Primeiro ano do Real
Pedro J. Bondaczuk
O
Real completa o seu primeiro aniversário, com inegáveis saldos
positivos, mas, também, com sérios obstáculos pela frente. Um
deles, provavelmente o maior, é a supervalorização cambial, que
comprometeu os saldos da balança comercial brasileira, fundamentais
para o cumprimento dos compromissos externos do País, como o
pagamento da sua dívida junto aos credores internacionais.
Outra
distorção intolerável, a exigir correção, são as taxas de
juros, excessivamente altas, extorsivas até, as maiores do mundo,
provocando recordes de inadimplência no comércio. Como se vê, são
tempos difíceis, de sacrifício, de prudência e de parcimônia nos
gastos, e não de festa.
Vem
aí a desindexação, ainda não total como seria de se desejar,
afetando, basicamente, os salários nesta etapa. Caso as taxas de
inflação permaneçam em patamares pelo menos comportados, como
agora, não haverá maiores traumas. No entanto, se o frágil
equilíbrio existente há um ano for rompido, por qualquer fator
(sazonal ou não), os trabalhadores das categorias mais frágeis, com
menor ou nenhum poder de barganha, se verão em sérios apuros. Até
porque aluguéis e mensalidades escolares continuarão sendo
corrigidos normalmente e, se esses reajustes forem feitos de forma
selvagem, como aconteceu neste um ano de existência do Real, o poder
aquisitivo do brasileiro, já bastante achatado, sofrerá novas
erosões. Ficará pulverizado.
Os
preços continuarão livres. O risco é do custo da cesta básica não
apresentar, a partir do próximo ano, o mesmo comportamento que vem
tendo até aqui, beneficiado por uma excelente safra agrícola. A
próxima, certamente, não deverá ser tão favorável, por questões
de falta de financiamento adequado aos agricultores e da inexistência
de uma política coerente e contínua para a agricultura.
Há,
na avaliação dos economistas, das mais variadas tendências
ideológicas, mais obstáculos do que boas perspectivas no caminho da
tão sonhada estabilização. Por exemplo, os gastos do governo
cresceram em demasia, em especial as despesas com pessoal, projetando
um déficit nas contas governamentais, gerador, por excelência, de
inflação, para não dizer, sua causa fundamental.
Por
outro lado, a reforma mais importante da Constituição, a fiscal e a
tributária, sequer começou a ser debatida. E essa mudança vinha
sendo colocada, antes da posse de Fernando Henrique Cardoso na
Presidência, como prioritária. E deveria ser. Prevaleceram, porém,
os critérios políticos. O momento, portanto, é mais de alerta do
que de festa. Ainda é muito cedo para baixar a guarda e comemorar a
vitória na guerra, quando apenas a primeira, das tantas batalhas que
são necessárias de se enfrentar, foi vencida.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 1º de
julho de 1995).
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