Thursday, March 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - As "vidraças" do PT


As “vidraças” do PT


Pedro J. Bondaczuk

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, admitiu, dias atrás, que vai utilizar, doravante, em sua propaganda eleitoral, os “pontos fracos” dos governos do PT, estaduais e/ou municipais, para tentar reverter a grande desvantagem que tem, em relação a Luiz Inácio Lula da Silva, em todas as pesquisas de opinião, com vistas às eleições presidenciais de 6 de outubro próximo. Está no seu direito, desde que não distorça os fatos.

Entre as administrações que, no seu entender, são símbolos da ineficiência petista, o ex-ministro da Saúde citou, especificamente, a do Estado do Rio de Janeiro, da governadora Benedita da Silva; a de Marta Suplicy, na cidade de São Paulo e a de Izalene Tiene, em Campinas. Se a estratégia vai ou não dar certo, é coisa para se conferir dentro de mais dois meses no máximo. É inegável, todavia, que os administradores citados vêm enfrentando sérias dificuldades em suas gestões, por razões várias, mas principalmente por graves deficiências de comunicação do Partido dos Trabalhadores com a sociedade.

Aliás, esse tem sido o grande problema do PT, quando assume o poder, em qualquer de suas instâncias. O partido é deficiente na divulgação de suas realizações. Comunica-se pouco, e mal, com a população, na maior parte das vezes por simples arrogância da sua cúpula. Por causa disso, quase sempre transforma-se em tentadora “vidraça” para as “pedras” dos adversários. E agora, numa disputa tão acirrada pela Presidência, não haveria de ser diferente. O PT, nessa guerra de propaganda, por seu lado, também não vai poupar as administrações tucanas, notadamente a do presidente Fernando Henrique Cardoso. O jogo político é assim mesmo. Quem o joga, não é nenhum anjinho e, na maioria das vezes, toda tática tendente a desgastar o antagonista é considerada válida.

Outra atitude que pega muito mal junto aos eleitores é o constante estado de beligerância entre as diversas correntes petistas, algumas tão inimigas que parecem partidos dentro do partido, com ideologias que dão a impressão de ser diametralmente opostas umas das outras. Não são! O que têm de diferente é somente a retórica, a fraseologia, o “blá-blá-blá”. Parece, por exemplo, ser o caso de Campinas. Izalene Tiene vem enfrentando, praticamente desde o primeiro dia no poder, sistemática e ferrenha oposição de setores influentes do próprio PT, que se dizem “afinados” com as propostas de palanque do saudoso prefeito Antonio da Costa Santos.

Cobram, da prefeita, postura, senão igual, pelo menos semelhante à do antecessor. Isso, contudo, é, senão impossível, bastante improvável. Embora ambos fossem do mesmo partido, integrassem a mesma chapa e ganhassem juntos a mesma eleição, tanto seus temperamentos, quanto o estilo de administrar de cada um (e até sua formação política), apresentam marcantes diferenças. Seria o caso (para o bem da cidade) que se desse um voto de confiança (ou quantos fossem necessários) a Izalene, para que ela não ficasse isolada (e nem acuada) como parece estar. O que pretendem os que lhe fazem oposição gratuita, sistemática e sem tréguas? Minar sua administração? Desacreditar o PT? Desestabilizar a candidatura Lula? Que interesses representam? Os de Campinas, certamente, é que não são!

A prefeita precisa de tranquilidade para governar. Necessita da confiança da população. Requer, sobretudo, ajuda. É administradora não do PT ou de qualquer de suas alas. Comanda a cidade, patrimônio comum de todos nós! Críticas, obviamente, são válidas e até indispensáveis. Porém as construtivas, as pertinentes, as que venham, preferencialmente, acompanhadas de sugestões para resolver as questões mais intrincadas que afetam a comunidade. Afinal, a prefeita está há menos de nove meses no governo. Ninguém, em tão curto tempo, faz milagres. Tem ainda dois anos e três meses de gestão pela frente. Muito pode (e precisa) ser feito, em favor da cidade, nesse tempo. Isso somente será possível, porém, se o governo não for sabotado.

Entre os vários casos de sabotagem à administração municipal (muitos dos quais velados), a recente greve dos servidores municipais é o exemplo mais característico. Por mais que os líderes da paralisação tentem negar, o movimento teve caráter meramente político. Tratou-se de claro ato de sabotagem, não à prefeita, é mister destacar, mas à cidade que ela governa. Se intencional ou não, fica por conta do julgamento de cada um. Foi, porém, mais, muito mais do que simples ação reivindicatória legítima de trabalhadores, conforme o sindicato da categoria propalou aos quatro ventos.

A greve pecou tanto nos objetivos, quanto na oportunidade. E principalmente na maneira com que se desenvolveu. Resultado? Pra lá de medíocre! Os grevistas tumultuaram, por uma semana, toda a cidade, afetando serviços públicos essenciais, para exigir um reajuste irreal, impossível de ser concedido nas atuais circunstâncias (mesmo admitindo que fosse justa a reivindicação), face à Lei de Responsabilidade Fiscal em vigor e que sabiam, de antemão, que não lhes seria dado. Abriram mão, por outro lado, de um aumento de salários razoável, bem maior do que qualquer outra prefeitura do Estado concedeu aos seus funcionários, oferecido por Izalene. Não se tratou, portanto, de uma greve por “questões salariais”. Mas, ao porem fim à paralisação, sem ver atendidas suas exigências, admitiram, tacitamente, a inoportunidade do movimento. Não usem mais Campinas como mote de campanha presidencial! Não dessa maneira! O perdedor não será Lula e nem o PT. Será, sem dúvida, a sofrida e paciente população campineira! E isto é inconcebível.

(Editorial da Folha do Taquaral publicado em 4 de junho de 2002).




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