Consciência e experiência
Pedro J. Bondaczuk
A exata percepção de todas
as informações que recebemos (não importa por quais meios) – de
tudo o que fazemos, do que nos fazem e, enfim, do que nos acontece ao
longo da vida e se constitui no nosso acervo de experiências
pessoais – e a sua consequente fixação na memória, é o que se
convencionou chamar de consciência. A maioria das pessoas não sabe
o que fazer com a maior parte do que aprende.
Determinados indivíduos, por
exemplo, cometem, sempre e sempre, os mesmos erros e afrontam, claro,
as mesmas consequências, sem que se decidam a mudar de atitude.
Sofrem porque querem. Teimosia? Talvez! Essas pessoas são incapazes
de perceber que agindo da forma que agem, não chegarão a lugar
algum. Quase nunca chegam.
Sabem o que é certo, mas não
o praticam. São experientes, no entanto, não são conscientes. O
que é mais importante para nós, o conhecimento ou a experiência?
Claro que ambos. Mas, digamos que tenhamos que optar por um dos dois.
Eu optaria, sem pestanejar, pelo segundo.
Conhecimento eu posso obter (e
obtenho) por vários meios, como pela leitura, por exemplo, ou por
conversa com os amigos ou com pessoas cultas, ou por ver determinado
objeto ou testemunhar um fato importante, que adquira, com os anos,
caráter histórico, etc., sem que precise me expor pessoalmente.
Todavia, quando “vivo”
essas situações, que poderia conhecer pelas formas mencionadas,
elas se fixam para sempre na minha memória. E mais, se incorporam,
de vez, ao meu cabedal de vida. Resta, no entanto, saber o que fazer
com esse conhecimento obtido, não raro, de forma até traumática.
Caso tenhamos errado, ao
passar por essas experiências, e sofrido as devidas consequências,
manda o bom-senso que se analisem tanto a natureza, quanto a extensão
e, principalmente, a causa dos erros cometidos. E que eles não mais
de repitam. Não é (como afirmei) o que acontece sempre. Às vezes
“memorizamos” a experiência, mas não nos tornamos conscientes
dela.
Trata-se (sei) de tema
complicado para o entendimento. Espero, todavia, estar sendo claro
nesta explanação. Quanto mais cedo nos tornarmos experientes – no
trabalho, na convivência social, nos relacionamentos afetivos etc. –
maiores serão nossas chances de êxito na vida. Contudo, para isso,
teremos que nos expor. É necessário agir, participar, fazer e
desfazer e, claro, correr riscos. Certamente tropeçaremos muitas
vezes. Teremos muitas decepções. Sentir-nos-emos impotentes e
frustrados vezes sem conta. Mas, certamente, nos tornaremos
experientes.
E quanto mais conseguirmos
transformar um vasto cabedal de experiência em consciência, quanto
mais cedo isso acontecer e, principalmente, quanto mais o usarmos em
nosso proveito, maiores chances teremos de evitar aborrecimentos
inúteis e desnecessários e de evoluir na carreira – quer
profissional, quer artística, quer esportiva, e, por consequência,
na vida – sem sustos e nem sobressaltos.
O irônico é que, via de
regra, nos tornamos experientes (e conscientes) quando tudo isso já
não nos traz muito proveito. À medida que envelhecemos, escasseiam
nossas oportunidades, até por questão de preconceito e, por isso,
não podemos mostrar ao mundo o que aprendemos com nossa longa
vivência. Uma pena! Um vasto potencial de grandes realizações
acaba desperdiçado apenas porque alguém (certamente jovem) entende
que juventude seja sinônimo de sabedoria. Muito pelo contrário. E
essa atitude insensata e preconceituosa, convenhamos, é imensa
tolice.
Algumas pessoas passam o resto
de suas vidas ruminando de como seria sua trajetória se pudessem
aplicar (no trabalho, na convivência e nos relacionamentos) tudo o
que aprenderam, de maneira muitas vezes rude e traumática. Tornam-se
amargas, ácidas, críticas e se isolam do mundo, condenadas a uma
velhice penosa e solitária. Outras tantas (raras), porém, têm a
oportunidade de pôr em prática esse aprendizado. E quando não têm,
buscam-na, batalham por ela, constroem-na. Por isso, são úteis,
produtivas e, sobretudo, exemplares até o derradeiro dia de vida.
O escritor francês, André
Malraux, constatou, a esse propósito, num de seus tantos ensaios, em
forma de indagação (cuja resposta nos é, sobretudo, óbvia): “O
que pode um homem fazer de melhor de sua vida que transformar em
consciência a mais ampla experiência possível?”. Ademais,
podemos fazer pouca coisa, além disso.
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