Recessão branda
Pedro J. Bondaczuk
Após ter anunciado inflação
zero para o corrente mês de abril, cujo registro foi objeto de
contestação por parte do diretor do Dieese, Walter Barelli, ao
participar de reunião em São Paulo com um grupo de empresários, a
ministra Zélia Cardoso de Mello admitiu a existência de uma
recessão econômica no País, classificando-a, no entanto, de
branda, descartando porém a possibilidade de criar raízes mais
profundas. Não há também, como assinalou, expectativa de uma
situação de caos para o futuro. Afora a promessa da liberação de
recursos ao setor da construção civil, além de algumas facilidades
para a indústria automobilística, os empresários presentes ao
encontro não conseguiram obter notícias alvissareiras a respeito do
comportamento dos negócios em relação ao dia de amanhã, até
porque, como disse a ministra, a retomada do crescimento econômico
acontecerá de modo cuidadoso.
Evidentemente, não poderia
mesmo a ministra da Economia raciocinar de maneira diferente.
Todavia, se a recessão é branda ou não, isto pouco importa à
sociedade brasileira. A verdade é que ela deu o ar da sua graça,
provocando já transtornos, apreensões e determinadas incertezas.
Não se discute a eficácia do Plano Collor quanto ao propósito de
reduzir o fantasma da inflação, mas a preocupação agora é de se
questionar no sentido da eficiência das diretrizes para se evitar o
processo da recessão, principalmente, é claro, o espantalho do
desemprego. Alguns Estados têm condições de enfrentar os problemas
ocasionados por esse fenômeno dentro de uma visão otimista,
enquanto outras unidades da Federação, como é o caso de São
Paulo, começam a sentir já o peso de uma situação toda
desfavorável, não se podendo inclusive formular previsões futuras
neste período de ajustamento do Plano Collor nos diferentes setores
da vida brasileira.
O certo é que, por força de
um conjunto de implicações bem sérias, pois São Paulo concentra
cerca de 50% das atividades econômicas do Brasil, achou por bem o
governo do Estado em traçar as linhas de um plano anti recessão,
conforme exposição de Orestes Quércia na última semana.
Afigura-se-nos, no entanto, a proposta um tanto ousada, como seja a
aplicação de recursos da ordem de Cr$ 200 bilhões em programas
prioritários, com destaque particularmente à construção de 50 mil
casas populares. Aliás, a prefeita Luiza Erundina, preocupada com o
problema do desemprego, anunciou há pouco a criação de frentes de
trabalho na Capital paulista. Assim, a impressão é que o nosso
Estado começará a utilizar aqueles conhecidos métodos aplicados na
região do Nordeste para abrandar a fome de seus habitantes.
Consequentemente, não há
como desconhecer o estado de recessão existente em nosso Estado.
Existe ele já de fato. Também pudera, depois desse bloqueio todo no
meio circulante ninguém poderia esperar por coisa diferente. Os
setores do trabalho e da produção foram atingidos para valer,
alguns mais, outros menos. Todos aguardam, no entanto, seja mesmo
esta recessão de características brandas, como anunciou a ministra
Zélia Cardoso de Mello aos empresários paulistas. A ordem pois é
torcer agora para a concretização desse prognóstico, isto porque o
plano, da maneira como foi lançado, não tem mesmo qualquer
dispositivo de retorno.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de abril de 1990)
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