Sinais positivos
Pedro J. Bondaczuk
A economia brasileira, apesar
de permanecer estagnada, em decorrência de uma feroz recessão (que
ameaça se transformar em depressão), apresentou, no mês de março,
números um pouco mais alentadores do que os registrados nos dois
meses anteriores, despertando tênue esperança de uma discreta
retomada do desenvolvimento econômico ainda no corrente ano. Não
custa ser otimista, embora não se possa dizer com segurança que o
pior da crise já haja passado. O quadro ainda é grave, de
expectativa e de incertezas, tanto para os empresários, quanto para
os trabalhadores (muito mais para estes).
É verdade que, com a
aprovação, pela Câmara dos Deputados, da prorrogação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, a
malfadada CPMF, com a taxa aumentada para 0,38%, e que começa a ser
cobrada em junho próximo, o propalado ajuste fiscal está completo.
Resta o Executivo fazer a sua parte e transformar um enorme déficit
público em um razoável superávit.
Em março, o real, que havia
sofrido violenta desvalorização em relação ao dólar em janeiro e
fevereiro, recuperou parte de seu valor. É possível que a moeda
norte-americana fique com a cotação estabilizada em US$ 1,65 (seu
patamar mais lógico e aceitável) até maio próximo. A taxa de
inflação, por outro lado, não sofreu a disparada prevista pelos
catastrofistas, tão logo ocorreu a mudança no câmbio, com a
maxidesvalorização, fazendo com que os economistas, mesmo os mais
pessimistas, tivessem que rever suas projeções para 1999, que
deverão ficar em patamares bem menores do que os anteriormente
projetados.
Dos vários indicadores da
crise, no entanto, o de maior peso social, que é o que se refere ao
desemprego, (cujo combate foi colocado como prioridade número um
durante a campanha eleitoral da reeleição do presidente Fernando
Henrique Cardoso) permanece estacionário. Não há nenhuma
perspectiva favorável nesse aspecto. As empresas, dos vários
setores da economia, além de não estarem admitindo, continuam
efetuando cortes, muitos deles desnecessários e passionais,
aumentando, em progressão geométrica, o número de desempregados no
País, sem que haja possibilidades concretas de reversão, pelo menos
a médio prazo. Os empresários argumentam com os juros altos, que o
governo considera necessários para evitar uma (altamente improvável)
explosão de consumo, como justificativa para tais dispensas.
Todavia, quem, em um quadro
marcado pela instabilidade, vai ser maluco de sair por aí, gastando
a torto e a direito suas economias, como se o mundo fosse acabar
amanhã? Trata-se, portanto, de uma desculpa esfarrapada, que não se
sustenta na realidade. O consumismo do brasileiro, certamente, não
chega a esse ponto, de beirar à irresponsabilidade. Quem pode (e são
poucos os que têm essa condição, diante do severo achatamento
salarial que atinge os trabalhadores), prefere poupar seu suado
dinheirinho, mantendo um fundo de reserva para fazer face às
despesas básicas em caso de se ver privado, de uma hora para outra,
da sua fonte de renda.
Quanto à recuperação do
nível de emprego, mesmo que discreta, está na dependência do
desempenho das exportações. Ocorre que os produtos brasileiros, em
um mercado externo altissimamente competitivo, têm, por uma série
de razões, baixa competitividade.
O Brasil "exporta"
impostos e tarifas, que são em número exagerado. O País tem uma
das maiores cargas tributárias do mundo. Além disso, o custo do
transporte, em especial o marítimo, é bastante alto, quase o dobro
da média internacional, em decorrência da falta de investimentos em
nossos portos. A esses empecilhos, vem se somar, ainda, a pouca
agressividade das empresas nacionais no mercado externo. Por
enquanto, o desempenho das exportações tem sido muito aquém do que
era esperado depois da desvalorização do real.
O que o Brasil precisa, e com
urgência, é de um sistema de proteção social mais humano, justo e
adequado para situações de crise, como a atual. O seguro desemprego
existente é incipiente e exclui boa parte dos trabalhadores que têm
a desventura de serem demitidos. Está na hora do governo investir no
homem, e não no chamado "mercado", uma espécie de "deus"
dos financistas e dos que só querem o poder pelo poder, sem atentar
para a sua finalidade maior. Pois, como dizia Adam Smith, um dos pais
do capitalismo moderno: "Não existe país forte com um povo
fraco". Onde nós queremos chegar?
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na primeira quinzena de abril de 1999)
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