Monday, June 25, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Escândalos e estagnação


Escândalos e estagnação


Pedro J. Bondaczuk


Os meios de comunicação continuam --- não se sabe por qual razão --- ignorando a principal consequência da crise que afeta o País há mais de um ano: o desemprego. Não há manchetes a respeito, nem artigos nas principais colunas dos jornais e sequer editoriais a respeito. É como se tudo estivesse normal nessa área. O problema é de extrema gravidade. Ameaça comprometer o futuro não apenas dos milhões de desempregados, mas do próprio País, que fica mais pobre, à medida em que freia a economia, reduz as vendas do comércio, desacelera a produção industrial e diminui o montante de impostos recolhidos.

A imprensa enfatiza só os aspectos econômicos e financeiros da crise, ressaltando as oscilações das bolsas de valores, dando-lhes importância muito maior do que de fato têm, como se todos os brasileiros investissem em ações ou entendessem como funciona esse jogo, que exige nervos de aço de quem participa e audácia de um bom jogador de pôquer. Centraliza as atenções no panorama político, na maior parte das vezes meras fofocas paroquiais, de nulo interesse para a população. Mas os meios de comunicação deixam em segundo plano a tragédia humana, a catástrofe financeira, o impasse existencial representados pelo desemprego.

Mais uma vez, a recessão, espécie de catatonia da economia, é utilizada pelos tecnocratas como "remédio" para a crise, sem que os responsáveis atentem para as suas terríveis consequências sociais. Trata-se de um comportamento característico destes tempos de prevalência de um feroz egoísmo, em que as pessoas são encaradas como números, como dados estatísticos e não como seres reais e racionais. O que mais choca é a postura do governo em relação ao problema, agindo como se ele não existisse, ou se fosse questão menor, de estratégia econômica. Nenhum projeto no sentido de criação de vagas está em andamento, em discussão ou sequer em cogitação, mesmo que seja daqueles inócuos, apresentados com caráter de propaganda oficial, sem consequências práticas, mas que têm lá seus efeitos psicológicos positivos.

Há um silêncio total, por parte das autoridades, a respeito. Famílias inteiras estão com seus integrantes desempregados, vendo as reservas minguarem (isso no caso dos que as fizeram), esfalfando-se, em vão, dia após dia, atrás de uma sonhada vaga, que teima em não aparecer. Crianças acabaram ficando sem escola neste ano, em decorrência da demissão dos pais. A vida, de parcela considerável da população, transformou-se em um inferno, com o espectro da miséria rondando lares onde não faz muito se progredia e se projetava o futuro.

Governar é definir prioridades. E o que é mais prioritário para um país, com tamanhos desníveis sociais, com a pior distribuição de renda do Planeta, do que o trabalho? Para complicar a situação e levar o cidadão à beira da revolta e do desespero, escândalos e mais escândalos vêm a público, todos sob o nefasto signo da impunidade, maior dos incentivos à delinquência.

É o caso da "máfia dos fiscais" de São Paulo, que atua há tempos, mas que veio à tona quando uma empresária chantageada, como tantas pessoas vêm sendo há anos, se recusou a pagar propina aos corruptos e denunciou as irregularidades. É o desvio de dinheiro público, destinado ao pagamento do acerto de contas dos funcionários demitidos da Caixa Econômica de Goiás, desviado para a campanha do PMDB nesse Estado. E nesta ciranda criminosa, Campinas não ficou atrás. A Câmara Municipal investiga a concessão de descontos descabidos, e até de isenção, do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para grandes empresas.

Para o desempregado, que faz das tripas coração para honrar seus compromissos e manter seu nome limpo na praça, mesmo privado da sua fonte de sustento, essa corrupção desenfreada é um acinte. Com a agravante da impunidade. Quem se lembra de algum figurão, envolvido nas centenas de escândalos que frequentaram as manchetes nos últimos dez anos, que tivesse sido punido? E sequer se fala em prisão, que é o lugar apropriado para ladrões, sejam reles assaltantes de banco ou residências, sejam cínicos bandidos de colarinho branco.

(Editorial publicado na Folha do Taquaral na segunda quinzena de março de 1999)

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