As “vidraças” do PT
Pedro J. Bondaczuk
O
pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra,
admitiu, dias atrás, que vai utilizar, doravante, em sua propaganda
eleitoral, os “pontos fracos” dos governos do PT, estaduais e/ou
municipais, para tentar reverter a grande desvantagem que tem, em
relação a Luiz Inácio Lula da Silva, em todas as pesquisas de
opinião, com vistas às eleições presidenciais de 6 de outubro
próximo. Está no seu direito, desde que não distorça os fatos.
Entre
as administrações que, no seu entender, são símbolos da
ineficiência petista, o ex-ministro da Saúde citou,
especificamente, a do Estado do Rio de Janeiro, da governadora
Benedita da Silva; a de Marta Suplicy, na cidade de São Paulo e a de
Izalene Tiene, em Campinas. Se a estratégia vai ou não dar certo, é
coisa para se conferir dentro de mais dois meses no máximo. É
inegável, todavia, que os administradores citados vêm enfrentando
sérias dificuldades em suas gestões, por razões várias, mas
principalmente por graves deficiências de comunicação do Partido
dos Trabalhadores com a sociedade.
Aliás,
esse tem sido o grande problema do PT, quando assume o poder, em
qualquer de suas instâncias. O partido é deficiente na divulgação
de suas realizações. Comunica-se pouco, e mal, com a população,
na maior parte das vezes por simples arrogância da sua cúpula. Por
causa disso, quase sempre transforma-se em tentadora “vidraça”
para as “pedras” dos adversários. E agora, numa disputa tão
acirrada pela Presidência, não haveria de ser diferente. O PT,
nessa guerra de propaganda, por seu lado, também não vai poupar as
administrações tucanas, notadamente a do presidente Fernando
Henrique Cardoso. O jogo político é assim mesmo. Quem o joga, não
é nenhum anjinho e, na maioria das vezes, toda tática tendente a
desgastar o antagonista é considerada válida.
Outra
atitude que pega muito mal junto aos eleitores é o constante estado
de beligerância entre as diversas correntes petistas, algumas tão
inimigas que parecem partidos dentro do partido, com ideologias que
dão a impressão de ser diametralmente opostas umas das outras. Não
são! O que têm de diferente é somente a retórica, a fraseologia,
o “blá-blá-blá”. Parece, por exemplo, ser o caso de Campinas.
Izalene Tiene vem enfrentando, praticamente desde o primeiro dia no
poder, sistemática e ferrenha oposição de setores influentes do
próprio PT, que se dizem “afinados” com as propostas de palanque
do saudoso prefeito Antonio da Costa Santos.
Cobram,
da prefeita, postura, senão igual, pelo menos semelhante à do
antecessor. Isso, contudo, é, senão impossível, bastante
improvável. Embora ambos fossem do mesmo partido, integrassem a
mesma chapa e ganhassem juntos a mesma eleição, tanto seus
temperamentos, quanto o estilo de administrar de cada um (e até sua
formação política), apresentam marcantes diferenças. Seria o caso
(para o bem da cidade) que se desse um voto de confiança (ou quantos
fossem necessários) a Izalene, para que ela não ficasse isolada (e
nem acuada) como parece estar. O que pretendem os que lhe fazem
oposição gratuita, sistemática e sem tréguas? Minar sua
administração? Desacreditar o PT? Desestabilizar a candidatura
Lula? Que interesses representam? Os de Campinas, certamente, é que
não são!
A
prefeita precisa de tranquilidade para governar. Necessita da
confiança da população. Requer, sobretudo, ajuda. É
administradora não do PT ou de qualquer de suas alas. Comanda a
cidade, patrimônio comum de todos nós! Críticas, obviamente, são
válidas e até indispensáveis. Porém as construtivas, as
pertinentes, as que venham, preferencialmente, acompanhadas de
sugestões para resolver as questões mais intrincadas que afetam a
comunidade. Afinal, a prefeita está há menos de nove meses no
governo. Ninguém, em tão curto tempo, faz milagres. Tem ainda dois
anos e três meses de gestão pela frente. Muito pode (e precisa) ser
feito, em favor da cidade, nesse tempo. Isso somente será possível,
porém, se o governo não for sabotado.
Entre
os vários casos de sabotagem à administração municipal (muitos
dos quais velados), a recente greve dos servidores municipais é o
exemplo mais característico. Por mais que os líderes da paralisação
tentem negar, o movimento teve caráter meramente político.
Tratou-se de claro ato de sabotagem, não à prefeita, é mister
destacar, mas à cidade que ela governa. Se intencional ou não, fica
por conta do julgamento de cada um. Foi, porém, mais, muito mais do
que simples ação reivindicatória legítima de trabalhadores,
conforme o sindicato da categoria propalou aos quatro ventos.
A
greve pecou tanto nos objetivos, quanto na oportunidade. E
principalmente na maneira com que se desenvolveu. Resultado? Pra lá
de medíocre! Os grevistas tumultuaram, por uma semana, toda a
cidade, afetando serviços públicos essenciais, para exigir um
reajuste irreal, impossível de ser concedido nas atuais
circunstâncias (mesmo admitindo que fosse justa a reivindicação),
face à Lei de Responsabilidade Fiscal em vigor e que sabiam, de
antemão, que não lhes seria dado. Abriram mão, por outro lado, de
um aumento de salários razoável, bem maior do que qualquer outra
prefeitura do Estado concedeu aos seus funcionários, oferecido por
Izalene. Não se tratou, portanto, de uma greve por “questões
salariais”. Mas, ao porem fim à paralisação, sem ver atendidas
suas exigências, admitiram, tacitamente, a inoportunidade do
movimento. Não usem mais Campinas como mote de campanha
presidencial! Não dessa maneira! O perdedor não será Lula e nem o
PT. Será, sem dúvida, a sofrida e paciente população campineira!
E isto é inconcebível.
(Editorial
da Folha do Taquaral publicado em 4 de junho de 2002).
No comments:
Post a Comment