Sunday, June 10, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Acidentada transição


Acidentada transição

Pedro J. Bondaczuk

A “lua de mel” da população – especialmente daquela faixa carente, de menor nível de renda – com o Plano Real, se não acabou no período pós-eleição presidencial, pelo menos esfriou. A pretexto de frear a demanda, que estaria superaquecida, o governo baixou um pacote, restringindo o crédito e limitando os consórcios, entre outras coisas.

A medida tem, de fato, caráter recessivo, como asseguram alguns empresários? Vai provocar desemprego, conforme ameaças veladas de outros? O tempo dirá. À primeira vista, parece que a providência se fazia necessária, diante de uma remota, mas não improvável, possibilidade de desabastecimento.

Mas quem correu às compras, ávido por gastar o hipotético ganho – que os economistas do governo garantem que existiu – decorrente da brusca freada da inflação? Certamente não foram os que ganham salário mínimo, que hoje é insuficiente para a aquisição sequer da minguada cesta básica.

A orgia consumista, se é que de fato houve, deve ser debitada à classe média, que descomprimida da erosão inflacionária e desconfiada de que o Real tenha sido apenas o que os opositores do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, garantiram que seria – um estelionato eleitoral – partiu freneticamente às compras, como se não houvesse amanhã.

É cedo, muito cedo para dizer, com mínima dose de certeza, o que vai ocorrer com a economia nestes 61 dias de travessia de um governo para outro. Seria caso para desalento, à espera dessa verdadeira droga, que já viciou os brasileiros, chamada crise?

A estabilização econômica, penosamente arranjada, passo a passa, etapa por etapa, primeiro com a criação da Unidade Real de Valor (URV), seguida pela maior troca de moeda já acontecida no mundo, não passaria de engodo? Teria sido inútil?

Todo o investimento em esperanças, todo o sobressalto das sucessivas fases do programa, toda a euforia dos primeiros dias do despencar das taxas de inflação, não passariam de mera prestidigitação financeira? Preferimos achar que não!

Ousamos apostar no positivo. Acreditamos que o País está no limiar de uma nova era de desenvolvimento, a despeito dos histerismos dos ingênuos, da ostentação dos tolos (que aceitam pagar ágio por mera questão de “status”) e do oportunismo dos que reduzem tudo na vida a meros cifrões.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 29 de outubro de 1994).

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