Thursday, December 13, 2012

Alimento perfeito de ação terapêutica

Pedro J. Bondaczuk

O mel é o que se pode classificar, sem receio de erro, de alimento completo. Contém, em sua composição, elementos essenciais à saúde humana, como proteínas, vitaminas, aminoácidos e sais minerais. Além de alimentar bem as pessoas, exerce importante função terapêutica, tanto (e principalmente) para prevenir doenças, quanto para curar muitas delas depois de instaladas. Desde eras das mais remotas, é usado como medicamento, ora entrando na composição de muitas fórmulas, ora receitado puro. É, pois, uma bênção, uma dádiva, um presente da natureza.

Para exemplificar sua importância preventiva e curativa, cito a importância do mel na farmacopéia do Egito antigo. Era matéria-prima essencial de 500 dos 900 medicamentos desse povo de conhecimentos assombrosos em todos os campos de atividade (levando em conta a remota época do seu apogeu). Sua Medicina era das mais avançadas do mundo e seus cirurgiões realizavam, até, e com relativa margem de sucesso, trepanações, ou seja, intervenções no cérebro, quando as circunstâncias exigiam.

A ciência atual sabe, com exatidão, a fórmula completa do mel. Todavia, ninguém, rigorosa e absolutamente ninguém conseguiu, até hoje, fabricar um miligrama que fosse, com a pureza e as propriedades nutricionais e terapêuticas do produto natural. Sua única e exclusiva criadora e produtora (a abelha claro) detém o segredo da produção. É como se detivesse a patente que lhe garantisse absoluta exclusividade. Vocês não acham assombroso o fato de um inseto tão minúsculo e frágil superar a inteligência e engenhosidade humana nem que seja nesse único mister? Eu acho e isso já me propiciou inúmeras reflexões. Seria questão de mero instinto ou haveria o resquício, posto que ínfimo, de inteligência? Tenho lá minhas dúvidas.

As abelhas, ao colherem o pólen das flores para a produção do mel, realizam outra importante função na natureza. São as responsáveis pela reprodução de uma grande variedade de plantas, boa parte das quais utilíssimas ao homem. Executam essa tarefa mediante o processo de polinização. É verdade que essa função reprodutiva de diversos vegetais é exercida, também, por vários outros insetos. Todavia, não o é com a seletividade das abelhas.

Elas colhem o pólen somente de flores atóxicas, de aroma agradável ao olfato humano, evitando de se envenenarem ou de produzirem mel impróprio para o consumo, tanto delas mesmas quanto o nosso. Isso, porém, já não ocorre com os demais insetos. Há flores que contêm pólen sumamente tóxico que, se ingerido ou aspirado por alguém, poderia, até mesmo, causar sua morte. Outro ponto, portanto, a favor dessa operosa e hábil artesã.

Outro aspecto a destacar é a variedade do produto. Ao contrário do que o leigo pensa, há dezenas de tipos de mel produzidas pelas também várias espécies de abelhas e de marimbondos, dependendo da origem da “matéria-prima”. Querem outra sofisticação do produto? Lá vai. E refere-se ao néctar. Se este provier de uma única flor, o produto será o mel monofloral e se, em contrapartida, for originário de várias delas, teremos a variedade plurifloral.

E como ocorre a produção? O processo começa com a coleta do pólen. O apuradíssimo sistema olfativo das abelhas indica-lhes qual a flor que contém a matéria-prima adequada, pura e, sobretudo, atóxica. Feita a coleta, o que foi colhido deposita-se no papo, ou vesícula nectífera da diligente operária. Esse órgão contém enzimas que decompõem o açúcar existente no néctar em frutose e sacarose. Durante o transporte da matéria-prima rumo à colméia, diversas secreções são adicionadas ao que foi colhido. E o processo químico que irá redundar no mel está em pleno andamento. Afinal, não sde pode perder tempo. E estas diligentes trabalhadoras não o perdem.

Pelo menos cinco enzimas essenciais à reação estarão, então, presentes no processo: invertase, diástase, glicose oxidase, catalase e fosfatase; Ao retornar à colméia, a cota de mel dessa operária está virtualmente pronta. A abelha deposita, então, a sua parte em favos de cera onde o excesso de água será retirado. E... está pronto o mel. Fácil, não é? Parece. Mas homem algum consegue e jamais conseguiu reproduzir o processo sequer em laboratório, quanto mais industrialmente.

A composição do mel é variada e complexa. Salvo uma ou outra ligeira diferença, o produto contém 75% de hidratos de carbono, notadamente de açúcares simples, como glicose e frutose. Outros 20% são água. É, porém, nos 5% restantes que estão substâncias importantíssimas para o homem, como sais minerais (cálcio, ferro, cobre, magnésio, fósforo e potássio, entre outros), cerca de metade de todos os aminoácidos existentes e vitaminas, sendo todas as do complexo B e mais C, D, E e PP. Basta ou querem mais? Pois lá vai: o mel contém antioxidantes, principalmente flavonóides e fenólicos, que retardam o envelhecimento e a degradação das células humanas e prolongam a juventude. Vocês conhecem outro produto qualquer que tenha tantas propriedades alimentares e terapêuticas e, portanto, tão benéficas à nossa saúde, quanto este? Não creio!

Por isso os poetas, quando querem simbolizar a excelência, criam metáforas e mais metáforas alusivas ao mel. E, com isso, criam maravilhas, que nos encantam o espírito, embevecem a mente e suscitam sadias emoções, como, por exemplo, este memorável soneto, extraído dos meus “arquivos implacáveis”, e que partilho com vocês:

Beija-flor

João Marino Delize

De manhã, um beija-flor alvissareiro
Que voa e paira sobre o meu jardim
Beija sempre flores no meu canteiro
E vai se embora sem ligar para mim

Esta ave é tão leve que paira no ar
Com suas penas lindas e furta-cores
O mel das flores quer sempre sugar
E leva este nome por beijar as flores

Só se chover muito é que não vem
E no seu lugar não manda ninguém
O seu trabalho eu vejo como criança

Enquanto contemplo esta avezinha
Sei que a natureza não está sozinha
E isto ainda vem me trazer esperança.

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