Real sofre nova ameaça
Pedro J. Bondaczuk
O Plano Real mal completou as
primeiras três semanas da sua fase crítica, que foi a troca de uma
moeda sabidamente fraca por uma que se pretende forte e duradoura e
já começa a sofrer fortes pressões. O estranho é que estas não
vêm do setor privado, ou da classe trabalhadora (por enquanto), mas
do próprio governo.
A Petrobras, por exemplo,
alegando prejuízos com importação, produção, refino e transporte
de petróleo, quer um aumento no preço dos combustíveis. "Mas
já?!", deve estar pensando o atordoado consumidor, que supunha
ter se livrado pelos próximos 12 meses desses reajustes constantes,
que acabam sendo sempre em cascata.
A Eletrobras, por seu turno,
não fica atrás. Também reivindica elevação de tarifas,
argumentando com deficiências na conversão do valor para a URV.
Caso a equipe econômica ceda e autorize esses aumentos, um dos
pilares do plano estará ruindo, ameaçando, quiçá, sua própria
estrutura. Afinal, combustíveis e energia elétrica têm um peso
considerável nos custos das empresas.
A tendência será o repasse
desse ônus para os produtos e, no final das contas, como sempre,
será o trabalhador --- cujos salários, se não estão congelados,
pelo menos só terão reposição da eventual inflação em real nas
datas-bases --- quem vai arcar com tudo.
Aliás, essas pressões, e
outras ainda mais fortes que certamente virão adiante, já eram
esperadas. Resta saber se a equipe econômica do governo vai saber
gerir essa situação e manter absoluta austeridade num ano
eleitoral.
A mesma Petrobras fez
idênticas investidas, em planos passados, sob a mesma argumentação
e foi atendida. Ocorre que o aumento do preço do barril do petróleo
no mercado internacional foi ocasional. Tende a voltar ao patamar de
US$ 13,50, já que há mais oferta do que procura.
Além disso, sempre que a
matéria-prima oscilou para baixo, este barateamento jamais foi
repassado ao consumidor. A estatal, certamente, tem como suportar
esta situação transitória, sem precisar elevar os preços dos
combustíveis.
O ministro de Minas e Energia,
Alexis Stepanenko, prometeu que as metas do plano econômico serão
cumpridas. E que, tanto a Petrobras quanto a Eletrobras terão que
equacionar eventuais defasagens de tarifas mediante redução de
custos, melhoria de qualidade e produtividade e busca de novos
mercados. Que assim seja, pela "saúde" do novo real.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de julho de 1994).
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