Friday, June 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Primeiro ano do Real


Primeiro ano do Real



Pedro J. Bondaczuk


O Real completa o seu primeiro aniversário, com inegáveis saldos positivos, mas, também, com sérios obstáculos pela frente. Um deles, provavelmente o maior, é a supervalorização cambial, que comprometeu os saldos da balança comercial brasileira, fundamentais para o cumprimento dos compromissos externos do País, como o pagamento da sua dívida junto aos credores internacionais.

Outra distorção intolerável, a exigir correção, são as taxas de juros, excessivamente altas, extorsivas até, as maiores do mundo, provocando recordes de inadimplência no comércio. Como se vê, são tempos difíceis, de sacrifício, de prudência e de parcimônia nos gastos, e não de festa.

Vem aí a desindexação, ainda não total como seria de se desejar, afetando, basicamente, os salários nesta etapa. Caso as taxas de inflação permaneçam em patamares pelo menos comportados, como agora, não haverá maiores traumas. No entanto, se o frágil equilíbrio existente há um ano for rompido, por qualquer fator (sazonal ou não), os trabalhadores das categorias mais frágeis, com menor ou nenhum poder de barganha, se verão em sérios apuros. Até porque aluguéis e mensalidades escolares continuarão sendo corrigidos normalmente e, se esses reajustes forem feitos de forma selvagem, como aconteceu neste um ano de existência do Real, o poder aquisitivo do brasileiro, já bastante achatado, sofrerá novas erosões. Ficará pulverizado.

Os preços continuarão livres. O risco é do custo da cesta básica não apresentar, a partir do próximo ano, o mesmo comportamento que vem tendo até aqui, beneficiado por uma excelente safra agrícola. A próxima, certamente, não deverá ser tão favorável, por questões de falta de financiamento adequado aos agricultores e da inexistência de uma política coerente e contínua para a agricultura.
Há, na avaliação dos economistas, das mais variadas tendências ideológicas, mais obstáculos do que boas perspectivas no caminho da tão sonhada estabilização. Por exemplo, os gastos do governo cresceram em demasia, em especial as despesas com pessoal, projetando um déficit nas contas governamentais, gerador, por excelência, de inflação, para não dizer, sua causa fundamental.

Por outro lado, a reforma mais importante da Constituição, a fiscal e a tributária, sequer começou a ser debatida. E essa mudança vinha sendo colocada, antes da posse de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, como prioritária. E deveria ser. Prevaleceram, porém, os critérios políticos. O momento, portanto, é mais de alerta do que de festa. Ainda é muito cedo para baixar a guarda e comemorar a vitória na guerra, quando apenas a primeira, das tantas batalhas que são necessárias de se enfrentar, foi vencida.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 1º de julho de 1995).


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