Friday, June 29, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - União de esforços


União de esforços


Pedro J. Bondaczuk


Se o plano de estabilização econômica lançado pelo presidente Fernando Collor de Mello, de um lado, provocou efetivo arrocho na espiral inflacionária existente entre nós, afastando de vez os riscos quanto a um possível processo de hiperinflação, de outro, no entanto, vem ocasionando sérias apreensões e incertezas sobre o futuro. E nesse particular, convenhamos, não há como esconder o sol com a peneira. Objetivou o governo, com aquela iniciativa, nivelar não só as pessoas entre si, como ainda as regiões do País, no alcance dos mesmos propósitos e em meio também de atribuições idênticas. O Estado de São Paulo, por exemplo, considerado como o carro-forte da nossa economia, figurando há muito como o coração do Brasil, ficou situado, ironicamente, no mesmo nível de outras regiões, carentes de tudo. A impressão no momento é de que o nosso Estado vai pagar um preço bem alto nessa tentativa inteiramente válida de se acabar com a inflação.

O certo é que o parque industrial paulista está funcionando praticamente na base de compasso de espera, aturdido ainda pelo vigor do choque aplicado na economia. As demais atividades também operam com idêntico marasmo. Como assinalou o economista José Pastore, "ao buscar a cura monetária, o Plano Collor acabou simultaneamente com a moeda e com o mercado". E sem dinheiro, sejamos francos, pouco ou nada se pode fazer de prático.

Passados já mais de trinta dias da aplicação daquele plano, apesar de amainada toda aquela espécie de poeira levantada na tarde do dia 16 de março, pelo menos aqui em São Paulo, as coisas se apresentam um tanto desanimadoras. O desemprego e a paralisação dos negócios começam agora a preocupar seriamente as forças vivas do trabalho e da produção, movimentando inclusive autoridades do Estado e dos municípios. Parece até que, a cada dia que passa, ficam mais difíceis os ajustes à filosofia estabelecida pelo plano. Ainda há pouco, cerca de mil pequenos empresários, reunidos em São Paulo, tomaram a iniciativa de alertar o governo para a gravidade da situação existente em nosso Estado. Todos reclamam quanto à falta de dinheiro para o pagamento da folha de pessoal no corrente mês.

Por outro lado, em meio a essa fase de crise aguda, sem o vislumbre de qualquer luz no final do túnel, os chamados gerentes de Recursos Humanos passaram a desenvolver um trabalho de grande expressão na vida das empresas. Cabe a eles, nesta hora crucial de decisões firmes, a tarefa de orientar ou traçar diretrizes em relação ao comportamento da economia interna das empresas. Não se trata apenas do encontro de fórmulas criativas para a redução dos gastos das folhas de pagamento, mas, acima de tudo, do exercício daquela colaboração necessária capaz de evitar na medida do possível o agravamento dos problemas sociais.

Como ainda é muito cedo para qualquer avaliação correta sobre a eficácia do Plano Collor, face à postura de não ter ele retorno, a recomendação sensata é de uma união de forças, especialmente no Estado de São Paulo, no sentido de que as coisas não piorem ainda mais. Não podia realmente a sociedade conviver de modo pacífico em meio a uma inflação de 70% ao mês. Também era um absurdo o governo remunerar a tomada de dinheiro com taxas acima de 3% ao dia. Portanto, na presente conjuntura, com esta inflação zero admitida pelo governo, todos têm de adotar uma postura de paciência e compreensão diante do quadro que aí está. Do contrário, nada feito.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de abril de 1990)



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