Pedro J. Bondaczuk
O que cocê diria, caríssimo leitor, se lhe informassem da existência de uma comunidade exclusivamente feminina, em que o macho tivesse um único e exclusivo papel: o de fecundação, com vistas à reprodução da espécie e que, após cumprida essa missão, fosse expulso do grupo e, caso relutasse em sair, viesse a ser impiedosamente nmorto? Acharia que se trata de incoincebível barbaridade? Duvidaria da informação? Não, paciente leitor, não estou me referindo às lendárias amazonas, que provavelmente existiram apenas no terreno da lenda. Alguns acharão cruel, sem dúvida, esse tipo de sociedade. Outros talvez concordem e até apoiem um matriarcado tão absoluto. Afinal... “em cada cabeça, uma sentença”.
Todavia, existe alguma comunidade desse tipo em algum recanto remoto e escondido do mundo, quem sabe na Ásia, na África ou mesmo em desconhecida e perdida ilha do Oceano Pacífico? Ao que se saiba, não. Não, pelo menos, com essas características, embora haja determinadas sociedades matriarcais que se aproximem razoavelmente disso. Porém, no reino animal, no dos seres ditos “irreacionais”, ela existe e quiçá há milhões de anos antes da existência do homem. E funciona da mesmíssima forma ao longo de tanto tempo. Qual é essa comunidade tão radicalmente feminina? O leitor perspicaz certamente já depreendeu que se trata da forma como as abelhas estão organizadas e se relacionam; Isso funcionaria enbtre os humanos? Dessa forma tão radical, ouso afirmar que não. Mas... nunca se sabe.
A natureza estabeleceu, por instinto (pelo menos é isso que nós, humanos, supomos e colocamos, até, como dogma) papel específico para cada membro de uma colméia, sejam eles quantos forem, e que é exercido, sem o mínimo desvio, do nascimento à morte. E jamais se soube que houvesse, por qualquer razão, a ínfima violação nessa tão bem urdida estrutura. Predomina, entre as abelhas, inflexível e imutável, o “matriarcado”, ou seja, a preponderância absolutíssima da fêmea.
O macho, denominado de zangão, tem apenas uma, e única serventia: fecundar a abelha rainha. Até o momento da fecundação é nababescamente alimentado sem ter que fazer nada para merecer essa mordomia. Finda sua tarefa, porém, é expulso da colméia e via de regra morre de fome, já que a natureza não o dotou de recursos para obter o próprio alimento.
Há casos em que eles tentam resistir à expulsão. Quando isso acontece, é imediatamente executado, ou serja, morto pelos habitantes da colméia. Afinal, o zangão não sabe fazer (e não faz) nada, a não ser a tarefa específica que a natureza lhe determinou. Ademais, é grande glutão: gosta de comer, mesmo não fazendo nada para merecer a comida. Como se vê, as leis da natureza são inflexíveis, ao contrário de muitas das humanas.
A colméia, fazendo uma comparação com as sociedades dos homens, é uma monarquia absoluta. A rainha é a única com potencial de procriação. É, pois, a mãe de todos os componentes das comunidades, sejam eles quantos forem, sem nenhuma exceção. Daí gozar de todas as regalias. Por exemplo, a de ser alimentada pelos demais membros, sem necessidade de fazer nada a não ser gerar as próximas gerações.
Uma abelha rainha gera, ao longo da vida, em média, 100 mil abelhas! Isso é que é fertilidade!! Entre suas prerrogativas está a de ser alimentada com um produto superior – de propriedades miraculosas para os humanos que venham a consumi-lo –: a geléia real. E tem exclusividade no seu consumo. Esse alimento especial, e superior, é vedado às outras abelhas e, claro, ao zangão. Estes têm acesso à geléia real somente numa única ocasião e por por rigorosos dois dias: é logo após o nascimento. Depois... O produto lhes é rigorosamente inacessível. Não sei o que vocês estão achando dessas reflexões. Da minha parte, estou me divertindo à beça em redigi-las.
A rainha é criada com todo o cuidado e desvelo em uma célula especial, apropriada para esse fim, e goza não somente de todas as regalias, mas, sobretudo, de completa proteção. As abelhas “sabem”, por instinto (seria apenas por instinto?) da sua importância, pois ela é a personagem única que assegura a perpetuação da espécie. Mas, em relação ao zangão, esse cuidado só dura até o momento dele se acasalar. Depois...
As rainhas são preciosíssimas não somente para os membros das colméias, mas também para os apicultores. E nem é preciso destacar a razão dessa importância, que salta aos olhos. O macho tem uma característica que é peculiaríssima. É o único integrante da colméia que se origina de um ovo não fecundado. Ou seja, é fruto exclusivíssimo da fêmea, sem nenhuma participação de outro zangão para a sua geração. Não tem, portanto, pai, apenas mãe. Esse é outro dos tantos caprichos da natureza. O elemento que lhe dá origem permanece 14 dias “empopado”, ou seja, envolvido numa casca, com os nutrientes necessários para seu desenvolvimento e condições adequadas de temperatura e de luz, até que os embriões se desenvolvam, amadureçam e se tornem adultos.
Depois disso, o zangão fica aguardando o momento do vôo nupcial, que se dá, sempre, a uma altura específica, de onze metros acima do solo, oportunidade em que fecunda a rainha (na verdade, sua mãe). Cumprida a tarefa... bem, depois disso, sua entrada na colméia passa a ser rigorosamente proibida. Dessa maneira, sem o precioso mel (que não sabe e não pode produzir) o macho morre de fome. Ou é morto a ferroadas pelas belicosas defensoras da colméia.
A rainha vive, em média, de 3 a 6 anos. E passa toda a vida sendo fecundada por novos zangões e pondo ovos e mais ovos, que irão gerar milhares e milhares de abelhas. Algumas chegam a pôr três mil por dia! Haja fertilidade! Reitero que as abelhas nascem com funções predeterminadas, específicas, e múltiplas, que executam por toda a vida. As operárias, tão logo saem do ovo, devem, antes de voarem para o mundo à cata do pólen que, ainda em vôo, transformam em mel, que limpar os alvéolos, o assoalho e as paredes das colméias. Este é outro precioso exemplo que esses magníficos insetos dão ao homem. Ou seja, o da limpreza, da higiene e do estrito cuidado com o local em que habitam.
Mas as operárias têm outras tarefas específicas, exclusivas e estas são tantas que, para descrevê-las todas seria necessário todo um extenso capítulo. Deixo, aos curiosos, a tarefa de pesquisá-las. Só destaco que de sua eficiência e presteza dependem a alimentasção, a temperatura, o fornecimento de matérias-primas, a imunização e, principalmente, a defesa contra intrusos da colméia. E elas dfefendem-na muito bem. Quem já levou uma ferroada de abelha sabe o que quero dizer.
Para não fugir à regra de trazer sempre para o terreno da Literatura qualquer tema que aborde, partilho, com vocês, este poema extraído do meu arquivo, de uma poetisa pouco conhecida, mas que revela imenso potencial: .
Abelha rainha
Carmen Vervloet
“Se do amor eu sinto o doce gosto
é porque sua boca beija a minha
e se de mel e pólen ele é composto
eu sou sua ardente abelha rainha
Envolvo-lhe em meu vôo nupcial
seduzo-lhe... e feliz me fecunda
alimento-me da sua geléia real
mas posso causar ferida profunda
Eu sou abelha livre e guardo defesas
você é ciumento... zangão por natureza
não ouse me iludir com falsas delicadezas
Sou feroz, sagaz, impulsiva e cheia de ardilezas
Sou fêmea incendiada e vitaminada
Sou soberana, inflexível e determinada
Posso ser sua eterna namorada...
Mas se sair dos trilhos... perder a linha
e me trair com outra açucarada abelhinha
Elimino-lhe com uma só ferroada.
Sou abelha rainha, impetuosa e apaixonada!”
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment