Monday, December 03, 2012

Jornalismo como destaque do ano

Pedro J. Bondaczuk

O ano está terminando e como sempre acontece nesse período, é hora de se fazer um balanço dos programas veiculados pela TV. E olhando do alto para o que aconteceu, a conclusão a que se chega é um tanto decepcionante. Depois de uma excelente programação em 1984, parece que as emissoras caíram novamente no marasmo. A exceção, talvez, tenha sido a área de jornalismo, principalmente porque os fatos do período, geralmente trágicos, ajudaram.

No plano nacional, por exemplo, tivemos duas eleições, uma indireta e outra direta, ambas com coberturas aceitáveis pelos vários canais. Durante um mês inteiro, o País também viveu o drama da doença (e da trágica morte) do presidente eleito Tancredo Neves, ocasião em que a população permaneceu quase 24 horas colada na TV, à espera de alguma notícia tranqüilizadora a respeito do homem que naquele instante cristalizava todas as esperanças nacionais, que afinal acabou não vindo. A cada novo boletim, a tortura aumentava, com os anúncios de novas cirurgias ou outras infecções que tomavam de assalto o debilitado organismo do paciente. Foi um trabalho onde os profissionais projetaram a sua própria emoção.

Finalmente, no domingo de 21 de abril, um feriado (tinha que ser no dia de Tiradentes!), toda a nação chorou em frente ao vídeo, praticamente no fim da apresentação do “Fantástico”, com a notícia há muito tempo aguardada, mas que as esperanças populares teimavam em não aceitar como o desfecho mais provável para a doença do líder político. E as emissoras de televisão estiveram impecáveis no registro desse momento doloroso, a morte de Tancredo Neves, que hoje já faz parte da história contemporânea brasileira. Mostraram as despedidas da cidade de São Paulo ao presidente falecido, as cenas de dor e de insânia ocorridas em Minas Gerais, ocasião em que algumas pessoas acabaram mortas pisoteadas por uma inesperada reação da turba e ato final desse drama: o sepultamento de Tancredo Neves no cemitério da sua São João Del Rey, com todos os discursos e cerimônias que cercaram esse acontecimento.

Um segundo fato jornalístico que teve uma boa cobertura por parte da TV, esse de caráter internacional, foi o terremoto que sacudiu a capital mexicana, matando um número de pessoasx que até hoje ninguém sabe ao certo (uns falam em oito mil, outros em dez mil e outros até em vinte mil vítimas fatais). Principalmente a Rede Globo, mostrando uma grande agilidade, despontou nessa ocasião, pois em pouco tempo deslocou uma equipe de reportagem para o local da tragédia, mostrando imagens chocantes, que dificilmente o telespectador poderá esquecer.

Outra área em que o trabalho das emissoras deve ser destacado, embora sem apresentar qualquer inovação, é a esportiva. Apesar de neste ano não ter acontecido nenhum evento do tipo Olimpíadas, as transmissões foram interessantes, com destaque para o desempenho da equipe de Sílvio Luís, da TV Record, especialmente durante a realização das eliminatórias para a Copa do Mundo envolvendo a Seleção Brasileira. A Rede Globo tentou implantar algumas novidades nessa ocasião, como um contato direto com o público durante os jogos, feito em diversas cidades brasileiras. Mas acabou pecando pela improvisação.

Alguns dos repórteres destacados para esse tipo de trabalho acabaram trocando os pés pelas mãos e o resultado foi decepcionante. Entretanto, durante o correr do Campeonato Paulista, Oliveira Andrade deu show de narração e a equipe paulista de esportes da emissora demonstrou que já merece um pouquinho mais de atenção nas transmissões por parte da direção da rede, principalmente levando-se em conta a Copa do Mundo do próximo ano. Na média geral, os comandados de Sílvio Luís, que continua falando a linguagem das arquibancadas (e isso é muito importante), acabaram levando a melhor sobre os demais, com um registro especial para a Bandeirantes, principalmente para o seu “Show de Esportes”.

Mas se a Globo perdeu para as concorrentes no futebol (em nível nacional), manteve a tradição no que diz respeito à cobertura automobilística. Especialmente quando da realização do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, desenvolvido no Autódromo de Jacarepaguá. Esse trabalho foi perfeito sob todos os aspectos. Desde o programa de véspera, focalizando os treinos, tomadas de tempo e grid de largada, até os resumos mostrados durante o “Fantástico”. Pena que a estrela Ayrton Senna, a grande vedete sem dúvida da temporada, começasse a brilhar apenas nas últimas corridas e que Nelson Piquet contasse com um carro muito ruim neste ano. Mesmo assim, a equipe da Globo conseguiu manter o interesse popular até até o último grande prêmio, realizado na Austrália, transmitido na madrugada em que começou a vigorar o novo horário de verão.

A decepção do crítico (e certamente do telespectador) concentrou-se na área de shows, setor que dá margem à criatividade e onde ela praticamente inexistiu. Isso, contudo, abordaremos na próxima semana. Mas adiantamos que numa média geral, envolvendo todo tipo de programa, as emissoras decepcionaram. O público merecia muito mais do que o festival de repetições e de velhos e surrados clichês que lhe foram impingidos sob rótulos atrativos, mas que não conseguiram esconder a pobreza da mensagem transmitida. Ninguém sabe se o problema foi de falta de verba, de imaginação, de vontade ou, quem sabe, até de competência. O que ficou evidente é que algo faltou.

(Comentário publicado na página 22, editoria de Artes e Variedades, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1985).

 
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