Friday, June 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Demagogia ameaça plano


Demagogia ameaça plano


Pedro J. Bondaczuk


A demagogia pré-eleitoral, que já anda à solta nas bancadas dos vários partidos e se manifesta com toda a força no Congresso, coloca em risco o programa econômico do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, antes mesmo de ele entrar na pauta dos debates.

A opção para os brasileiros, no caso do fracasso desse plano, viável, racional e lógico, mas que depende do bom-senso dos congressistas, é uma só, e extremamente preocupante: a hiperinflação.

Durante anos a fio, economistas e políticos de várias tendências apregoaram pelos quatro cantos que a causa da inflação brasileira eram os gastos excessivos do governo. E tinham toda a razão.

No entanto, quando surge a oportunidade de se fazer um orçamento enxuto, sem déficit, e, portanto, sem a necessidade de emitir moeda para cobrir despesas ou rolar dívidas do Estado, projetos estapafúrdios e inoportunos são aprovados pelos congressistas, sinalizando para um caminho diametralmente oposto.

Um, por exemplo, foi o da readmissão dos servidores demitidos durante o governo de Fernando Collor. Outro, foi a proposta do deputado petista, Paulo Paim, já aprovada na Comissão de Trabalho da Câmara, que prevê a correção dos salários pela variação diária do dólar.

Políticos insensatos criam despesas a seu bel-prazer, mas sem prever a competente fonte de recursos. Precisa ser economista para prever os resultados? Claro que não.

A demagogia barata, que ainda faz efeito num eleitorado descrente, mas, sobretudo, despreparado, é posta à frente dos interesses do País. Será que esses demagogos têm noção do que significa uma hiperinflação?

Caso desconheçam, seria de bom alvitre que procurassem ler, e há bons livros a respeito, sobre o que aconteceu na Alemanha pré-nazista na década de 20. Ou que procurem se informar acerca do que ocorre atualmente na Sérvia, onde as taxas acumuladas ascendem a um trilhão por cento mensais.

Fortunas mudam de mãos, como num passe de mágica. Trata-se de um processo traumatizante que, sociedades como a nossa, sem nenhum sistema de proteção social, dificilmente costumam resistir.

É tradição no Brasil nenhum plano de contenção inflacionária vingar em ano eleitoral. Mas os candidatos precisam, pelo menos desta vez, mudar seu comportamento e agir com bom-senso, colocando os interesses do País acima de tudo.


(Artigo publicado na Folha do Taquaral em 18 de abril de 1994).


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