Otimismo exagerado
Pedro J. Bondaczuk
O pretenso "melhor Natal
do real" parece, ao que tudo indica, não passar de excesso de
otimismo da equipe econômica do governo, senão mais uma marota
tentativa dos "marqueteiros" de plantão para melhorar a
imagem, e por consequência a popularidade, do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Pelo menos é o que mostram dados preliminares do
comércio, que não vendeu tanto quanto esperava vender neste mês de
dezembro. É certo que há, ainda, alguns dias para o encerramento do
período de festas, com possibilidades, portanto, de bons negócios.
E como o brasileiro deixa tudo para a última hora...Quem sabe?!
Não se pode negar, é
verdade, que os principais shoppings de São Paulo e do Rio de
Janeiro, e as lojas mais tradicionais do centro das duas cidades, vêm
tendo grande afluência de potenciais compradores. Se todos
comprassem... Todavia, a maioria dos que param em frente das
vitrines, para ver as novidades e ofertas natalinas (com preços não
tão convidativos como seria de se esperar, é bom que se destaque),
não se dispõe a comprar coisa alguma. Há setores, como o de
eletro-eletrônicos, por exemplo, que talvez não tenham do que
reclamar. Mas a maioria... Parece, pois, que o período será "gordo"
somente para os camelôs.
A propalada queda das taxas de
desemprego no País (se é que realmente ocorreu), foi meramente
residual. Recuperaram-se pouquíssimas vagas, comparadas com as que
foram perdidas nos últimos dois anos. E as admissões não foram
uniformes, havendo regiões em que elas sequer ocorreram. A suposta
recuperação do emprego deve ter acontecido, isto sim, por conta da
contratação de trabalhadores temporários, tendo em vista o período
de festas de fim de ano. Ademais, parte considerável daqueles que
retornaram ao mercado de trabalho, depois de um longo e tenebroso
período ausente dele, preferiu resgatar créditos, "limpar"
o nome na praça e poupar alguns trocados (sempre que possível),
quando não liquidar velhas e incômodas dívidas. Para as compras de
presentes, ao que parece, pouco, ou nada, restou.
Na verdade, a economia vem
dando sinais bastante preocupantes da iminência de nova crise. A
decisão do governo chileno de aderir ao mercado comum das Américas
(a ALCA), em detrimento do Mercosul, abalou seriamente as estruturas
deste último, mesmo o Chile não sendo integrante oficial do acordo,
mas mero parceiro de ocasião. Há, até, quem diga que a decisão do
presidente Ricardo Lagos selou, de vez, a sorte de mais esta
tentativa regional de parceria econômica.
Caso isso venha, de fato, a
ocorrer, será uma pena e, mais do que isso, um desastre para as
economias fragilizadas, e em processo de lenta e gradual recuperação,
do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Os quatro países vão
perder a maior chance que já tiveram em suas histórias para
negociar, de igual para igual, com os grandes blocos econômicos
mundiais e, principalmente, com os Estados Unidos.
Um dos indicadores de que as
coisas não andam bem foi a vertiginosa desvalorização do real, em
relação ao dólar, verificada nos últimos dias, chegando a cotação
da nossa moeda a ultrapassar a barreira psicológica dos R$ 2,00. É
certo que o fenômeno deve favorecer nossas exportações, que mais
uma vez não conseguiram "decolar", como o governo
pretendia, fazendo com que, novamente, nosso saldo da balança
comercial fosse deficitário, a despeito da meta de superávit
assumida com o Fundo Monetário Internacional.
Fica, até mesmo nos mais
ferrenhos defensores do governo, a desagradável sensação de
fracasso do Plano Real, que pôs fim, não se nega, a um prolongado e
perigoso processo inflacionário, de quase quinze anos de duração,
mas foi absolutamente incapaz de propiciar condições para a
indispensável retomada do nosso desenvolvimento. Em 2001, com ou sem
razão, o atual modelo será, com certeza, ampla e severamente
questionado em palanque, notadamente pelas esquerdas, com vistas às
eleições presidenciais de 2002.
Ainda mais se, de fato, o
Mercado Comum do Cone Sul acabar implodindo e sendo simplesmente
"enterrado", em razão de picuinhas, de arraigados
antagonismos sem pé e nem cabeça e de divergências internas
ditadas mais por infantis intransigências, do que por questões
econômicas práticas e substanciais. O fim dessa experiência de
pouco mais de dez anos, que requer, sim, ajustes, tornará os países
que integram o Mercosul, e por extensão toda a América Latina (dada
a inequívoca liderança continental principalmente de Brasil e
Argentina) enfraquecidos e impotentes nas negociações com europeus
e norte-americanos.
O que os Estados Unidos
querem, de fato, com a ALCA, é criar novos mercados "apenas"
para os seus produtos, livres de quaisquer barreiras ou limitações,
sem sequer cogitarem em conceder tratamento igual a quem quer que
seja. A grande potência mundial da atualidade, que investe
seguidamente contra supostos protecionismos alheios, lançando mão,
invariavelmente, de retaliações comerciais (principalmente contra o
nosso País), é, ela própria, extremamente protecionista. Não
costuma pactuar regras com "parceiros", mas impõe, a ferro
e fogo, suas leoninas condições, sem admitir rebeldias ou
contestações. Será que Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai não
aprenderam nada com os erros de um passado ainda recente? Será que
se julgam suficientemente capazes de encarar a Comunidade Europeia e
os Estados Unidos, cada qual por sua própria conta, e levar alguma
espécie vantagem comercial? Que ilusão!!!
(Editorial da Folha do
Taquaral da segunda quinzena de dezembro de 1998).
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