Thursday, March 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - O cambiante quadro da sucessão paulista


O cambiante quadro da sucessão paulista



Pedro J. Bondaczuk


A campanha sucessória paulista, visando as eleições de 15 de novembro próximo, já está nas ruas, empolgando os políticos e provocando as primeiras definições do eleitorado. Desde o seu início, ela dá mostras de como será essa corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, que vai influir, diretamente, nos destinos do País, pelo peso e importância de São Paulo no contexto da Federação.

Os postulantes à sucessão de Franco Montoro terão que disputar, palmo a palmo, cada voto. E nas próximas eleições, um novo fator imponderável se fará presente, qual seja, a possibilidade do analfabeto também poder votar.

É verdade que na escolha do novo prefeito da Capital, no ano passado, isso não pesou tanto quanto seria de se esperar. Mas agora, melhor informado, esse contingente razoável de novos eleitores poderá se constituir até no fiel da balança nessa disputa.

Mal as candidaturas foram anunciadas, o quadro sucessório paulista já sofreu duas grandes mudanças. A primeira, foi a desistência do ex-ministro de Relações Exteriores, Olavo Setúbal, de sua postulação pelo Partido da Frente Liberal. A outra, possivelmente de maior peso ainda do que a anterior, foi o anúncio do empresário Antônio Ermírio de Moraes de que iria concorrer nas eleições para governar todos os paulistas nos próximos quatro anos.

É muito prematuro, ainda, traçar-se uma análise serena sobre quem ganhou e quem perdeu, entre os três candidatos com maiores chances que se lançaram primeiro, com essas alterações. Afinal, o Estado é muito populoso e as pesquisas de opinião precisam ter muito cuidado ao avaliar a tendência do analfabeto no próximo pleito.

Na Capital, o petista Eduardo Matarazzo Suplicy conserva a vantagem inicial que lhe foi atribuída por algumas prévias, de acordo com a “Folha de S. Paulo” de ontem, com mais de 30% das intenções de voto. A seguir vem Orestes Quércia, do PMDB, colado nos calcanhares do deputado do PT, melhorando, dessa forma, a sua posição em relação ao levantamento anterior.

Mas Antônio Ermírio, apenas seis dias após anunciar a sua pretensão de concorrer à sucessão de Franco Montoro, já conseguiu superar o deputado Paulo Maluf e obter inquietadores 18%, confirmando a popularidade que goza entre os paulistanos. É verdade que Matarazzo Suplicy sequer é, ainda, o candidato oficial do Partido dos Trabalhadores. E que as eleições para o governo do Estado são bem diferentes das para a Prefeitura de São Paulo.

O Interior vem aumentando, de ano para ano, o seu peso. Hoje ele representa cerca de 66% do eleitorado e pode definir, sozinho, dependendo do prestígio pessoal de algum dos candidatos, o resultado final. O que ele pensa, quais são suas aspirações e o que exige dos postulantes precisa ser cuidadosamente avaliado. O eleitor interiorano, atualmente, é bastante politizado. Não se deixa mais enganar por personalismos e por arroubos messiânicos. É mais objetivo, exigente e constante.

O fator decisivo, no nosso entender, que irá nortear, não somente a campanha sucessória, mas determinar, principalmente, o resultado das eleições, será o sucesso ou insucesso do plano “Inflação Zero”, do governo Sarney. E, por extensão, o apoio que o presidente da República emprestar a este ou aquele candidato.

No caso das medidas surtirem os efeitos que dela se espera (e tudo leva a crer que surtirão), as chances irão pender, quase todas, para o peemedebista Orestes Quércia, embora tendo em Antônio Ermírio um considerável adversário, que poderá surpreender na reta de chegada. Se fracassarem...Bem, então aquilo que poderá acontecer, não somente no Estado, mas em todo o País, nem o mais pessimista dos pessimistas poderá prever com exatidão.

Para o PMDB, a frustrante derrota de Fernando Henrique Cardoso no pleito municipal do ano passado serviu como lição. O partido não cometeu, outra vez, o grave erro de deixar a definição da candidatura para a última hora. Movimentou-se cedo, conciliou as divergências internas, manifestadas quanto à renovação do seu diretório. Não implodiu, conforme muitos analistas afoitos chegaram a prever. E já está com a campanha nas ruas.

Só que fica ao observador a impressão de que o PMDB não está sabendo explorar bem, politicamente, a euforia despertada na população pelo plano “Inflação Zero”. Afinal, ele foi implantado por um presidente filiado há mais de um ano ao partido, onde está até hoje.

É certo que as medidas têm possibilidade de fracassar. Ma se isso, desgraçadamente para todos nós, vier a ocorrer, de maneira alguma o candidato peemedebista conseguirá se desvincular, perante o povo, desse plano. Ora, se ele pode, eventualmente, ser um fator negativo, por que não apostar no seu sucesso e explorar isso eleitoralmente? O projeto é uma poderosa arma à disposição do PMDB e é lícito e válido que o partido a utilize com maestria.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de março de 1986)



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