União de esforços
Pedro J. Bondaczuk
Se o plano de estabilização
econômica lançado pelo presidente Fernando Collor de Mello, de um
lado, provocou efetivo arrocho na espiral inflacionária existente
entre nós, afastando de vez os riscos quanto a um possível processo
de hiperinflação, de outro, no entanto, vem ocasionando sérias
apreensões e incertezas sobre o futuro. E nesse particular,
convenhamos, não há como esconder o sol com a peneira. Objetivou o
governo, com aquela iniciativa, nivelar não só as pessoas entre si,
como ainda as regiões do País, no alcance dos mesmos propósitos e
em meio também de atribuições idênticas. O Estado de São Paulo,
por exemplo, considerado como o carro-forte da nossa economia,
figurando há muito como o coração do Brasil, ficou situado,
ironicamente, no mesmo nível de outras regiões, carentes de tudo. A
impressão no momento é de que o nosso Estado vai pagar um preço
bem alto nessa tentativa inteiramente válida de se acabar com a
inflação.
O certo é que o parque
industrial paulista está funcionando praticamente na base de
compasso de espera, aturdido ainda pelo vigor do choque aplicado na
economia. As demais atividades também operam com idêntico marasmo.
Como assinalou o economista José Pastore, "ao buscar a cura
monetária, o Plano Collor acabou simultaneamente com a moeda e com o
mercado". E sem dinheiro, sejamos francos, pouco ou nada se pode
fazer de prático.
Passados já mais de trinta
dias da aplicação daquele plano, apesar de amainada toda aquela
espécie de poeira levantada na tarde do dia 16 de março, pelo menos
aqui em São Paulo, as coisas se apresentam um tanto desanimadoras. O
desemprego e a paralisação dos negócios começam agora a preocupar
seriamente as forças vivas do trabalho e da produção, movimentando
inclusive autoridades do Estado e dos municípios. Parece até que, a
cada dia que passa, ficam mais difíceis os ajustes à filosofia
estabelecida pelo plano. Ainda há pouco, cerca de mil pequenos
empresários, reunidos em São Paulo, tomaram a iniciativa de alertar
o governo para a gravidade da situação existente em nosso Estado.
Todos reclamam quanto à falta de dinheiro para o pagamento da folha
de pessoal no corrente mês.
Por outro lado, em meio a essa
fase de crise aguda, sem o vislumbre de qualquer luz no final do
túnel, os chamados gerentes de Recursos Humanos passaram a
desenvolver um trabalho de grande expressão na vida das empresas.
Cabe a eles, nesta hora crucial de decisões firmes, a tarefa de
orientar ou traçar diretrizes em relação ao comportamento da
economia interna das empresas. Não se trata apenas do encontro de
fórmulas criativas para a redução dos gastos das folhas de
pagamento, mas, acima de tudo, do exercício daquela colaboração
necessária capaz de evitar na medida do possível o agravamento dos
problemas sociais.
Como ainda é muito cedo para
qualquer avaliação correta sobre a eficácia do Plano Collor, face
à postura de não ter ele retorno, a recomendação sensata é de
uma união de forças, especialmente no Estado de São Paulo, no
sentido de que as coisas não piorem ainda mais. Não podia realmente
a sociedade conviver de modo pacífico em meio a uma inflação de
70% ao mês. Também era um absurdo o governo remunerar a tomada de
dinheiro com taxas acima de 3% ao dia. Portanto, na presente
conjuntura, com esta inflação zero admitida pelo governo, todos têm
de adotar uma postura de paciência e compreensão diante do quadro
que aí está. Do contrário, nada feito.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de abril de 1990)
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