Tuesday, June 26, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Choque de liberalismo


Choque de liberalismo



Pedro J. Bondaczuk


O ex-presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que exerceu três mandatos consecutivos na Casa Branca e conduziu seu país com segurança e competência nos momentos mais difíceis da depressão econômica e da Segunda Guerra Mundial, disse – antes mesmo de ser eleito para a Presidência pela primeira vez – num discurso que proferiu em 1928: “Quero pregar uma nova doutrina: a separação completa entre os negócios e o governo”.

É essa a fórmula mágica, simples e vencedora, de que o Brasil carece para ter uma estrutura verdadeiramente capitalista, liberal, voltada para o progresso com que todos sonham e que inclusive faz parte do lema de sua bandeira. O episódio do tabelamento da Sunab, fixando preços de determinados produtos considerados essenciais, para efeito de congelamento, acima dos que vinham sendo praticados pelo mercado, foi uma das tantas provas de que esse intervencionismo estatal, frequente e na maioria das vezes meramente demagógico, somente atrapalha o bom andamento da economia.

O governo, ao congelar preços e salários no Plano Collor II, adotou a pior das estratégias, se é que de fato pretendia, como apregoou aos quatro ventos, mudar a chamada cultura inflacionária que já está impregnada no comportamento do brasileiro.

Por maior que tenha sido o sigilo da equipe econômica, a informação sobre o programa antiinflacionário em elaboração vazou para a sociedade. A adoção de fato do congelamento, confirmando os boatos que circulavam, simplesmente tornou mais fundas as raízes da cultura inflacionária.

O presidente Roosevelt, no mesmo discurso citado, justificou a necessidade do governo ater-se rigorosamente à sua função administrativa, sem interferências indevidas que inibissem a iniciativa privada.

Sentenciou: “Precisamos impor resistência contra a burocratização dos negócios em nosso país que envenena as próprias raízes do liberalismo: isto é, a igualdade política, a liberdade de palavra, de reunião, de imprensa e a igualdade de oportunidade”.

Somente quando se agir assim, separando os assuntos políticos da liberdade econômica, o Brasil poderá começar a aspirar sua ascensão não ao seleto Primeiro Mundo, pois para isso ainda há um longo caminho a percorrer, mas pelo menos ao Segundo, o dos países industrializados com economias de mercado autênticas. O que o País precisa neste momento é de um choque, mas de liberalismo, não o de fachada que se apregoa por aí.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de fevereiro de 1991).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: