Thursday, June 14, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Para não ficar a pé


Para não ficar a pé



Pedro J. Bondaczuk


A Petrobrás informou que houve um aumento de 5% no consumo de combustíveis no País, em agosto passado, a despeito da crise que foi deflagrada nesse mês, no Golfo Pérsico, com a invasão iraquiana ao Kuwait, apesar dos apelos das autoridades para que se fizesse economia do produto, em virtude da dramática elevação do preço do barril de petróleo no mercado internacional.

Esse procedimento indisciplinado pode forçar as autoridades a tomarem alguma medida extra, já que a matéria-prima em questão, que mesmo antes do atual conflito no Oriente Médio já tinha um peso considerável na pauta das importações brasileiras, passou a pesar, evidentemente, muito mais.

É forçoso que sempre se lembre e que se reitere que o Brasil, ainda, está muito distante da autossuficiência nesse aspecto, apesar de ostentar agora uma situação muito mais favorável do que na década de 1970, quando da ocorrência dos dois choques de petróleo anteriores.

Esse consumismo desregrado, mesmo tendo a Petrobrás elevado os preços dos combustíveis, é incompatível com o empenho nacional no combate à inflação. Aliás, o País foi um dos poucos (se não o único) que não adotaram medidas rígidas para racionalizar o uso dessa matéria-prima tão fundamental, cuja cotação está em espiral crescente.

No final da semana passada, por exemplo, o barril de petróleo bateu um recorde histórico no mercado de Nova York, ao ser vendido por US$ 35,43. Em outras praças, há quem esteja pagando até US$ 40 pelo produto. Para complicar, o Banco Mundial acaba de divulgar um relatório tendente a tirar o sono dos administradores de países que não ostentem a autossuficiência em termos de produção petrolífera.

O documento em questão assinala que, caso seja deflagrada uma guerra no Golfo Pérsico – e, objetivamente, tudo indica que ela irá acontecer – o preço do barril de petróleo subirá para US$ 65. Ou seja, custará 350% a mais do que custava antes da invasão iraquiana ao Kuwait.

Por isso, sequer deve ser necessário que o governo apele ou adote alguma medida para inibir o consumo. Cada cidadão precisa se conscientizar de sua própria responsabilidade e usar, sobretudo, o bom-senso.

Há maneiras de se fazer economia sem grandes sacrifícios. Basta que se tenha vontade. É melhor, evidentemente, que se economize por livre vontade, do que ter que se submeter a racionamentos, que atingem, indiscriminadamente, quem precisa e quem não precisa usar seu carro ou, o que é pior, ficar a pé, por absoluta escassez de combustíveis.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de setembro de 1990).


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