Wednesday, June 20, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sinais positivos


Sinais positivos


Pedro J. Bondaczuk


A economia brasileira, apesar de permanecer estagnada, em decorrência de uma feroz recessão (que ameaça se transformar em depressão), apresentou, no mês de março, números um pouco mais alentadores do que os registrados nos dois meses anteriores, despertando tênue esperança de uma discreta retomada do desenvolvimento econômico ainda no corrente ano. Não custa ser otimista, embora não se possa dizer com segurança que o pior da crise já haja passado. O quadro ainda é grave, de expectativa e de incertezas, tanto para os empresários, quanto para os trabalhadores (muito mais para estes).

É verdade que, com a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, a malfadada CPMF, com a taxa aumentada para 0,38%, e que começa a ser cobrada em junho próximo, o propalado ajuste fiscal está completo. Resta o Executivo fazer a sua parte e transformar um enorme déficit público em um razoável superávit.

Em março, o real, que havia sofrido violenta desvalorização em relação ao dólar em janeiro e fevereiro, recuperou parte de seu valor. É possível que a moeda norte-americana fique com a cotação estabilizada em US$ 1,65 (seu patamar mais lógico e aceitável) até maio próximo. A taxa de inflação, por outro lado, não sofreu a disparada prevista pelos catastrofistas, tão logo ocorreu a mudança no câmbio, com a maxidesvalorização, fazendo com que os economistas, mesmo os mais pessimistas, tivessem que rever suas projeções para 1999, que deverão ficar em patamares bem menores do que os anteriormente projetados.

Dos vários indicadores da crise, no entanto, o de maior peso social, que é o que se refere ao desemprego, (cujo combate foi colocado como prioridade número um durante a campanha eleitoral da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso) permanece estacionário. Não há nenhuma perspectiva favorável nesse aspecto. As empresas, dos vários setores da economia, além de não estarem admitindo, continuam efetuando cortes, muitos deles desnecessários e passionais, aumentando, em progressão geométrica, o número de desempregados no País, sem que haja possibilidades concretas de reversão, pelo menos a médio prazo. Os empresários argumentam com os juros altos, que o governo considera necessários para evitar uma (altamente improvável) explosão de consumo, como justificativa para tais dispensas.

Todavia, quem, em um quadro marcado pela instabilidade, vai ser maluco de sair por aí, gastando a torto e a direito suas economias, como se o mundo fosse acabar amanhã? Trata-se, portanto, de uma desculpa esfarrapada, que não se sustenta na realidade. O consumismo do brasileiro, certamente, não chega a esse ponto, de beirar à irresponsabilidade. Quem pode (e são poucos os que têm essa condição, diante do severo achatamento salarial que atinge os trabalhadores), prefere poupar seu suado dinheirinho, mantendo um fundo de reserva para fazer face às despesas básicas em caso de se ver privado, de uma hora para outra, da sua fonte de renda.

Quanto à recuperação do nível de emprego, mesmo que discreta, está na dependência do desempenho das exportações. Ocorre que os produtos brasileiros, em um mercado externo altissimamente competitivo, têm, por uma série de razões, baixa competitividade.

O Brasil "exporta" impostos e tarifas, que são em número exagerado. O País tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Além disso, o custo do transporte, em especial o marítimo, é bastante alto, quase o dobro da média internacional, em decorrência da falta de investimentos em nossos portos. A esses empecilhos, vem se somar, ainda, a pouca agressividade das empresas nacionais no mercado externo. Por enquanto, o desempenho das exportações tem sido muito aquém do que era esperado depois da desvalorização do real.

O que o Brasil precisa, e com urgência, é de um sistema de proteção social mais humano, justo e adequado para situações de crise, como a atual. O seguro desemprego existente é incipiente e exclui boa parte dos trabalhadores que têm a desventura de serem demitidos. Está na hora do governo investir no homem, e não no chamado "mercado", uma espécie de "deus" dos financistas e dos que só querem o poder pelo poder, sem atentar para a sua finalidade maior. Pois, como dizia Adam Smith, um dos pais do capitalismo moderno: "Não existe país forte com um povo fraco". Onde nós queremos chegar?


(Editorial publicado na Folha do Taquaral na primeira quinzena de abril de 1999)


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