FHC quer outro mandato
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Fernando Henrique
Cardoso, depois de certa relutância inicial, resolveu assumir de
vez, publicamente, a tese da reeleição para todos os cargos
executivos (Prefeitura, Governo do Estado e Presidência da
República).
Com isso, entrou em rota de
colisão com outros presidenciáveis, casos específicos de José
Sarney, de Itamar Franco e de Leonel Brizola. Os três "caciques"
estariam (por razões óbvias) preparando uma frente comum para
impedir a aprovação de uma emenda constitucional nesse sentido, no
Congresso.
Em princípio, somos
totalmente favoráveis à reeleição. Só não entendemos a razão
desse dispositivo já não constar da Constituição. Qual o
problema? Se um administrador fizer uma boa gestão, é lícito que
seja mantido no cargo, para que dê continuidade a projetos de médio
e longo prazos que esteja desenvolvendo.
Sua manutenção será uma
atitude inteligente e sobretudo pragmática. Caso contrário, por
mais ingênuo que seja o eleitorado, nem com "reza brava" o
mau gestor da coisa pública conseguirá se reeleger.
A possibilidade de reeleição,
em especial para a Presidência, é um princípio adotado hoje em dia
na maioria dos países do mundo, à exceção da África e da América
Latina. E mesmo no nosso continente, Argentina e Peru já
introduziram dispositivos constitucionais tornando isso possível.
A argumentação dos
opositores é a de uso da máquina de governo para a perpetuação no
poder. Balela. Tradicionalmente, na História do Brasil, nos hiatos
democráticos que o País tem tido --- pois dos 107 anos de
República, 37 foram passados sob ditaduras --- o presidente sequer
consegue fazer seu sucessor.
O marechal Gaspar Dutra não
logrou eleger o brigadeiro Eduardo Gomes, contra Getúlio Vargas.
Juscelino Kubitschek não conseguiu convencer o eleitorado a escolher
o general Teixeira Lott a quem apoiava. José Sarney em nada
influenciou para favorecer o candidato peemedebista Ulysses Guimarães
nas eleições de 1990.
O fato de haver reeleição
--- caso o princípio seja implantado --- não significa, portanto,
que FHC seja automaticamente reeleito. Terá que mostrar muito
serviço, solucionar pelo menos os problemas mais agudos que afetam o
País e cair nas boas graças do eleitorado para conseguir essa
façanha.
O que está havendo, isto sim,
é um erro tático do governo, trazendo o assunto à baila agora,
prematuramente. Levantando o tema neste momento, quando seu mandato
sequer chegou ainda à metade, o presidente lança --- sem que este
seja certamente seu desejo --- a campanha sucessória de 1998.
O risco evidente é o do
esvaziamento da sua gestão e dos debates em torno de questões muito
mais urgentes, como as reformas administrativa, agrária, fiscal e
sobretudo política, que não podem mais esperar.
(Artigo publicado na página
3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de setembro de 1996)
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