Wednesday, June 27, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Real sofre nova ameaça


Real sofre nova ameaça


Pedro J. Bondaczuk


O Plano Real mal completou as primeiras três semanas da sua fase crítica, que foi a troca de uma moeda sabidamente fraca por uma que se pretende forte e duradoura e já começa a sofrer fortes pressões. O estranho é que estas não vêm do setor privado, ou da classe trabalhadora (por enquanto), mas do próprio governo.

A Petrobras, por exemplo, alegando prejuízos com importação, produção, refino e transporte de petróleo, quer um aumento no preço dos combustíveis. "Mas já?!", deve estar pensando o atordoado consumidor, que supunha ter se livrado pelos próximos 12 meses desses reajustes constantes, que acabam sendo sempre em cascata.

A Eletrobras, por seu turno, não fica atrás. Também reivindica elevação de tarifas, argumentando com deficiências na conversão do valor para a URV. Caso a equipe econômica ceda e autorize esses aumentos, um dos pilares do plano estará ruindo, ameaçando, quiçá, sua própria estrutura. Afinal, combustíveis e energia elétrica têm um peso considerável nos custos das empresas.

A tendência será o repasse desse ônus para os produtos e, no final das contas, como sempre, será o trabalhador --- cujos salários, se não estão congelados, pelo menos só terão reposição da eventual inflação em real nas datas-bases --- quem vai arcar com tudo.

Aliás, essas pressões, e outras ainda mais fortes que certamente virão adiante, já eram esperadas. Resta saber se a equipe econômica do governo vai saber gerir essa situação e manter absoluta austeridade num ano eleitoral.

A mesma Petrobras fez idênticas investidas, em planos passados, sob a mesma argumentação e foi atendida. Ocorre que o aumento do preço do barril do petróleo no mercado internacional foi ocasional. Tende a voltar ao patamar de US$ 13,50, já que há mais oferta do que procura.

Além disso, sempre que a matéria-prima oscilou para baixo, este barateamento jamais foi repassado ao consumidor. A estatal, certamente, tem como suportar esta situação transitória, sem precisar elevar os preços dos combustíveis.

O ministro de Minas e Energia, Alexis Stepanenko, prometeu que as metas do plano econômico serão cumpridas. E que, tanto a Petrobras quanto a Eletrobras terão que equacionar eventuais defasagens de tarifas mediante redução de custos, melhoria de qualidade e produtividade e busca de novos mercados. Que assim seja, pela "saúde" do novo real.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de julho de 1994).



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