Acidentada transição
Pedro J. Bondaczuk
A “lua de
mel” da população – especialmente daquela faixa carente, de
menor nível de renda – com o Plano Real, se não acabou no período
pós-eleição presidencial, pelo menos esfriou. A pretexto de frear
a demanda, que estaria superaquecida, o governo baixou um pacote,
restringindo o crédito e limitando os consórcios, entre outras
coisas.
A
medida tem, de fato, caráter recessivo, como asseguram alguns
empresários? Vai provocar desemprego, conforme ameaças veladas de
outros? O tempo dirá. À primeira vista, parece que a providência
se fazia necessária, diante de uma remota, mas não improvável,
possibilidade de desabastecimento.
Mas
quem correu às compras, ávido por gastar o hipotético ganho –
que os economistas do governo garantem que existiu – decorrente da
brusca freada da inflação? Certamente não foram os que ganham
salário mínimo, que hoje é insuficiente para a aquisição sequer
da minguada cesta básica.
A
orgia consumista, se é que de fato houve, deve ser debitada à
classe média, que descomprimida da erosão inflacionária e
desconfiada de que o Real tenha sido apenas o que os opositores do
presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, garantiram que seria –
um estelionato eleitoral – partiu freneticamente às compras, como
se não houvesse amanhã.
É
cedo, muito cedo para dizer, com mínima dose de certeza, o que vai
ocorrer com a economia nestes 61 dias de travessia de um governo para
outro. Seria caso para desalento, à espera dessa verdadeira droga,
que já viciou os brasileiros, chamada crise?
A
estabilização econômica, penosamente arranjada, passo a passa,
etapa por etapa, primeiro com a criação da Unidade Real de Valor
(URV), seguida pela maior troca de moeda já acontecida no mundo, não
passaria de engodo? Teria sido inútil?
Todo
o investimento em esperanças, todo o sobressalto das sucessivas
fases do programa, toda a euforia dos primeiros dias do despencar das
taxas de inflação, não passariam de mera prestidigitação
financeira? Preferimos achar que não!
Ousamos
apostar no positivo. Acreditamos que o País está no limiar de uma
nova era de desenvolvimento, a despeito dos histerismos dos ingênuos,
da ostentação dos tolos (que aceitam pagar ágio por mera questão
de “status”) e do oportunismo dos que reduzem tudo na vida a
meros cifrões.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 29 de
outubro de 1994).
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