Friday, March 16, 2018

SIRETO DO ARQUIVO - FHC quer outro mandato


FHC quer outro mandato


Pedro J. Bondaczuk


O presidente Fernando Henrique Cardoso, depois de certa relutância inicial, resolveu assumir de vez, publicamente, a tese da reeleição para todos os cargos executivos (Prefeitura, Governo do Estado e Presidência da República).

Com isso, entrou em rota de colisão com outros presidenciáveis, casos específicos de José Sarney, de Itamar Franco e de Leonel Brizola. Os três "caciques" estariam (por razões óbvias) preparando uma frente comum para impedir a aprovação de uma emenda constitucional nesse sentido, no Congresso.

Em princípio, somos totalmente favoráveis à reeleição. Só não entendemos a razão desse dispositivo já não constar da Constituição. Qual o problema? Se um administrador fizer uma boa gestão, é lícito que seja mantido no cargo, para que dê continuidade a projetos de médio e longo prazos que esteja desenvolvendo.

Sua manutenção será uma atitude inteligente e sobretudo pragmática. Caso contrário, por mais ingênuo que seja o eleitorado, nem com "reza brava" o mau gestor da coisa pública conseguirá se reeleger.

A possibilidade de reeleição, em especial para a Presidência, é um princípio adotado hoje em dia na maioria dos países do mundo, à exceção da África e da América Latina. E mesmo no nosso continente, Argentina e Peru já introduziram dispositivos constitucionais tornando isso possível.

A argumentação dos opositores é a de uso da máquina de governo para a perpetuação no poder. Balela. Tradicionalmente, na História do Brasil, nos hiatos democráticos que o País tem tido --- pois dos 107 anos de República, 37 foram passados sob ditaduras --- o presidente sequer consegue fazer seu sucessor.

O marechal Gaspar Dutra não logrou eleger o brigadeiro Eduardo Gomes, contra Getúlio Vargas. Juscelino Kubitschek não conseguiu convencer o eleitorado a escolher o general Teixeira Lott a quem apoiava. José Sarney em nada influenciou para favorecer o candidato peemedebista Ulysses Guimarães nas eleições de 1990.

O fato de haver reeleição --- caso o princípio seja implantado --- não significa, portanto, que FHC seja automaticamente reeleito. Terá que mostrar muito serviço, solucionar pelo menos os problemas mais agudos que afetam o País e cair nas boas graças do eleitorado para conseguir essa façanha.

O que está havendo, isto sim, é um erro tático do governo, trazendo o assunto à baila agora, prematuramente. Levantando o tema neste momento, quando seu mandato sequer chegou ainda à metade, o presidente lança --- sem que este seja certamente seu desejo --- a campanha sucessória de 1998.

O risco evidente é o do esvaziamento da sua gestão e dos debates em torno de questões muito mais urgentes, como as reformas administrativa, agrária, fiscal e sobretudo política, que não podem mais esperar.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de setembro de 1996)

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