Escândalos e estagnação
Pedro J. Bondaczuk
Os meios de comunicação
continuam --- não se sabe por qual razão --- ignorando a principal
consequência da crise que afeta o País há mais de um ano: o
desemprego. Não há manchetes a respeito, nem artigos nas principais
colunas dos jornais e sequer editoriais a respeito. É como se tudo
estivesse normal nessa área. O problema é de extrema gravidade.
Ameaça comprometer o futuro não apenas dos milhões de
desempregados, mas do próprio País, que fica mais pobre, à medida
em que freia a economia, reduz as vendas do comércio, desacelera a
produção industrial e diminui o montante de impostos recolhidos.
A imprensa enfatiza só os
aspectos econômicos e financeiros da crise, ressaltando as
oscilações das bolsas de valores, dando-lhes importância muito
maior do que de fato têm, como se todos os brasileiros investissem
em ações ou entendessem como funciona esse jogo, que exige nervos
de aço de quem participa e audácia de um bom jogador de pôquer.
Centraliza as atenções no panorama político, na maior parte das
vezes meras fofocas paroquiais, de nulo interesse para a população.
Mas os meios de comunicação deixam em segundo plano a tragédia
humana, a catástrofe financeira, o impasse existencial representados
pelo desemprego.
Mais uma vez, a recessão,
espécie de catatonia da economia, é utilizada pelos tecnocratas
como "remédio" para a crise, sem que os responsáveis
atentem para as suas terríveis consequências sociais. Trata-se de
um comportamento característico destes tempos de prevalência de um
feroz egoísmo, em que as pessoas são encaradas como números, como
dados estatísticos e não como seres reais e racionais. O que mais
choca é a postura do governo em relação ao problema, agindo como
se ele não existisse, ou se fosse questão menor, de estratégia
econômica. Nenhum projeto no sentido de criação de vagas está em
andamento, em discussão ou sequer em cogitação, mesmo que seja
daqueles inócuos, apresentados com caráter de propaganda oficial,
sem consequências práticas, mas que têm lá seus efeitos
psicológicos positivos.
Há um silêncio total, por
parte das autoridades, a respeito. Famílias inteiras estão com seus
integrantes desempregados, vendo as reservas minguarem (isso no caso
dos que as fizeram), esfalfando-se, em vão, dia após dia, atrás de
uma sonhada vaga, que teima em não aparecer. Crianças acabaram
ficando sem escola neste ano, em decorrência da demissão dos pais.
A vida, de parcela considerável da população, transformou-se em um
inferno, com o espectro da miséria rondando lares onde não faz
muito se progredia e se projetava o futuro.
Governar é definir
prioridades. E o que é mais prioritário para um país, com tamanhos
desníveis sociais, com a pior distribuição de renda do Planeta, do
que o trabalho? Para complicar a situação e levar o cidadão à
beira da revolta e do desespero, escândalos e mais escândalos vêm
a público, todos sob o nefasto signo da impunidade, maior dos
incentivos à delinquência.
É o caso da "máfia dos
fiscais" de São Paulo, que atua há tempos, mas que veio à
tona quando uma empresária chantageada, como tantas pessoas vêm
sendo há anos, se recusou a pagar propina aos corruptos e denunciou
as irregularidades. É o desvio de dinheiro público, destinado ao
pagamento do acerto de contas dos funcionários demitidos da Caixa
Econômica de Goiás, desviado para a campanha do PMDB nesse Estado.
E nesta ciranda criminosa, Campinas não ficou atrás. A Câmara
Municipal investiga a concessão de descontos descabidos, e até de
isenção, do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para
grandes empresas.
Para o desempregado, que faz
das tripas coração para honrar seus compromissos e manter seu nome
limpo na praça, mesmo privado da sua fonte de sustento, essa
corrupção desenfreada é um acinte. Com a agravante da impunidade.
Quem se lembra de algum figurão, envolvido nas centenas de
escândalos que frequentaram as manchetes nos últimos dez anos, que
tivesse sido punido? E sequer se fala em prisão, que é o lugar
apropriado para ladrões, sejam reles assaltantes de banco ou
residências, sejam cínicos bandidos de colarinho branco.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na segunda quinzena de março de 1999)
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