Demagogia ameaça plano
Pedro J. Bondaczuk
A demagogia pré-eleitoral,
que já anda à solta nas bancadas dos vários partidos e se
manifesta com toda a força no Congresso, coloca em risco o programa
econômico do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, antes
mesmo de ele entrar na pauta dos debates.
A opção para os brasileiros,
no caso do fracasso desse plano, viável, racional e lógico, mas que
depende do bom-senso dos congressistas, é uma só, e extremamente
preocupante: a hiperinflação.
Durante anos a fio,
economistas e políticos de várias tendências apregoaram pelos
quatro cantos que a causa da inflação brasileira eram os gastos
excessivos do governo. E tinham toda a razão.
No entanto, quando surge a
oportunidade de se fazer um orçamento enxuto, sem déficit, e,
portanto, sem a necessidade de emitir moeda para cobrir despesas ou
rolar dívidas do Estado, projetos estapafúrdios e inoportunos são
aprovados pelos congressistas, sinalizando para um caminho
diametralmente oposto.
Um, por exemplo, foi o da
readmissão dos servidores demitidos durante o governo de Fernando
Collor. Outro, foi a proposta do deputado petista, Paulo Paim, já
aprovada na Comissão de Trabalho da Câmara, que prevê a correção
dos salários pela variação diária do dólar.
Políticos insensatos criam
despesas a seu bel-prazer, mas sem prever a competente fonte de
recursos. Precisa ser economista para prever os resultados? Claro que
não.
A demagogia barata, que ainda
faz efeito num eleitorado descrente, mas, sobretudo, despreparado, é
posta à frente dos interesses do País. Será que esses demagogos
têm noção do que significa uma hiperinflação?
Caso desconheçam, seria de
bom alvitre que procurassem ler, e há bons livros a respeito, sobre
o que aconteceu na Alemanha pré-nazista na década de 20. Ou que
procurem se informar acerca do que ocorre atualmente na Sérvia, onde
as taxas acumuladas ascendem a um trilhão por cento mensais.
Fortunas mudam de mãos, como
num passe de mágica. Trata-se de um processo traumatizante que,
sociedades como a nossa, sem nenhum sistema de proteção social,
dificilmente costumam resistir.
É tradição no Brasil nenhum
plano de contenção inflacionária vingar em ano eleitoral. Mas os
candidatos precisam, pelo menos desta vez, mudar seu comportamento e
agir com bom-senso, colocando os interesses do País acima de tudo.
(Artigo publicado na Folha do
Taquaral em 18 de abril de 1994).
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