Tuesday, March 13, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Um transporte sem saída


Um transporte sem saída

Pedro J. Bondaczuk

A Prefeitura continua, num processo surdo, a desenvolver a estrutura para implantar o sistema de municipalização dos transportes, começando pela etapa do gerenciamento dos serviços hoje priorizados na região do Campo Grande, onde deu-se a intervenção da Tugran, empresa permissionária que desatendia as condições mínimas de segurança e operacionalização do setor. A anunciada compra de 15 a 50 ônibus da CMTC da Capital para dar o primeiro suporte à esperada Empresa Municipal de Transporte e Trânsito (não se deve esquecer que no projeto da Prefeitura essa empresa vai também cuidar do sistema de trânsito), que numa etapa inicial estará subordinada à reativada Emdec, revela que a Secretaria Municipal de Transportes caminha lenta e decididamente para impor uma visão ideológica extremamente duvidosa.

A intervenção na Tugran foi muito mais um ato de desespero do Poder Público, impotente diante da péssima qualidade do serviço prestado pela empresa. Hoje, a Prefeitura investe elevada soma de recursos todos os meses para assegurar as despesas que não são cobertas pela tarifa. Além disso, a deterioração da frota é também, em grande parte, resultante da falta de pavimentação dos trechos onde situam-se as linhas. Isto significa que de pouco adiantará a compra de novos ônibus sem um plano global de gerenciamento do sistema, numa administração onde o secretário municipal de Transporte, Laurindo Junqueira Filho, praticamente desconhece a realidade dos bairros e evita de todas as formas visitar pessoalmente essas regiões.

A demora do aprendizado da equipe da Prefeitura responsável pela área dos transportes sofre a influência dos percalços construídos pelas divisões internas do PT que, pouco a pouco, vai se omitindo cada vez mais dos grandes temas administrativos. Toda suspeita aponta para a continuidade de graves dificuldades para a Prefeitura superar os obstáculos no setor dos transportes coletivos. Seja pela imaturidade como o assunto é tratado, seja pela falta de vontade política em priorizar essa questão, seja pela influência ideológica que amarra a implantação de um projeto para reduzir os transtornos cotidianos do usuário.

A administração municipal se vê perdida diante dessa tumultuada realidade, acometida de uma perplexidade com a inoperância do PT no trato dos serviços públicos. A insistência com que admitem a salvação do sistema de transporte mediante a aprovação da Empresa Municipal de Transporte e Trânsito (cujo projeto carrega ilegalidades e acusa a intenção de se montar um outro cabide de empregos) sujeita a administração municipal a críticas severas.

Hoje, essas atitudes denunciam a falta de capacidade da administração pública em impor aos empresários permissionários dos serviços de transporte o cumprimento dos contratos que exigem mínimas condições de operacionalidade. A fiscalização da Prefeitura é falha e os resultados obtidos com essa prática são sofríveis. Isto é, as empresas são mal fiscalizadas, recorrem das multas aplicadas e continuam operando em situação de descalabro. Motoristas, por exemplo, começam a dirigir sem qualquer preparo; os usuários reclamam constantemente das altas velocidades, as freadas bruscas, as curvas feitas sem qualquer cuidado. Os ônibus sujos, com atrasos nos horários e muito mais.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de abril de 1990)

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