Reação tardia
Pedro J. Bondaczuk
As comunicações e os
transportes são essenciais em qualquer país, ainda mais em se
tratando do Brasil, cujas dimensões são continentais. A manutenção
desses dois sistemas em perfeito funcionamento é imprescindível
para o bom andamento da vida econômica e até para a manutenção da
ordem pública e da paz social. No entanto, no tenso mês de julho,
verificou-se um sério colapso exatamente nesses dois críticos
setores, trazendo sérios contratempos e graves prejuízos para
milhões de brasileiros.
Primeiro, foi com a mudança
na forma de discagem do DDD, para telefonemas interurbanos e
internacionais. Em si, essas alterações eram necessárias e bem
vindas. Estabeleceram o saudável princípio da concorrência, com
potenciais benefícios para os consumidores. O que deixou a desejar
foi a forma de implantação do novo sistema. De pouco valeu, e até
mesmo atrapalhou, a massiva propaganda feita antes e durante o
processo. As operadoras, ao contrário do que davam a entender até a
véspera, não estavam tecnicamente preparadas para a mudança. E foi
o que se viu: um caos.
Dias depois, os caminhoneiros
autônomos surpreenderam o País, bloqueando as principais rodovias
de 16 Estados, por onde circula, praticamente, a totalidade da
riqueza brasileira. Bastaram três dias apenas para que se
verificassem os primeiros sintomas de desabastecimento dos principais
gêneros, como alimentos e combustíveis. Inúmeras indústrias
ficaram sem matérias-primas e tiveram que paralisar temporariamente
a sua produção. Os prejuízos reais são impossíveis de se
quantificar. Podem ser, somente, estimados, numa estimativa, aliás,
bastante precária.
Nos dois casos, o que se
verificou foi uma irritante lentidão do governo para agir. Na
mudança do sistema de DDD, era indispensável que a Agência
Nacional de Telecomunicações, a Anatel, se certificasse que as
empresas envolvidas estavam preparadas para o processo, para só
então confirmar a data da sua deflagração. Parece que isso não
ocorreu na prática. E deu no que deu. Foram contratempos
perfeitamente evitáveis ou que poderiam ser em volume muito menor do
que o registrado.
Na questão da greve dos
caminhoneiros, o Planalto abriu negociações somente três dias
depois do movimento haver começado, subestimando, ao que parece, a
coesão da categoria e o alcance que o movimento teria e de fato
teve. Só quando a corda já estava no pescoço e o abastecimento de
gêneros essenciais corria risco iminente de total colapso, é que as
duas partes se sentaram ao redor de uma mesa para abrir o
indispensável diálogo.
Essa lentidão na tomada de
decisões, essa espécie de letargia, de preguiça mental para
resolver questões urgentes e que não podem ser proteladas,
infelizmente, tem sido a marca registrada, a principal característica
do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. E parece que isso
se acentuou neste segundo mandato. Junto com a crise econômica, que
parece não querer ceder, esse vezo do nosso comandante maior, em
retardar o que não pode ser retardado, é um dos grandes motivos da
vertiginosa queda da sua popularidade.
Onde estão, por exemplo, as
apregoadas reformas constitucionais, que iriam consolidar o Plano
Real? As que foram aprovadas --- e foram precisos quatro longos e
desgastantes anos para isso --- estão muito distantes de satisfazer
as reais necessidades do País. São monstrengos desfigurados dos
projetos originais e terão que ser melhoradas mais para a frente.
São os casos específicos das reformas previdenciária e
administrativa. Ao que parece, para complicar as coisas, as duas
carecem ainda da devida regulamentação, para que possam gerar
efeitos.
E o que dizer do desemprego,
colocado, durante a campanha de reeleição, pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso, como prioridade número um do novo governo? E o que
vem sendo feito a respeito? Quais os incentivos que as empresas estão
recebendo (em especial as pequenas e médias, responsáveis pela
absorção de 60% da mão de obra), não somente para admitirem novos
funcionários, mas ,e principalmente, para deterem as demissões? Ao
que se saiba, nenhum. É preciso, e indispensável, portanto, que FHC
mude seu estilo. Se o fizer, pode, a despeito de tudo o que de ruim
aconteceu e vem acontecendo, se consagrar como o melhor presidente
que o País já teve. Caso contrário...Só nos reatará rezar.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral na primeira quinzena de agosto de 1998)
No comments:
Post a Comment