É
preciso estímulo
Pedro
J. Bondaczuk
O
brasileiro precisa adquirir gosto pela leitura, para não ficar atrás
do resto do mundo no que diz respeito a conhecimentos básicos,
elementares, primários (primaríssimos até). É inconcebível que
num país como o nosso, com a riqueza cultural que tem e com um povo
tão criativo, a média anual de leitores, por habitante, gire em
torno de dois. Isso mesmo, cada cidadão deste país – que produziu
um Machado de Assis, um Carlos Drummond de Andrade, um Mário
Quintana e tantos outros gênios das letras – lê míseros dois
livros por ano. Claro que nem todos o fazem e nem nessa quantidade.
Enquanto muitos lêem quarenta, cinqüenta, cem livros ou mais,
outros jamais abriram um único exemplar em toda a sua vida. E as
coisas, nesse aspecto, até que melhoraram bastante. Foram piores,
muito piores, catastróficas até, há apenas cinco anos ou menos.
Há
que se estimular a leitura mediante campanhas bem feitas, contínuas,
permanentes, bancadas gratuitamente por todos os meios de
comunicação. É questão de sobrevivência cultural delas e do
país. Outra coisa que pode e deve ser feita é a expansão das
bibliotecas públicas Brasil afora. Como? De qualquer maneira. Não
importa se com pequeno ou gigantesco acervo de livros. Não importa
se em prédios imensos ou em quartinhos acanhados. Antes de tudo, as
bibliotecas devem existir. Precisam existir. É questão de
estratégia nacional de desenvolvimento. Ou, pelo menos, deveria ser.
O
Ministério da Cultura deveria colocar como meta da mais absoluta
prioridade a instalação de bibliotecas nos mais de seis mil
municípios do país. Em todos eles, não importa seu número de
habitantes. Seus mentores – o ministro, os secretários, os
funcionários etc. – têm que se conscientizar que não se trata de
nenhum luxo, como muito bobo alegre pode pensar (há sempre algum
idiota que quer ser mais realista do que o rei e que acaba trocando
os pés pelas mãos), e muito menos de desperdício de dinheiro.
Sequer tem que ser considerado como acréscimo de despesa no
orçamento da pasta, como patrulheiros descerebrados podem alardear.
Nem mesmo é um gasto. Trata-se, isso sim, de investimento! E dos
mais rentáveis, com retorno garantido, mesmo que a longo prazo. É
uma semeadura com fartíssima colheita potencial.
O
brasileiro precisa ler. Ler muito. Ler tudo o que lhe caia em mãos.
Ler desde cartazes publicitários a romances que sejam best-sellers
mundiais. Ler de bulas de remédio a livros de filosofia. Não
importa, pelo menos num primeiro momento, o teor da sua leitura. Há
que se formar, primeiro e antes de tudo, o hábito de ler. Depois de
formado o leitor, aí sim entra a questão da qualidade. É quando se
pode pensar em seletividade.
O
brasileiro parece ter “alergia” a livros. Demonstra profunda
aversão à leitura. Mesmo na internet, onde navega com relativa
familiaridade, sempre que se depara com algum texto um pouquinho mais
extenso, ou um tantinho mais complexo, dá meia volta, aciona o mouse
e passa para outro site (ou blog). Aqui e no Literário ocorre isso.
Alguns reclamam quando programo determinada crônica mais comprida,
ou conto maior ou até algum ensaio que consideram “massudo”.
Todavia, este é um espaço de leitura! O que deveriam exigir,
portanto, do Editor, seria textos muito mais caudalosos e, sobretudo,
profundos do que ele seleciona. Esta é a mínima das lógicas. Mas
não prevalece. Imaginem, então, o que ocorre em outros espaços não
voltados à literatura! É um besteirol só!
Argumenta-se,
amiúde, que um fator que desencoraja a leitura é os livros serem
tão caros. Isto é verdadeiro, mas somente em parte. Há editoras
que fazem promoções editando obras básicas, de leitura
obrigatória, a custos baixíssimos e, mesmo assim... Edições e
mais edições encalham nas prateleiras das livrarias, não cobrindo
sequer o que foi gasto na produção. Essa questão de “preço”,
portanto, é uma boa desculpa para quem não gosta e não quer ler.
Os mesmos que se queixam que os livros são caros (e não raro são
mesmo), não se importam em comprar CDs de péssima qualidade, ou
outras bugigangas inúteis e caríssimas que estejam na moda, mas que
não lhes trazem o mínimo proveito em termos de acréscimo de
conhecimentos. Claro que os livros poderiam e deveriam ser mais
baratos, se possível subsidiados pelo governo e ter custo ínfimo. É
questão de vontade política que, entretanto... não existe!
A
indiferença dos brasileiros pelos livros tem raízes mais profundas.
Estão, entre outros motivos, no pouco caso com que as camadas mais
pobres e humildes da população sempre foram tratadas. Os líderes
do país, que em palanque sempre dizem que sua prioridade absoluta é
a educação, depois de eleitos a negligenciam, embora sem mudar o
discurso. Vejam só, a escola primária, ou seja, o reles ensino
fundamental, o mínimo que se pode oferecer a um povo com aspirações
de progresso e de grandeza, só se tornou universal no Brasil na
década de 90!!!. Pode isso?!!!
Campanhas
contínuas e permanentes para incentivar a leitura deveriam ser
bancadas, até como estratégia básica de marketing, pela indústria
editorial, não importando se as empresas sejam nacionais ou
internacionais. Queiram ou não, o fato é que o mercado de livros
brasileiro tem o maior potencial de crescimento no mundo ocidental.
Se conseguirem dobrar a média anual de volumes lidos, passando de
dois para quatro (o que ainda é muito pouco, mas, claro, melhor do
que o índice atual), as editoras não apenas recuperarão o capital
investido nas campanhas de incentivo, como terão lucros
extraordinários.
É
certo que a leitura é hábito difícil de formar. Daí a necessidade
das providências serem tomadas sem mais delongas, já, hoje mesmo,
para não perder, também, a nova geração que está sendo
recém-alfabetizada. Para vocês terem uma ideia, basta informar que
os brasileiros compraram menos livros em 2004 – 289 milhões,
incluindo livros didáticos distribuídos pelo governo – do que em
1991. Não tenho cifras mais recentes, mas as coisas não melhoraram
muito.
Sejamos,
nós escritores, para o nosso próprio bem, os grandes semeadores
desse artigo de primeiríssima necessidade num país que quer ser
considerado como “civilizado”. Se o formos, as gerações futuras
poderão dizer de nós, como é dito no estribilho do poema “O
livro e a América”, de Castro Alves:
“Ó
bendito o que semeia
livros,
livros à mancheia
e
manda o povo pensar.
E
o livro caindo n’alma
é
germe que faz a palma
é
chuva que faz o mar!!!”.
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