Um transporte sem saída
Pedro J. Bondaczuk
A Prefeitura continua, num
processo surdo, a desenvolver a estrutura para implantar o sistema de
municipalização dos transportes, começando pela etapa do
gerenciamento dos serviços hoje priorizados na região do Campo
Grande, onde deu-se a intervenção da Tugran, empresa permissionária
que desatendia as condições mínimas de segurança e
operacionalização do setor. A anunciada compra de 15 a 50 ônibus
da CMTC da Capital para dar o primeiro suporte à esperada Empresa
Municipal de Transporte e Trânsito (não se deve esquecer que no
projeto da Prefeitura essa empresa vai também cuidar do sistema de
trânsito), que numa etapa inicial estará subordinada à reativada
Emdec, revela que a Secretaria Municipal de Transportes caminha lenta
e decididamente para impor uma visão ideológica extremamente
duvidosa.
A intervenção na Tugran foi
muito mais um ato de desespero do Poder Público, impotente diante da
péssima qualidade do serviço prestado pela empresa. Hoje, a
Prefeitura investe elevada soma de recursos todos os meses para
assegurar as despesas que não são cobertas pela tarifa. Além
disso, a deterioração da frota é também, em grande parte,
resultante da falta de pavimentação dos trechos onde situam-se as
linhas. Isto significa que de pouco adiantará a compra de novos
ônibus sem um plano global de gerenciamento do sistema, numa
administração onde o secretário municipal de Transporte, Laurindo
Junqueira Filho, praticamente desconhece a realidade dos bairros e
evita de todas as formas visitar pessoalmente essas regiões.
A demora do aprendizado da
equipe da Prefeitura responsável pela área dos transportes sofre a
influência dos percalços construídos pelas divisões internas do
PT que, pouco a pouco, vai se omitindo cada vez mais dos grandes
temas administrativos. Toda suspeita aponta para a continuidade de
graves dificuldades para a Prefeitura superar os obstáculos no setor
dos transportes coletivos. Seja pela imaturidade como o assunto é
tratado, seja pela falta de vontade política em priorizar essa
questão, seja pela influência ideológica que amarra a implantação
de um projeto para reduzir os transtornos cotidianos do usuário.
A administração municipal se
vê perdida diante dessa tumultuada realidade, acometida de uma
perplexidade com a inoperância do PT no trato dos serviços
públicos. A insistência com que admitem a salvação do sistema de
transporte mediante a aprovação da Empresa Municipal de Transporte
e Trânsito (cujo projeto carrega ilegalidades e acusa a intenção
de se montar um outro cabide de empregos) sujeita a administração
municipal a críticas severas.
Hoje, essas atitudes denunciam
a falta de capacidade da administração pública em impor aos
empresários permissionários dos serviços de transporte o
cumprimento dos contratos que exigem mínimas condições de
operacionalidade. A fiscalização da Prefeitura é falha e os
resultados obtidos com essa prática são sofríveis. Isto é, as
empresas são mal fiscalizadas, recorrem das multas aplicadas e
continuam operando em situação de descalabro. Motoristas, por
exemplo, começam a dirigir sem qualquer preparo; os usuários
reclamam constantemente das altas velocidades, as freadas bruscas, as
curvas feitas sem qualquer cuidado. Os ônibus sujos, com atrasos nos
horários e muito mais.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de abril de 1990)
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