Monday, March 12, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Terceira fase do Real


Terceira fase do Real


Pedro J. Bondaczuk


O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, sinalizou com a continuidade do Plano Real em seu governo, ao definir Pedro Malan, atual presidente do Banco Central e um dos autores do programa de estabilização econômica, como o futuro ministro da Fazenda. A partir dessa indicação, começa a ser montada a equipe governamental para os próximos quatro anos.

Há especulações, não confirmadas, sobre duas outras supostas definições: a dos deputados Reinhold Stephanes (PFL-PR) para a Previdência Social e Nelson Jobim (PMDB-RS) para a Justiça. Além disso, é dada como certa a presença do economista e ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas, Paulo Renato de Souza, à frente da Secretaria do Planejamento, que seria transformada numa espécie de "superministério".

A expectativa geral, agora, fica por conta do pronunciamento que Fernando Henrique vai fazer no próximo dia 14, no Senado, em sua despedida dessa casa, após a volta da reunião de cúpula das Américas, a ser realizada em Miami e que começa neste domingo (4 de dezembro de 1994).

Espera-se que neste discurso revele as primeiras medidas de impacto de seu governo. Elas poderão dar uma indicação acerca das suas prioridades e sobre o que a população pode esperar em termos de ações para o combate à inflação e, consequentemente, para preservação da moeda. Como se sabe, o Plano Real consta de três etapas.

A primeira, foi a criação de um indexador que se pretendia único (e que acabou não sendo), a tão falada e hoje esquecida Unidade Real de Valor (URV). A segunda, foi a troca monetária, uma operação gigantesca e complicada, nunca antes tentada em lugar algum do mundo, com tais dimensões, e que acabou ocorrendo de forma surpreendentemente tranquila.

Os problemas que apareceram no início, especificamente a falta de troco, postos como "cavalos de batalha" por alguns, que torciam pelo fracasso do programa, acabaram solucionados até com facilidade, sem traumas e sem sequelas.

De todas as etapas, contudo, a terceira é a mais importante e difícil. Implica em mudanças na atual Constituição, que reestruturem o próprio Estado, combatendo a inflação não mais nos seus efeitos, os preços, mas em sua raiz, o déficit público e o endividamento do governo. Dela depende a estabilidade não apenas da moeda, mas do próprio País. Será nessa fase que ocorrerá a definição sobre o ritmo da retomada do desenvolvimento. Um dos pontos essenciais dela é a reforma tributária, que garanta à União uma fonte de recursos, sem penalizar o setor produtivo.

Outra medida polêmica a ser negociada é a que se refere à Previdência Social. Há, por exemplo, forte tendência para a extinção das aposentadorias por tempo de serviço, questão politicamente explosiva, que certamente deverá  polarizar as manchetes nos próximos meses. Claro que qualquer mudança nesse sentido deverá  respeitar os direitos adquiridos. Estes são absolutamente sagrados e invioláveis.

Nenhuma lei pode ser retroativa, a menos que beneficie o cidadão. É um axioma legal, um ponto indiscutível. Quem já completou, portanto, seus 35 anos contínuos de trabalho (ou 30, nos casos especiais), deve ter seu direito à aposentadoria respeitado. Como será essa reforma previdenciária? Que mudanças vão ocorrer na estrutura administrativa do Estado? E os tributos, quantos serão, em que taxas e como serão cobrados e fiscalizados? Estas são as questões que doravante estarão postas na mesa para o debate público.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de dezembro de 1994)



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