Encontro
fatal
Pedro
J. Bondaczuk
As
descobertas – ouso afirmar embora admita contestações – são
uma das principais características da vida. Vivemos descobrindo
coisas, concretas e abstratas, do nascimento à morte. E, fôssemos
imortais, seguiríamos descobrindo eternidade afora. Chegamos a
“este” mundo (desconheço, óbvio, se existe outro com condições
de abrigar a vida como a conhecemos, embora intua que sim)
simultaneamente estranho e hostil, porém também fascinante e
misterioso, sem saber coisa alguma. Custamos a aprender a sentar, a
engatinhar, a andar, a falar e vai por aí afora. E continuamos
aprendendo, aprendendo e aprendendo, tanto coisas básicas e
essenciais à sobrevivência, quanto as supérfluas, inúteis e
algumas até nocivas e deletérias. Embora pareça clichê, e de fato
seja, o saber não ocupa lugar.
Somos
dotados de insaciável curiosidade, que é a "mãe" de toda
a sabedoria (mas, não raro, também, de toda a burrice). Procuramos
conhecer de tudo, quer esse conhecimento nos conduza a uma evolução,
quer nos traga riscos de sofrer retrocessos ou até mesmo nos leve à
autodestruição, ou individual ou até da espécie (como são os
casos dos segredos do átomo e da estrutura genética, capazes de
fazer o ser humano desaparecer do universo, se utilizados de forma
inadequada).
O
conhecimento de que mais necessitamos, porém, posto que apenas
parcialmente, o autoconhecimento, é relegado a um segundo plano,
como se fosse desnecessário. Ledo engano! E por que me refiro a essa
“parcialidade” no processo de nos conhecermos a nós mesmos?
Porque entendo que jamais teremos possibilidades de chegar ao
autoconhecimento integral. Sei que muitos contestarão essa afirmação
e é saudável e necessário que assim seja. A contestação, quando
inteligente e civilizada, é não apenas útil, mas indispensável
para se chegar à verdade (outra abstração ambígua) ou pelo menos
se aproximar dela.
Não
creio que haja alguém que se conheça integralmente e que não se
surpreenda, amiúde, com alguma idéia, com algum desejo ou com
alguma ação que não julgava ser capaz de ter ou praticar. Somos,
mesmo que parcialmente, “estranhos” a nós mesmos. Isso mesmo. E,
como é de meu estilo exagerar, não reluto em utilizar o superlativo
“estranhíssimos”. Há quem busque (ou pelo menos aparente
buscar) este autoconhecimento. A maioria, porém, sequer pensa nisso.
Muitas pessoas, embora pensem, relutam em assumir essa tarefa. A
maioria não a assume jamais. Aliás, sequer chega a tentar. Quem nem
tenta, possivelmente, teme o que possa vir a descobrir a seu
respeito, sabe-se lá.
Todavia,
só conhecendo nossas potencialidades e vulnerabilidades (embora
apenas algumas, porquanto insisto em minha crença na impossibilidade
de um autoconhecimento integral) teremos condições de evoluir e,
quem sabe, voar tão alto, a ponto de alcançar as estrelas. Por
isso, vale o esforço.
Gosto
de abordar este assunto, sempre que aparece oportunidade para tal,
mesmo sem ter nada de novo a acrescentar ao debate. Embora não
acredite na possibilidade de um autoconhecimento integral, defendo
que devemos tentar, e tentar e tentar, exaustiva e permanentemente,
chegar a essa “luz” espiritual. Aliás, este é o objetivo final
de todos os filósofos e correntes filosóficas. Muitas não
explicitam essa meta, mas ela está sempre subjacente em suas
proposições e seus raciocínios.
As pessoas,
no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo atravessa
neste início da segunda década do terceiro milênio da era cristã,
sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não
especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão
fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem
procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem
porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por
si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente
profunda pelos outros. Daí a solidão que domina tanta gente. Daí a
fuga para os “paraísos” artificiais de droga e do alcoolismo (na
verdade infernos). Daí a violência crescente que pode nos destruir
a todos. O que tais pessoas precisam é de objetivos claros e de um
mínimo de autoconhecimento, para não dizer, de bom senso, que de
fato não têm e, pior, nem procuram ter.
A
este propósito, gosto de citar, sempre que o assunto vem à baila,
uma afirmação do premiado poeta chileno Pablo Neruda, que escreveu:
“Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar,
indefectivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode
ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas”. Fugir desse
encontro é inútil, posto que impossível. Para alguns, será uma
revelação gloriosa. Para outros...
Algumas
verdades, preexistentes, mas que por alguma razão, não conseguimos
alcançar em determinado período da nossa trajetória de vida, de
repente, emergem diante de nós, se desnudam aos nossos olhos, se
revelam à nossa consciência. Muitas são óbvias, mas encaramo-las
dessa maneira apenas depois da revelação. Esta, em geral, ocorre
com a aquisição da experiência, resultado de muitos anos de
empirismo, de sucessivas tentativas e erros. Torna-se, para nós,
também uma descoberta.
Robert
Louis Stevenson faz interessante observação a esse propósito:
"Todos podem executar seu trabalho, por difícil que seja, por
um dia. Todos podem viver com doçura, paciência, ternura e pureza
até que o Sol se ponha. E isso é tudo o que a vida realmente
significa". Ou seja, ela é muito simples. Nós é que a
complicamos com nossos temores, iras, ambições e egoísmo. Sei que
estou sendo repetitivo, mas este é um vezo de jornalista. Afinal, o
jornalismo tende a ser, e é, reiterativo.
Reagimos
(para o bem e para o mal, mas geralmente para este último) muito em
função das circunstâncias, do momento, das oportunidades. O que o
indivíduo precisa é das informações básicas que o conduzam ao
autoconhecimento. Ou, para ser coerente, à tentativa de chegar a
ele. Reitero que, somente se conhecendo (posto que, insisto,
parcialmente) o indivíduo estará capacitado a fazer a escolha do
que entender ser o melhor para ele.
E
se errar? Paciência! O erro é uma possibilidade onipresente de quem
tenta, arrisca e age. Se o cometer, será, certamente, um fracassado
e infeliz, caso não torne a tentar. Tem que continuar tentando,
quantas vezes forem necessárias. Precisará, portanto, ter um
objetivo na vida, um norte, uma direção para onde seguir. Mas de um
que seja factível e de preferência de caráter altruísta, que lhe
direcione as ações para metas maiores do que as individuais e
mesquinhas. Só assim terá (posto que remota) possibilidade e se
sentir minimamente realizado e feliz. Você se conhece? Eu,
certamente, não.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment