Saturday, December 15, 2012

Mapa europeu passa a ter três novos países

Pedro J. Bondaczuk

O cambiante mapa da Europa ganhou, ontem, novos traços, com o reconhecimento formal, por parte do novo governo soviético, agora exercido pelo recém criado Conselho de Estado, da independência dos três países bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia.

Este é um assunto, portanto, que deixa definitivamente o terreno da controvérsia e da dúvida para se transformar em certeza. O presidente Mikhail Gorbachev cumpriu as promessas que havia feito durante a semana, quando da realização da tensa e derradeira sessão do Congresso dos Deputados do Povo (agora extinto), de que reconheceria oficialmente a separação.

O Cremlin, inclusive, foi mais longe. O ministro de Relações Exteriores soviético, Bóris Pankin, declarou que seu país vai apoiar a filiação de lituanos, letões e estonianos às Nações Unidas.

Quantos traços mais o continente europeu vai receber daqui para a frente, alterando fronteiras nacionais, vai depender do desenrolar dos acontecimentos. A próxima mudança previsível deve ocorrer na região dos Balcãs, com a independência da Eslovênia e da Croácia.

A comunidade internacional está ficando irritada com a intransigência das partes no conflito, que ameaça banhar de sangue a Iugoslávia. Até os sérvios já admitem o fracionamento da instável federação, embora pretendam obter alguma vantagem territorial nisso tudo. Daí suas tentativas de tomar, a poder de armas, partes do território da República rebelde.

A própria União Soviética pode apresentar novas surpresas. A nova confederação de Estados soberanos que está nascendo é encarada com indisfarçável cepticismo, interna e externamente. A impressão que se tem, no entanto, é a de que enquanto os presidentes Mikhail Gorbachev e Bóris Yeltsin continuarem atuando em conjunto, como aliados e não como adversários, as tensões nacionalistas estarão sob controle. Muita controvérsia, todavia, ainda virá à tona, exigindo imensa capacidade de diálogo e negociação.

Mas não são somente a União Soviética e a Iugoslávia os únicos palcos de aspirações separatistas, embora em outras partes os movimentos rebeldes virtualmente não tenham chances de vingar. A região do Alto Adige, na Itália, por exemplo, aspira a sua reintegração à Áustria.

Flamengos e valões mantêm histórica rivalidade na Bélgica, apesar de não haver notícia de nenhuma tentativa secessionista. A Espanha está às voltas, há anos, com autonomistas catalãos e principalmente bascos. Estes últimos também reivindicam parte do território francês, além de três províncias espanholas onde a etnia é predominante.

Na Europa Central, há o caso da Checoslováquia, também uma federação, mas menos complicada do que a iugoslava ou a soviética. Os eslovacos têm um movimento separatista organizado, objetivando conquistar a independência de sua República, eminentemente agrária, por se sentirem discriminados pelos checos, em cujo território se concentra o poderoso parque industrial do país.

Todavia, ali, os autonomistas não vêm encontrando grande respaldo, ou pelo menos não tão expressivo quanto em outras regiões européias. O fato é que o continente vem sendo palco, mais uma vez, de surpreendentes e dramáticas transformações.

Aliás, a vida da Europa sempre foi caracterizada por esses períodos de reassentamentos, por sucessivas mudanças em seu mapa geopolítico. Afinal, dois dos mais importantes países europeus, Itália e Alemanha, ainda sequer completaram um século e meio de formação.

Os impérios Austro-Húngaro e Otomano se decompuseram há menos de cem anos. Ressalte-se que Letônia, Lituânia e Estônia, que acabam de renascer das cinzas, em termos de soberania, gozaram de independência por apenas 20 anos, nos últimos 250, desde que, em conseqüência do desmembramento da Polônia, foram anexadas pelos czares ao enorme império russo, este sim um verdadeiro milagre de "equilibrismo" entre suas 101 etnias.

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 7 de setembro de 1991).


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