligans", por exemplo, ou dos "skinheads" alemães. Aliás, a maioria sequer entende as regras do esporte.

Não é o caso de ingleses e argentinos. No aspecto puramente futebolístico, o da técnica, da competição leal e da disputa pela bola para a feitura de gols --- que deveria ser a única a importar --- o jogo entre Argentina e Inglaterra é um dos mais aguardados do Mundial. Vai confrontar escolas diferentes, cada qual com suas virtudes e deficiências. Uma, de toque de bola e técnica refinada. Outra, de marcação, força de conjunto e rígida disciplina tática.

Esta será --- numa Copa sem maiores surpresas, em que os resultados confirmam a tradição --- a primeira partida envolvendo dois campeões mundiais. A despeito de ligeiro favoritismo argentino (dado seu retrospecto), este vai cair por terra assim que o árbitro apitar e a bola rolar. Todos viram no que deram os prognósticos apontando a Nigéria como provável adversária do Brasil.

O jogo preocupa não em decorrência de eventuais ressentimentos por parte do presidente Carlos Menem e do primeiro-ministro inglês Tony Blair, por causa da Guerra das Malvinas. Nenhum dos dois teve qualquer participação nesse conflito. O que assusta é a ameaça dos "hooligans", que prometem "surrar" os torcedores portenhos (para "vingar" o gol de mão de Maradona na Copa de 1986 no México) e a resposta destes, prometendo revide. Tomara que tudo se limite à "guerra de nervos" entre torcidas. E que no campo, vença quem jogar melhor.

 
(Artigo publicado em 29 de junho de 1998 no Caderno Esportes do Correio Popular).

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