Pedro J. Bondaczuk
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, a menos que ocorra um desses imprevisíveis acidentes de percurso, deverá obter, hoje, histórica e consagradora vitória nas urnas, se tornando a primeira chefe de governo da Grã-Bretanha a conseguir três mandatos consecutivos. Ela já é a única mulher a ocupar essa função no país, em todos os tempos, e pode se dizer, sem medo de engano, que é, na atualidade, a pessoa do seu sexo com a maior soma de poder em suas mãos em todo o Planeta. Afinal, não dirige um país qualquer. Comanda os destinos daquela que é a terceira maior potência do mundo!
É evidente que, em se tratando de eleições, ninguém vence por antecipação. Foram vários os casos em que favoritos absolutos deixaram escapar, no último momento, por um desses erros incríveis de avaliação, a vitória, que parecia assegurada. Ou porque confiaram em demasia nas pesquisas, ou por terem feito pronunciamentos inoportunos de última hora, ou por outro fator qualquer.
Aas consultas junto ao eleitorado, divulgadas ontem, deram conta que a disputa de Thatcher com o trabalhista Neil Kinnock será apertadíssima. Este, como não poderia deixar de ser, acredita, ainda, numa vitória de último momento. Mas, convenhamos, em se tratando de Grã-Bretanha, surpresas dessa espécie são altamente improváveis.
O sucesso da primeira-ministra deve-se, basicamente, ao mesmo fator que tornou Ronald Reagan, em determinado momento, o presidente mais popular da história dos Estados Unidos (antes do escândalo Irangate, evidentemente). Ela devolveu ao seu povo o orgulho nacional, após seguidos reveses nas décadas de 60 e 70.
Primeiro, foi o processo de descolonização acelerada, que pôs fim a um império magnífico, que chegou a ser o mais poderoso do século. Depois, o país enfrentou crises econômicas e políticas extraordinárias.
Thatcher, ao assumir em 1970, estava, antecipadamente, vencida pelos prognósticos. Muitos não lhe davam sequer um ano de governo. Está completando oito e com todas as indicações de conseguir mais cinco.
Vitória britânica na Guerra das Malvinas devolveu à população desse país o orgulho nacional, que estava seriamente abalado pelas seguidas tempestades que se abateram sobre a Grã-Bretanha. Só que, ao contrário de Reagan, que conseguiu curar, entre os norte-americanos a Síndrome do Vietnã, a primeira-ministra não cometeu bobagens, do tipo Irangate.
Não se desviou um único milímetro do objetivo traçado desde o primeiro instante. Enfrentou, olimpicamente, greves selvagens e explosões de violência. Mostrou possuir nervos de aço e gosto pelo poder. Por isso, ficará conhecida, para sempre, como a dama-de-ferro e o único chefe de gabinete a reeleger-se duas vezes seguidas na Grã-Bretanha. Dificilmente haverá zebra nesta eleição.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 11 de junho de 1987).
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