Bom astral de volta
Pedro J. Bondaczuk
As atenções do brasileiro,
agora que acabou a Copa do Mundo dos Estados Unidos, com a esperada
conquista do tetra, vão se voltar para as próximas eleições
gerais, que crescem em importância diante do clima favorável, até
mesmo de otimismo, que se formou no País, após o feito da nossa
seleção.
O prognóstico, feito também
na base da intuição, como os palpites que dávamos no decorrer da
disputa do Mundial, é o de que, ao contrário de outras ocasiões,
desta vez o eleitorado vai acertar. Acabará votando com mais
consciência e maturidade e escolhendo os homens certos para os
cargos em disputa. Que assim seja!
E quanto ao real? Vai dar
certo? Não vai? O que irá ocorrer em relação à nova moeda? Tudo
vai depender dos responsáveis por sua gestão. As primeiras pressões
já começam a surgir e vêm do próprio governo. A Petrobrás, por
exemplo, vem tentando aumentar o preço dos combustíveis, sob a
argumentação de elevação do custo do barril do petróleo no
Exterior.
Tomara que o ministro Rubens
Ricupero bata pé firme e não se deixe levar por essa e nem por
outra tentativa qualquer de pôr a mão mais fundo no bolso da
população. A Eletrobrás, igualmente, reivindica elevação de
tarifas. Pois é, justo os dois insumos que mais pesam nos custos das
empresas, especialmente de indústrias. Caso os reajustes sejam
autorizados, o plano não resiste sequer ao período anterior às
eleições, conforme previam os seus adversários.
Esperamos, contudo, que ocorra
com o real algo parecido com o que aconteceu em relação à Seleção
Brasileira. Que, a despeito de riscos, de sobressaltos e de sufocos,
surpreenda a todos e estabilize de vez a nossa há tanto tempo
bagunçada economia.
Não se trata de defender ou
atacar o governo, ou o partido "x", "y", ou "z".
Há um motivo prático nesse empenho pelo sucesso do real. Depois de
sete planos, tanto ortodoxos, quanto heterodoxos, quanto
orto-heterodoxos ou hetero-ortodoxos, ninguém mais aguenta tanta
incerteza e tanta interferência em sua vida.
A expectativa, portanto, e sem
descambar para o excesso de otimismo, é a de que, nos três grandes
acontecimentos do ano, o País saia vencedor. No primeiro, a Copa do
Mundo, o caneco já está conosco, com penais ou sem eles.
No segundo, a criação de uma
moeda forte, que cada cidadão queira ter no bolso, por não ficar
exposta à corrosão inflacionária, o "jogo está em
andamento". Se for preciso levá-lo para a prorrogação ou até
mesmo para os penais, como aconteceu no futebol, com a Itália, que
assim seja.
No terceiro, a disputa sequer
começou. Está naquela fase preliminar, de preparativos. Convém que
o eleitorado, desta vez, não encare as eleições como mera
obrigação enfadonha. O destino do País, para os próximos quatro
anos, está em suas mãos.
O ano de 1994, portanto, que
começou sob tantas tensões e tão baixo astral, agravado com a
trágica morte de Ayrton Senna, pode se transformar naquele da
"grande virada", do sepultamento definitivo de uma
interminável crise, iniciada não se sabe mais quando e que tem tudo
para acabar agora.
Não se trata de mero sonho ou
de projeção exacerbadamente otimista, mas de uma possibilidade
real, concreta, próxima e cuja oportunidade de confirmação não
temos o direito de desperdiçar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 23 de julho de 1994).
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