O cambiante quadro da sucessão paulista
Pedro J. Bondaczuk
A campanha sucessória
paulista, visando as eleições de 15 de novembro próximo, já está
nas ruas, empolgando os políticos e provocando as primeiras
definições do eleitorado. Desde o seu início, ela dá mostras de
como será essa corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, que vai
influir, diretamente, nos destinos do País, pelo peso e importância
de São Paulo no contexto da Federação.
Os postulantes à sucessão de
Franco Montoro terão que disputar, palmo a palmo, cada voto. E nas
próximas eleições, um novo fator imponderável se fará presente,
qual seja, a possibilidade do analfabeto também poder votar.
É verdade que na escolha do
novo prefeito da Capital, no ano passado, isso não pesou tanto
quanto seria de se esperar. Mas agora, melhor informado, esse
contingente razoável de novos eleitores poderá se constituir até
no fiel da balança nessa disputa.
Mal as candidaturas foram
anunciadas, o quadro sucessório paulista já sofreu duas grandes
mudanças. A primeira, foi a desistência do ex-ministro de Relações
Exteriores, Olavo Setúbal, de sua postulação pelo Partido da
Frente Liberal. A outra, possivelmente de maior peso ainda do que a
anterior, foi o anúncio do empresário Antônio Ermírio de Moraes
de que iria concorrer nas eleições para governar todos os paulistas
nos próximos quatro anos.
É muito prematuro, ainda,
traçar-se uma análise serena sobre quem ganhou e quem perdeu, entre
os três candidatos com maiores chances que se lançaram primeiro,
com essas alterações. Afinal, o Estado é muito populoso e as
pesquisas de opinião precisam ter muito cuidado ao avaliar a
tendência do analfabeto no próximo pleito.
Na Capital, o petista Eduardo
Matarazzo Suplicy conserva a vantagem inicial que lhe foi atribuída
por algumas prévias, de acordo com a “Folha de S. Paulo” de
ontem, com mais de 30% das intenções de voto. A seguir vem Orestes
Quércia, do PMDB, colado nos calcanhares do deputado do PT,
melhorando, dessa forma, a sua posição em relação ao levantamento
anterior.
Mas Antônio Ermírio, apenas
seis dias após anunciar a sua pretensão de concorrer à sucessão
de Franco Montoro, já conseguiu superar o deputado Paulo Maluf e
obter inquietadores 18%, confirmando a popularidade que goza entre os
paulistanos. É verdade que Matarazzo Suplicy sequer é, ainda, o
candidato oficial do Partido dos Trabalhadores. E que as eleições
para o governo do Estado são bem diferentes das para a Prefeitura de
São Paulo.
O Interior vem aumentando, de
ano para ano, o seu peso. Hoje ele representa cerca de 66% do
eleitorado e pode definir, sozinho, dependendo do prestígio pessoal
de algum dos candidatos, o resultado final. O que ele pensa, quais
são suas aspirações e o que exige dos postulantes precisa ser
cuidadosamente avaliado. O eleitor interiorano, atualmente, é
bastante politizado. Não se deixa mais enganar por personalismos e
por arroubos messiânicos. É mais objetivo, exigente e constante.
O fator decisivo, no nosso
entender, que irá nortear, não somente a campanha sucessória, mas
determinar, principalmente, o resultado das eleições, será o
sucesso ou insucesso do plano “Inflação Zero”, do governo
Sarney. E, por extensão, o apoio que o presidente da República
emprestar a este ou aquele candidato.
No caso das medidas surtirem
os efeitos que dela se espera (e tudo leva a crer que surtirão), as
chances irão pender, quase todas, para o peemedebista Orestes
Quércia, embora tendo em Antônio Ermírio um considerável
adversário, que poderá surpreender na reta de chegada. Se
fracassarem...Bem, então aquilo que poderá acontecer, não somente
no Estado, mas em todo o País, nem o mais pessimista dos pessimistas
poderá prever com exatidão.
Para o PMDB, a frustrante
derrota de Fernando Henrique Cardoso no pleito municipal do ano
passado serviu como lição. O partido não cometeu, outra vez, o
grave erro de deixar a definição da candidatura para a última
hora. Movimentou-se cedo, conciliou as divergências internas,
manifestadas quanto à renovação do seu diretório. Não implodiu,
conforme muitos analistas afoitos chegaram a prever. E já está com
a campanha nas ruas.
Só que fica ao observador a
impressão de que o PMDB não está sabendo explorar bem,
politicamente, a euforia despertada na população pelo plano
“Inflação Zero”. Afinal, ele foi implantado por um presidente
filiado há mais de um ano ao partido, onde está até hoje.
É certo que as medidas têm
possibilidade de fracassar. Ma se isso, desgraçadamente para todos
nós, vier a ocorrer, de maneira alguma o candidato peemedebista
conseguirá se desvincular, perante o povo, desse plano. Ora, se ele
pode, eventualmente, ser um fator negativo, por que não apostar no
seu sucesso e explorar isso eleitoralmente? O projeto é uma poderosa
arma à disposição do PMDB e é lícito e válido que o partido a
utilize com maestria.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de março de 1986)
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