Saturday, December 15, 2012

Enfocando a apicultura

Pedro J. Bondaczuk

A operosidade e, em especial, a utilidade das abelhas vêm inspirando, através dos tempos, poetas, filósofos e outros tantos escritores que vêem nelas exemplos dignificantes, a serem seguidos por nós, humanos, em nossos relacionamentos do dia a dia. Quanto mais se pesquisa a propósito, mais evidências do convívio – nem sempre pacífico, é verdade – entre esses providenciais insetos e o homem vêm à tona, mostrando que ele já se dava há muitos milênios. Há muito tempo (há quanto? É impossível de se saber sequer com relativa aproximação), os primitivos habitantes das cavernas colhiam o mel quando encontravam, casualmente, alguma colméia. Como suas produtoras são aguerridas, claro, tinham que se haver com férrea (diria ferocíssima) oposição delas. As abelhas defendiam, com o sacrifício da vida, suas comunidades, suas rainhas e seu precioso produto, com energia e furor. E tome picadas! A atividade da coleta, posto que compensadora, era, então, como se pode supor sem margem de erro, cheia de riscos e... de dor.

Com o passar do tempo, no entanto, os coletores foram aprendendo a se defender, utilizando diversas formas de proteção contra as doloridas picadas. E como doem!!! A princípio, destruíam as colméias (e, consequentemente, matavam as produtoras de mel), para recolher, sem riscos, os cobiçados favos desse produto tão saboroso e saudável. Lá um certo dia, porém, alguém teve a genial idéia de, em vez de sair à procura, a esmo, de colméias, com risco de sequer encontrá-las, trazê-las para perto de onde morava, ou mesmo construí-las, fazê-las artificiais. Para este caso, o tal “gênio” pré-histórico teve a inspiração e o cuidado de transportar a rainha para esse que pretendia fosse o novo lar de um grupo de abelhas. Nascia, então, nova, importante e uma das mais antigas atividades humanas que, se supõe, precedeu, em muito, a agricultura e a pecuária: a apicultura.

Quem teve foi o autor dessa idéia prática e genial? Quando? Onde isso ocorreu? É impossível de se saber com a mínima aproximação, levando em conta que as primitivas c antiqüíssimas civilizações eram ágrafas, ou seja, não contavam com nenhuma espécie de linguagem escrita para registrar seus feitos, idéias, história etc. Pode-se, apenas, especular, com absurda probabilidade de erro. O homem contemporâneo não sabe virtualmente nada do passado de seus remotíssimos ancestrais. Conhece (ou supõe conhecer) meros “retalhos” dele, colhidos aqui e ali, e mesmo assim com base, apenas, em evidências, que geram meras hipóteses, mas não fatos que possam ser comprovados.

Consultando a enciclopédia eletrônica Wikipédia, esta revela, por exemplo, que “foram encontrados pedaços de âmbar transparente envolvendo abelhas, em pesquisas arqueológicas”. Muito bem, de quando data esse material? De onde procede? Não há nenhuma referência a nada disso. O que se conhece, por textos antiqüíssimos, das primeiras civilizações que já tinham escrita, são inúmeros relatos da utilização do mel tanto como alimento, quanto com finalidades terapêuticas. Esses escritos, no entanto, omitem a procedência do produto. Não informam se o mel era obtido de colméias encontradas alhures, ao acaso, ou se provinha das cultivadas pelo homem.

Wikipédia informa que “há registro gráfico de arte rupestre representando abelhas, datado do neolítico, em caverna situada onde fica atualmente Valência, na Espanha”. Tudo bem, o que isso prova? Demonstra, apenas, o que outras tantas evidências haviam comprovado. Ou seja, que os primitivos habitantes das cavernas já conheciam o mel (e, consequentemente, sua produtora). Mas quando e onde surgiu a apicultura? Não se sabe. Há evidências até claras de que isso ocorreu ainda na pré-história e, talvez, simultaneamente, no Egito, na Mesopotâmia, no que viria a ser a Grécia e na Península Itálica. Mas...

A enciclopédia eletrônica informa, ainda: “Escavações feitas em Feston, na ilha de Creta, por companhias arqueológicas italianas, trouxeram à luz colmeias de barro que pertenceram à época minóica, 3400 a.C., bem anterior a Hesíodo e Homero. Outros achados destas escavações revelam o alto estágio da apicultura desta época. Entre eles estão duas jóias de ouro; uma delas mostra duas abelhas, datada de 2500 a.C., e foi encontrada nas escavações da antiga cidade de Cnossos”.

Bem, chega de História, pelo menos por hoje. Volto a dirigir o foco dessas descompromissadas reflexões para a Literatura. E reitero que o comportamento das abelhas inspirou (e evidentemente ainda inspira) inúmeros escritores e filósofos através do tempo. Um deles, por exemplo, foi o francês Victor Hugo, um dos meus preferidos. Esse consagrado poeta e romancista escreveu, em um de seus tantos textos, naquele seu característico estilo enfático de dizer as grandes verdades e de nos induzir à reflexão, esta pérola de sabedoria: “Nada se assemelha à alma como a abelha. Esta voa de flor para flor, aquela de estrela para estrela. A abelha traz o mel, como a alma traz a luz”. E não cabe a comparação? Claro que sim!! Por falar em poeta, o inglês William Blake também se referiu a essa diligente operária do reino animal. Escreveu este verso, que integra memorável poema, de cujo título não me recordo: “A abelha atarefada não tem tempo para a tristeza”. Convenhamos, as pessoas também não têm. Só as ociosas, claro, podem entregar-se a queixas e lamúrias.

Até o sisudo e polêmico filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, deu lá a sua palhinha a propósito e fez essa sábia comparação: “Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o seu veneno”. Ou seja, uns extraem da leitura o que os engrandece e aperfeiçoa. Já outros... só conseguem extrair (e isso quando extraem algo), mau humor, pessimismo e horror.

Todavia, a referência literária às abelhas mais lírica e bela, que partilho com vocês, é esta letra para uma canção infantil composta pelo saudoso “poetinha”, Vinícius de Moraes (tinha que ser ele!). Deliciem-se com seus versos mágicos, como eu me deliciei:

As abelhas

Vinícius de Moraes

“A AAAAAAABELHA mestra
E aaaaaaas abelhinhas
Estão tooooooodas prontinhas
Pra iiiiiiir para a festa.

Num zune que zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim.

Da rosa pro carvo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
Volta pro cravo.

Venham ver como dão mel
As abelhinhas do céu!”

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