Cultivo
da personalidade
Pedro
J. Bondaczuk
A
palavra “personalidade” é, no meu entender, autoexplicativa. Não
requer grande esforço mental ou semântico para ser definida e nem
intensa ginástica do raciocínio para ser compreendida. É um
conjunto de características, físicas, psíquicas, afetivas,
comportamentais etc. etc.etc. que caracteriza determinada pessoa e a
torna única, entre as que já viveram, vivem e/ou ainda viverão.
Houve – e certamente, há e haverá – muitas outras “parecidas”,
não raro “semelhantes”, mas jamais “iguais”. A personalidade
é o que o termo sugere: o nosso “distintivo”, exclusivo, em meio
a uma infinidade de espécimes da nossa espécie.
Antropólogos,
biólogos, etologistas (estudiosos do comportamento), filósofos e,
sobretudo, educadores, entre outros cientistas, debatem sobre se cada
qual já nasce com pelo menos um “esboço” de personalidade, que
pode (e é) alterado no curso de sua vida, ou se ela é moldada
exclusivamente pela educação, em seu sentido mais amplo.
Entendo
que há um pouco de cada. Há inúmeras características inatas, que
podem ser corrigidas (ou deterioradas quando for o caso), melhoradas
(ou pioradas), mas que nunca são suprimidas ou substituídas. Às
vezes permanecem apenas latentes, adormecidas, mas estão dentro de
nós enquanto existimos. Seus traços básicos permanecem presentes
em cada indivíduo até a sua morte.
Por
seu turno, há tantas outras características que vamos acrescentando
ao longo da vida, voluntariamente ou ao sabor do acaso e das
circunstâncias, que nos tornam, na velhice, bem diferentes do que
fomos na infância (melhorados ou piorados, é mister que se
destaque). O que varia, de pessoa para pessoa, é a intensidade
dessas mudanças, reduzindo ou acentuando diferenças, de acordo com
a realidade de cada uma.
Fica
assente, pois, que podemos melhorar nossa personalidade (e também
piorá-la, o que, óbvio, não é nada desejável). O homem, no
sentido genérico, enquanto espécie (portanto, sem individualizar ou
distinguir ninguém), em sua busca frenética pelo supérfluo, perde
de vista o essencial. Em sua corrida por bens que apenas lhe
pertencerão no curto espaço de sua vida terrena (provavelmente a
única, a despeito do que apregoam as religiões) deixa de realizar
seu potencial de grandeza, de melhorar sua imagem, sua pessoa e seus
pensamentos, sentimentos, atos e, por consequência, de dar
contribuição para melhorar os relacionamentos. Há exceções,
óbvio (e felizmente).
Raros,
no entanto, se preocupam com essa melhoria. Em geral, as pessoas
tentam impor, e não raro a força (mesmo que de forma instintiva e
inconsciente) o que pensam, querem e são, notadamente para os que
consideram subalternos. Sequer levam em conta a personalidade alheia.
Agem demais, posto que de forma caótica e desordenada, e pensam de
menos, sem método, sem ritmo, sem disciplina. A maioria consegue, no
final das contas, apenas infelicidade, causada pela frustração dos
desejos, que não sabe limitar e nem moldar na medida da capacidade e
malbarata a vida que, como todos sabem, não tem reprise.
Existe
alguma forma do indivíduo moldar a personalidade ou esta é produto
apenas da genética? Podem, a educação e o meio em que a pessoa
nasceu e/ou foi criada (portanto, mera fatalidade) melhorar ou piorar
essência de alguém, o que o distingue dos demais? As opiniões
divergem. Muitos educadores entendem que a moldagem é não apenas
possível como desejável e que a vontade (do educador e,
principalmente, do educando) tem papel determinante nessa operação.
Outros, por sua vez, acham que não.
Da
minha parte estou convicto que o desenvolvimento de uma personalidade
sadia, integrada e, sobretudo, voltada para o mundo, e não
exclusivamente para o interior das pessoas, é não apenas factível,
como até uma das tarefas principais do ser humano durante a
existência. Pode parecer paradoxo esse empenho, já que cada
indivíduo que nasce é único, sem qualquer similar no passado e no
futuro.
Podem
surgir sósias (e volta e meia surgem). Há identidade de
características biológicas, por exemplo, em gêmeos univitelinos,
impossíveis de serem distinguidos quando juntos e trajando as mesmas
vestes. No entanto, não existem (e não existiram nem existirão)
duas pessoas exatamente iguais. Cada qual é única, é original, é
um mundo, é um universo complexo e indesvendável em sua totalidade.
É
certo que há comportamentos padrões que massificam, descaracterizam
e nulificam o indivíduo, imposto de cima para baixo. Os tiranos
buscam impor essa massificação para seu proveito. Daí cada qual
ter a necessidade de estar consciente de que precisa melhorar a cada
instante o que é, tem que aprender o máximo de lições e acumular
quantas informações for possível, deve “colecionar” todas as
experiências que puder para, assim, realçar seu distintivo, suas
peculiaridades (caso positivas e construtivas, claro), sua marca
pessoal, essa tal a que se convencionou chamar de "personalidade".
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