Thursday, December 20, 2012

EUA subestimam os aiatolás

Pedro J. Bondaczuk

A questão da minagem do Golfo Pérsico, que agitou o noticiário desde segunda-feira, quando o petroleiro “Texaco Caribbean” se chocou com uma mina nessa zona até aqui considerada segura para a navegação, teve muito mais boatos e alarme falso do que fatos.

A versão mais corrente diz que seis artefatos foram localizados nessas águas, após o navio-tanque, de bandeira panamenha, ter sido atingido. Entretanto, fontes confiáveis da região garantiram que eles foram apenas dois. E que o resto não passou de falatório, de diz-que-diz-que, sem qualquer fundamento, mas com conseqüências desagradáveis. Espantou os capitães de navio, que zarparam, assim que puderam, do maior porto local, o de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos.

Irã e Estados Unidos acusam-se mutuamente pelo ato de sabotagem. O mais provável é que nenhum dos dois tenha razão. Essas armadilhas navais devem ser remanescentes das que foram colocadas no Golfo Pérsico pelos guardas revolucionários iranianos durante suas recentes manobras e que teriam, caprichosamente, sido levadas pelas ondas para onde ninguém desejava que fossem parar.

Aliás, para os analistas, é incompreensível a razão de todo esse clima de tensão armado nessa estratégica área, manifestado desde o ataque iraquiano à fragata norte-americana “USS Stark”, em 17 de maio passado.

Gostem ou não, para os propósitos de defesa do Pentágono, os iranianos são indispensáveis, e de preferência nas mãos dos aiatolás. E por uma razão muito simples e elementar. Os xiitas têm uma aversão patológica pelos comunistas e o Irã conta com mais de dois mil quilômetros de fronteiras com a União Soviética.

Enquanto eles mantiverem os soviéticos na defensiva, fazendo com que Moscou tema uma desestabilização entre a sua própria população muçulmana, que habita suas Repúblicas asiáticas, estes sequer cogitarão em, qualquer aventura rumo aos mares quentes do Sul, antigo sonho dessa superpotência, desde os tempos dos czares. Estrategistas norte-americanos, sérios e equilibrados, sabem disso.

Por essa razão, apesar dos ressentimentos de Washington com a tomada da sua embaixada em Teerã, por parte dos fundamentalistas, em 4 de novembro de 1979 (que, afinal de contas, não resultou em nenhuma vítima fatal) já estava na hora dos dois países buscarem uma aproximação.

A Casa Branca parece continuar se impressionando com a retórica iraniana que, a rigor, se destina ao público interno. Ambos apenas lucrariam pondo fim à sua disputa de quase oito anos. Voltaire já dizia, com sua sábia irreverência, há quase dois séculos: “Quando uma controvérsia dura muito tempo, é porque as duas partes estão sem razão”. Esta declaração parece talhada, a caráter, para este caso.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 15 de agosto de 1987)

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