Livros
dispensáveis e indispensáveis
Pedro
J. Bondaczuk
A morte do escritor argentino
Jorge Luís Borges, ocorrida em 14 de junho de 1986, em Genebra,
trouxe à baila na oportunidade, nos meios de comunicação – que
não costumam, aliás, dar ênfase à literatura, sobretudo à boa –
não somente a vida e a obra desse reconhecido e reputado
intelectual, mas a “magia” do ato de escrever. Ou seja, a
transcendência de se lançar no papel, para perpetuá-los,
conhecimentos, experiências, emoções e, sobretudo, criações, de
quem tem o que dizer, quer para a sua geração e, (pelo menos é a
ambição da maioria), quer para as que a vierem a suceder.
Muita coisa se escreveu a
propósito naqueles dias, mas de escasso conteúdo. A maior parte do
que foi escrito não passou de velhos e surrados clichês, que
cairiam a caráter no que costumeiramente dizia o marcante personagem
do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, o Conselheiro
Acácio. Ou seja, somente um desfile interminável de obviedades.
A ocasião, porém, teve um
mérito: o de ensejar aos leitores de jornais e de revistas rara
oportunidade de reflexão sobre a atividade (e a responsabilidade),
do escritor, tão indispensável ao homem civilizado como a comida,
como a roupa ou como o ar que respiramos, mas que tem se prostituído,
se mercantilizado e sido utilizada por mistificadores de toda a
sorte, por tarados e por psicopatas de diversas patologias, com as
bênçãos das editoras, de olho, somente, nos lucros, em
detrimento, claro, da arte e da cultura.
Há, e todos sabem, livros que
seria uma bênção se não tivessem sido escritos; se as florestas
derrubadas para fabricar o papel em que foram impressos fossem
conservadas intactas. Exemplos? Há uma infinidade. Como as
estapafúrdias e preconceituosas teorias raciais do Conde Gobineau,
que tanto mal causaram. Ou como o “Mein Kampf”, de Adolf Hitler.
Ou como os milhões de manuais de magia negra, que podem ser
encontrados nas prateleiras de qualquer livraria. Ou como outras
tantas tolices do gênero que circulam por aí. Além, é claro, de
uma infinidade de baboseiras pornográficas, sem conteúdo e nada que
se aproveite, editadas aos borbotões, para saciar as taras de
perversões de desajustados.
Há, porém, escritores que
não se concebe que não tivessem existido, tamanha foi, é e sempre
será a sua influência no pensamento contemporâneo. São, aliás,
atemporais. Enriquecem o espírito com o seu talento e sensibilidade.
O leitor, certamente, deve ter a sua relação pessoal desses mestres
da comunicação. Há, é verdade, aqueles que frequentam todas as
listas, que são unanimidades. Outros, não se constituem em
consenso, por serem relativamente desconhecidos.
Na minha relação de
preferências constam escritores como Jorge Luís Borges, óbvio (que
foi quem suscitou estas reflexões), Juan Rulfo, Mário Vargas Llosa,
Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira,
Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Gabriel Garcia Márquez e Fernando
Sabino, entre os que me vêm de imediato à memória, cada qual por
um motivo irresistível, isto entre os contemporâneos.
Minhas predileções de
leitura, porém, não param por aí. São tantos os autores que
aprecio, que seus nomes, caso declinados um a um, preencheriam um
alentado volume, do porte de uma lista telefônica de uma cidade como
São Paulo, tantos que são, o que mostra que não faltam opções de
qualidade para o amante da boa leitura.
Em minhas relações de
preferência, por exemplo, jamais deixaria de incluir escritores como
Ernest Hemmingway, William Faulkner, John Steinbeck, Walt Whitman,
Henry David Thoreau, John dos Passos, T. S. Eliot, Leon Tolstoi, Paul
Valery, Honoré Balzac, Marcel Proust, Arthur Rimbaud, Émile Zola,
Jean-Paul Sartre, Fiodor Dostoievski (sobre o qual escrevi tantos
textos), Pushkin, Gogol, Jorge Amado, Guimarães Rosa e tantos e
tantos outros recriadores da vida e dos sonhos, que me encantaram,
inspiraram e fizeram com que eu fosse o que sou.
Claro que há os clássicos,
os eternos, os que sobrevivem ao tempo e ao esquecimento, como
Homero, Platão, Aristóteles, Ovídio, Juvenal, Cícero, Virgílio,
Petrarca, Camões, Dante e mais um milhar de iluminados.
Há livros cuja inexistência
deixaria o mundo mais pobre, em termos espirituais, mais atrasado e
mais mesquinho. Sem eles, nós, intelectuais que nos jactamos da
nossa modernidade, não passaríamos de “anões” do espírito.
Somos grandes (será que somos mesmo?) apenas porque estamos sobre os
ombros de gerações e gerações de homens e mulheres geniais, que
nos agigantaram. Pensem nisso!
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