Choque de liberalismo
Pedro
J. Bondaczuk
O
ex-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que exerceu
três mandatos consecutivos na Casa Branca e conduziu seu país com
segurança e competência nos momentos mais difíceis da depressão
econômica e da Segunda Guerra Mundial, disse – antes mesmo de ser
eleito para a Presidência pela primeira vez – num discurso que
proferiu em 1928: “Quero pregar uma nova doutrina: a separação
completa entre os negócios e o governo”.
É
essa a fórmula mágica, simples e vencedora, de que o Brasil carece
para ter uma estrutura verdadeiramente capitalista, liberal, voltada
para o progresso com que todos sonham e que inclusive faz parte do
lema de sua bandeira. O episódio do tabelamento da Sunab, fixando
preços de determinados produtos considerados essenciais, para efeito
de congelamento, acima dos que vinham sendo praticados pelo mercado,
foi uma das tantas provas de que esse intervencionismo estatal,
frequente e na maioria das vezes meramente demagógico, somente
atrapalha o bom andamento da economia.
O
governo, ao congelar preços e salários no Plano Collor II, adotou a
pior das estratégias, se é que de fato pretendia, como apregoou aos
quatro ventos, mudar a chamada cultura inflacionária que já está
impregnada no comportamento do brasileiro.
Por
maior que tenha sido o sigilo da equipe econômica, a informação
sobre o programa antiinflacionário em elaboração vazou para a
sociedade. A adoção de fato do congelamento, confirmando os boatos
que circulavam, simplesmente tornou mais fundas as raízes da cultura
inflacionária.
O
presidente Roosevelt, no mesmo discurso citado, justificou a
necessidade do governo ater-se rigorosamente à sua função
administrativa, sem interferências indevidas que inibissem a
iniciativa privada.
Sentenciou:
“Precisamos impor resistência contra a burocratização dos
negócios em nosso país que envenena as próprias raízes do
liberalismo: isto é, a igualdade política, a liberdade de palavra,
de reunião, de imprensa e a igualdade de oportunidade”.
Somente
quando se agir assim, separando os assuntos políticos da liberdade
econômica, o Brasil poderá começar a aspirar sua ascensão não ao
seleto Primeiro Mundo, pois para isso ainda há um longo caminho a
percorrer, mas pelo menos ao Segundo, o dos países industrializados
com economias de mercado autênticas. O que o País precisa neste
momento é de um choque, mas de liberalismo, não o de fachada que se
apregoa por aí.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de
fevereiro de 1991).
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