Para não ficar a pé
Pedro
J. Bondaczuk
A
Petrobrás informou que houve um aumento de 5% no consumo de
combustíveis no País, em agosto passado, a despeito da crise que
foi deflagrada nesse mês, no Golfo Pérsico, com a invasão
iraquiana ao Kuwait, apesar dos apelos das autoridades para que se
fizesse economia do produto, em virtude da dramática elevação do
preço do barril de petróleo no mercado internacional.
Esse
procedimento indisciplinado pode forçar as autoridades a tomarem
alguma medida extra, já que a matéria-prima em questão, que mesmo
antes do atual conflito no Oriente Médio já tinha um peso
considerável na pauta das importações brasileiras, passou a pesar,
evidentemente, muito mais.
É
forçoso que sempre se lembre e que se reitere que o Brasil, ainda,
está muito distante da autossuficiência nesse aspecto, apesar de
ostentar agora uma situação muito mais favorável do que na década
de 1970, quando da ocorrência dos dois choques de petróleo
anteriores.
Esse
consumismo desregrado, mesmo tendo a Petrobrás elevado os preços
dos combustíveis, é incompatível com o empenho nacional no combate
à inflação. Aliás, o País foi um dos poucos (se não o único)
que não adotaram medidas rígidas para racionalizar o uso dessa
matéria-prima tão fundamental, cuja cotação está em espiral
crescente.
No
final da semana passada, por exemplo, o barril de petróleo bateu um
recorde histórico no mercado de Nova York, ao ser vendido por US$
35,43. Em outras praças, há quem esteja pagando até US$ 40 pelo
produto. Para complicar, o Banco Mundial acaba de divulgar um
relatório tendente a tirar o sono dos administradores de países que
não ostentem a autossuficiência em termos de produção
petrolífera.
O
documento em questão assinala que, caso seja deflagrada uma guerra
no Golfo Pérsico – e, objetivamente, tudo indica que ela irá
acontecer – o preço do barril de petróleo subirá para US$ 65. Ou
seja, custará 350% a mais do que custava antes da invasão iraquiana
ao Kuwait.
Por
isso, sequer deve ser necessário que o governo apele ou adote alguma
medida para inibir o consumo. Cada cidadão precisa se conscientizar
de sua própria responsabilidade e usar, sobretudo, o bom-senso.
Há
maneiras de se fazer economia sem grandes sacrifícios. Basta que se
tenha vontade. É melhor, evidentemente, que se economize por livre
vontade, do que ter que se submeter a racionamentos, que atingem,
indiscriminadamente, quem precisa e quem não precisa usar seu carro
ou, o que é pior, ficar a pé, por absoluta escassez de
combustíveis.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de
setembro de 1990).
No comments:
Post a Comment