Pedro J. Bondaczuk
Os curdos, que receberam este nome somente após o século VII da nossa era, depois que se converteram à fé muçulmana, lutam por uma pátria não apenas há séculos, mas há três milênios. A etnia foi mencionada por um historiador grego já no ano de 420 antes de Cristo.
A comunidade está espalhada por todo o mundo, embora o grosso dos seus membros se concentre em cinco países, onde chegam a 28 milhões de pessoas: Turquia (12 milhões), Iraque (5 milhões), Irã (3 milhões), Síria (500 mil) e União Soviética (7,5 milhões).
Durante todo este tempo, esse povo sempre vagou pela Mesopotâmia e pelas regiões montanhosas, em especial na fronteira turco-iraquiana, sem despertar grandes atenções mundiais para a sua luta. Agora, mais uma vez, os curdos estão no centro do palco dos acontecimentos internacionais, mas como subprodutos da guerra do Golfo Pérsico.
Sua situação está despertando piedade, porque a atual perseguição é movida por Saddam Hussein, talvez o homem mais odiado da atualidade, no Ocidente. Isto não quer dizer, todavia, que este seja o maior genocídio já praticado contra eles no correr de sua longa e acidentada história.
A diferença é que, agora, a mídia internacional resolveu prestar atenção nas aflições dessa comunidade. A pergunta que se faz é: até quando? Até novos dramas serem produzidos, para saciar a necessidade de notícias dos meios de comunicação? Até que os curdos, finalmente, obtenham a pátria pela qual vêm lutando há pelo menos três milênios?
Esta última hipótese já está, a priori, descartada. Os Estados Unidos fecharam questão quanto à integridade territorial iraquiana, de olho numa futura queda de Saddam Hussein. O presidente do Iraque acaba de conceder autonomia ao Curdistão. Mas tal decisão, agora, será para valer ou repetirá outra, tomada pelo mesmo regime do Partido Baath, em 1970, que caiu, simplesmente, no esquecimento?
Não estaria, agora, o “carniceiro de Bagdá” agindo como o Ocidente? Seu objetivo atual não seria o de conquistar a simpatia da opinião pública, depois de ter desgastado a imagem inclusive com seus raros e esparsos aliados do tempo da guerra?
Teme-se que a resposta a todas estas perguntas seja uma só, e positiva. Ou seja, que mais uma vez, assim que os ânimos do conflito esfriarem, esse povo voltará a cair no esquecimento, enxotado, de um lado para outro, sem uma pátria segura onde cultivar sua cultura riquíssima e suas milenares tradições.
(Artigo publicado na página 44, Especial, do Correio Popular, em 25 de abril de 1991)
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