Sunday, March 04, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sucessão e governabilidade


Sucessão e governabilidade



Pedro J. Bondaczuk


O esboço das campanhas, com vistas à sucessão presidencial, nas eleições de outubro do ano que vem, traz à baila, novamente, a importante questão da governabilidade, em um país que requer uma reforma política ampla, urgente e inadiável que, entre outras coisas, institua a fidelidade partidária.

Sem esse dispositivo regulador, qualquer maioria que o eleito tiver, no dia da posse, pode se esvair como fumaça, de uma hora para outra, em um piscar de olhos, com parlamentares mudando de partido ao seu bel prazer, de acordo com interesses particulares, como ocorre atualmente, frustrando as expectativas daqueles que os elegeram. Essa situação produz permanente instabilidade institucional, gerando crises de proporções impossíveis de se dimensionar.

É muito importante, senão indispensável, que o sucessor de Fernando Henrique Cardoso, que emergir das urnas, em 2002, possa contar com uma bancada majoritária no Congresso Nacional. Só assim terá a garantia de aprovação das leis necessárias para a implantação do seu programa de governo. Ou que pelo menos tenha, no Parlamento, confortável maioria de deputados e senadores afinada com suas propostas, de preferência da mesma tendência ideológica, com os quais possa dialogar em alto nível e firmar alianças permanentes, que durem por todo o mandato.

Sem a fidelidade partidária, essa pretensão torna-se quase irrealizável. Sem maioria na Câmara Federal e no Senado, o novo presidente eleito no ano que vem terá muitas dificuldades, talvez até insuperáveis, para governar. Será forçado, se não quiser ficar com as mãos atadas, a estabelecer negociações que, no Brasil, costumam adquirir características pouco políticas e nada éticas. Nesse caso, ou barganha apoios inseguros e quase sem nenhuma garantia, em troca de ministérios, secretarias e cargos nos segundo e terceiro escalões do governo (ou outras vantagens quaisquer), ou não consegue aprovar coisa alguma. E as Medidas Provisórias que editar vão perder validade após uma única reedição (limite imposto pelas recentes mudanças aprovadas pelo Congresso regulando as Mps.).

Já faz parte da cultura (ou falta dela?) política do brasileiro dar pouca, ou nenhuma importância, às eleições para a Câmara Federal e o Senado, centralizando todas as atenções na escolha presidencial. Ambas, no entanto, estão, como se vê, estreitamente entrelaçadas. Como tudo leva a crer que até outubro de 2002 não será aprovado nenhum projeto instituindo a fidelidade partidária no País (o que é uma pena), o eleitor vai precisar estar mais atento do que nunca na necessidade de, junto com o sucessor de FHC, eleger também uma bancada majoritária, do mesmo partido do novo presidente da República. Até para que o cargo não se constitua em uma armadilha para o vencedor, não se esvazie a sua autoridade e o governo não se veja imobilizado por algum possível (e no caso bastante provável) impasse institucional.

Outro ponto, que precisa ser bem observado, é a vida pregressa dos candidatos, para que não sejam guindados ao Parlamento bandidos travestidos de políticos, que se candidatem apenas para se livrar da Justiça e que acabem cassados por falta de decoro parlamentar, como ocorreu fartamente nesta legislatura.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do jornal Notícias Metropolitanas, em 18 de julho de 2001).

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