Thursday, December 13, 2012

É preciso austeridade

Pedro J. Bondaczuk

A forma escolhida pelo presidente dos EUA, Ronald Reagan, para recuperar a economia norte-americana, é um autêntico "ovo de Colombo". Diz a história que o navegador genovês, quando foi pedir aos reis de Castela e Aragão auxílio para descobrir uma nova rota para a Ásia, justificou a sua pretensão apontando a esfericidade da Terra. Naquela época, uma afirmação desse tipo era considerada até mesmo sacrílega, já que contrariava a palavra oficial da Igreja sobre o assunto. Procurando demonstrar a sua tese aos doutores em Teologia da Universidade de Salamanca, Colombo garantiu que seria capaz de fazer com que um ovo de galinha permanecesse em pé sobre uma superfície lisa. Como os doutos clérigos ridicularizassem a afirmativa do navegador, este não teve dúvidas. Pegou o ovo, bateu-o contra a mesa, achatando-o numa das extremidades, fazendo com que ele permanecesse ereto. Os teólogos, decepcionados, afirmaram: "Assim nós também podemos fazer esta proeza". Mas não fizeram antes do genovês haver feito. E Colombo conseguiu que a sua tese prevalecesse, levando-o, em conseqüência, a descobrir a América.

Reagan pretende combater a inflação norte-americana com duas providências básicas. A primeira é reduzir substancialmente as despesas governamentais, introduzindo profundos cortes no Orçamento da União. Já para 1981, anunciou uma economia de US$ 13 bilhões na Casa Branca. Essa cifra representa, só para que se tenha uma idéia, 67% de todos os gastos do Brasil durante um ano com a importação de petróleo. E o corte previsto para 1982 é muito maior. Ascende à exorbitante quantia de US$ 40 bilhões.

A outra providência anti-inflacionária do presidente norte-americano é reduzir todos os impostos aos contribuintes do país em 10%, pelo prazo de três anos. Reagan está convicto de que esta redução de tributos servirá como um poderoso estímulo às empresas nacionais, impedindo a evasão para outros países de indústrias completas, que se mudam com fábricas e bagagens para áreas mundiais mais propícias, onde os lucros sejam bem mais substanciais.

Por que o governo brasileiro --- às voltas com a maior crise econômica da história desta Nação --- não aproveita este modelo? Seria uma maneira racional --- e indolor --- de combate às altíssimas e centenárias taxas inflacionárias nacionais, sem que o fantasma da recessão rondasse a classe operária. Por que os tecnocratas em Brasília não entram, também, em um necessário e há muito indispensável período de austeridade nos gastos dos seus ministérios? Qual o objetivo dos seguidos e brutais aumentos de tributos de toda a espécie, nas esferas municipal, estadual e federal, que descapitalizam as empresas --- especialmente as pequenas e médias --- e tiram o principal estímulo do sistema capitalista --- o lucro --- que é desviado para os cofres da Fazenda Nacional?

Afinal, ainda ressoa no ouvido da Nação a frase lapidar do ex-ministro Juracy Magalhães --- classificada pelo humorista carioca Sérgio Porto, que assinava sua coluna na extinta "Última Hora" como Stanislaw Ponte Preta, como a mais brilhante do FEBEAPA (Festival de Besteira que Assola o País). Disse aquela autoridade, nos idos de 1964: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". Pois bem, agora é a hora e o momento para demonstrar isso. As novas medidas de Reagan --- ao menos aparentemente --- são as soluções para a crise econômica norte-americana. Por que razão essas providências --- e elas sim --- não seriam também salutares para o nosso País?

Uma coisa é certa: se tais medidas não resolvessem a nossa inflação --- de índices agora supracentenários --- pelo menos aliviariam o nosso sofrido povo, cansado de pagar escorchantes impostos, sem que sinta os apregoados benefícios deles revertidos em seu favor, no seu dia a dia.

(Artigo publicado na página 2, de Opinião, do Diário do Povo, em 14 de fevereiro de 1981)


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