Ambição realizável
Pedro
J. Bondaczuk
A
carta de intenções assinada pelo governo do presidente Collor de
Mello e encaminhada ao Fundo Monetário Internacional, na semana
passada, tem tudo para ser diferente das anteriores, que não
passaram de mero exercício de ficção. Esta ampara-se num plano
econômico que, a despeito de ser duríssimo, é bastante
consistente.
Trata-se
de um programa testado na prática ao longo de seis meses que, sem
entrar no mérito do sacrifício social exigido, demonstrou ser
eficaz no combate à renitente inflação. Aliás, nesse aspecto, a
meta assumida pelas autoridades econômicas parece, pelo menos à
primeira vista, um tanto utópica, ao prever uma taxa acumulada anual
de 25%.
Isto
implica num índice inflacionário médio mensal de 1,88%, que o País
não registra, seguidamente, há muito tempo. Uma inflação dessa
ordem, convenhamos, é altíssima para os padrões do Primeiro Mundo.
Mesmo na Espanha, se ela fosse registrada, imediatamente deflagraria
uma série de medidas amargas. Entre nós, contudo, que já chegamos
a emplacar num único mês 84% (ou um pouco mais), se trata de um
objetivo demasiadamente ambicioso, ao menos à primeira vista. Mas
seria algo tão irrealizável assim?
É
claro que para isso a sociedade irá passar por uma fase de grandes
dificuldades. A recessão, que apenas ameaçou a economia após 16 de
março passado, certamente irá se impor, e se acentuar, a menos que
se parta para um entendimento nacional que venha a repartir os custos
do sacrifício.
Esta
questão do pacto está sendo mal interpretada por determinados
setores. Eles agem como se, em não aceitando participar dele, o
governo irá mudar sua política, reindexando desde salários a
impostos. É a velha cultura inflacionária ainda presente.
Ocorre
que as autoridades governamentais têm instrumentos em suas mãos
para agir com ou sem acordo. E certamente irão utilizá-los, já que
o atual governo é o primeiro, em três décadas, as ser escolhido
direta, livre e soberanamente pelos brasileiros nas urnas, e em dois
turnos. Portanto, conta com legitimidade e dispõe de vontade
política para agir.
Por
isso, os que ainda relutam quanto à obtenção ou não do
entendimento, precisam acordar, depressa, para a realidade. Afinal,
como diz a sabedoria popular, “é melhor um mau acordo do que uma
boa demanda”. Principalmente em casos como este, em que uma briga
tem tudo para ser perdida, mesmo antes de começar.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de
setembro de 1990).
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