Pedro J. Bondaczuk
O pragmatismo do novo presidente iraniano, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, fazendo um discurso bastante realista e sobretudo revelador, tende, em pouco tempo, a amainar as tensões nesta parte tão estratégica do mundo, a "jugular do petróleo" do Ocidente, que é o Golfo Pérsico.
O reflexo de sua ação moderada, certamente, se fará sentir também no Oriente Médio, mais especificamente no Líbano, onde há cerca de dois mil guardas revolucionários do Irã treinando e lutando ao lado dos xiitas desse país e existem vários grupos que seguem a orientação política de Teerã. Afinal, foi ele que, logo após ter assumido a chefia das Forças Armadas da República Islâmica, recomendou a aceitação do cessar-fogo com o Iraque, sendo um dos primeiros líderes de sua nação a perceber que tal conflito era uma guerra destinada a não ter vencedores.
Muitos podem argumentar que suas promessas de reconstrução nacional, de aumento da produtividade interna e do combate à miséria existente atualmente no Irã terão um sério obstáculo nos membros radicais existentes no governo, em especial no Legislativo, onde o seu sucessor na presidência do Parlamento, Mehdi Karubi, é notoriamente desse tendência e sobretudo anti-ocidental.
Convém destacar, no entanto, o extraordinário "jogo de cintura" de Rafsanjani, que lhe garantiu a sobrevivência política (e inclusive física) nos anos do período de maior fervor revolucionário. E não somente isso. Mesmo fiel às suas posições, o novo presidente iraniano conseguiu progredir na carreira, conquistar as boas graças do falecido mentor da Revolução Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, e de quebra, obter uma ampla reforma constitucional, aprovada em plebiscito realizado simultaneamente à eleição presidencial de 28 de julho passado, que tirou o caráter meramente decorativo do cargo que ele passa a exercer, para o tornar o de maior preponderância.
Questões como a dos reféns ocidentais no Líbano, certamente merecerão prioridade de sua parte, até porque o país precisa do beneplácito ocidental para obter dinheiro que financie a sua reconstrução. O que não se pode (e não se deve) é esperar soluções miraculosas. Este processo deverá se arrastar ainda por algum tempo, pois Rafsanjani , certamente, precisará vencer resistências dos radicais.
Além disso, prático como é, com toda a certeza vai tentar barganhar com os Estados Unidos, numa base que não dê ao mundo a impressão de que a superpotência do Ocidente estaria pagando algum eventual resgate pelos cativos. Mas a ascensão de um homem equilibrado, desse porte, à presidência iraniana, é um prenúncio de tranqüilidade para todo o mundo após anos de agitação no Golfo Pérsico.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18 de agosto de 1989).
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